Especialista em felicidade corporativa discute a importância das empresas pensarem no bem-estar dos colaboradores, valorizando relações de trabalho e equilíbrio entre vida pessoal e profissional

A expressão do momento, aquela tendência que acabou de chegar ao mercado, uma notícia que tem chamado atenção, uma trend que viraliza nas redes ou até uma nova regulamentação. Se o tema está quente, é melhor não ficar para trás. Mas nem sempre conseguimos ir na esteira das novidades e entender tudo que tem acontecido no mundo do RH.
A roda gira, e às vezes bem rápido. Esta seção de Cajuína traz os assuntos mais frescos do universo de quem trabalha com gente.
Na pauta dessa semana, vamos falar sobre a expressão “nem todo mundo tem as mesmas 24 horas“ e explicar por que você precisa ficar sabendo desse assunto.
Em muitas situações pessoais ou profissionais, as pessoas utilizam a falta de tempo como justificativa para algo não ter acontecido – seja uma reunião específica, um projeto ou até mesmo aquele encontro entre amigos.
De tanto ser usada, o motivo passou a soar como desculpa barata para muita gente, a ponto de cair na mira de influenciadores e coaches, que passaram a criar um slogan dizendo que todos têm as mesmas 24 horas por dia – deixando a entender que o problema não é a falta de tempo, mas sim a falta de vontade.
Nos últimos tempos, porém, você talvez tenha se deparado com uma reação a esse movimento, dizendo que nem todo mundo tem as mesmas 24 horas por dia. É algo que pode acontecer, por exemplo, com quem mora longe do escritório e precisa se deslocar por horas até chegar ao trabalho, ou com quem precisa equilibrar tarefas domésticas ou cuidados com um dependente com o ofício de cada dia.
A conversa não é nova, mas ganhou novo fôlego nas redes sociais nos últimos tempos, especialmente com a retomada do trabalho presencial após a pandemia. Afinal de contas, durante a covid-19, muita gente percebeu que conseguiria desempenhar as mesmas tarefas sem precisar passar horas no trânsito ou no transporte público lotado – algo que afeta a qualidade de vida e também a produtividade média.
Mais do que um papo de LinkedIn, é uma conversa que interessa muito ao RH e às lideranças. Segundo dados de um estudo da CNI, 36% da população brasileira passa mais de uma hora por dia no trânsito, com pelo menos 1 em cada 5 pessoas gastando entre uma e duas horas para ir e voltar do trabalho. Em grandes cidades, esse número pode ser ainda maior: na Grande São Paulo, por exemplo, a população gasta em média 2h26 para se locomover diariamente. É tempo que poderia ser usado em muitas tarefas – inclusive, no descanso.
Entender que cada colaborador tem uma realidade diferente é vital para o RH. Para começo de conversa, é um ponto de partida importante na conversa sobre a definição de um modelo de trabalho, entre o remoto e o presencial.
Seja qual for o modelo escolhido, é importante entender o impacto que ele causa nas pessoas. Se um colaborador precisar passar 1h30 no transporte público lotado, será que ele vai render o esperado? Será que ele vai se sentir engajado dentro do dia a dia?
Há quem afirme que a solução para quem decide pelo modelo presencial é contratar apenas pessoas que morem perto do escritório. É uma ideia ruim: contratar gente que vive em diferentes lugares significa aumentar a diversidade da equipe, em termos de visão de mundo e pensamento, algo que é particularmente importante se o negócio tiver uma relação intrínseca com o lugar onde está a empresa, como varejo, restaurantes ou empresas prestadoras de serviços.
Cabe ao RH entender como pode reduzir o impacto desse problema. Se o trabalho híbrido é uma possibilidade, ele pode auxiliar bastante a produtividade de algumas pessoas. Ter políticas flexíveis quanto a horários de entrada e saída também pode fazer a diferença, ajudando os colaboradores a sair dos momentos de congestionamento ou lotação máxima.
Além disso, pensar em um modelo que crie condições diferenciadas em dias de chuva ou calor extremo pode ajudar muito na forma como as pessoas trabalham. O assunto também se espalha para benefícios, considerando temas como vale transporte, cartão mobilidade ou até mesmo serviços que facilitem o dia a dia – como um ônibus fretado que saia de uma estação de metrô para auxiliar na última milha do trajeto.
Outro ponto importante está ligado diretamente às lideranças, que também devem estar preparadas para lidar com o assunto. Em muitos casos, gestores insensíveis a esses obstáculos diários de cada pessoa podem gerar um problema de engajamento, ou até uma sensação de “nós vs. eles” que não só é desagradável como pode incendiar outras questões no escritório.
Mais do que apenas um papo para engajar nas redes, compreender que nem todos têm as mesmas 24 horas é mostrar um RH empático, atento aos colaboradores e que busca, sem exageros, extrair o melhor das pessoas. Já tirou um tempo pra pensar nisso?
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