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Por que estão falando tanto de… coffee badging

Uma versão repaginada do presenteísmo ou um sintoma de algo mais profundo? Apesar de parecer superficial, o “coffee badging” é uma resposta importante à rigidez que tem sido instituída no retorno ao modelo presencial de trabalho.

Izabela Linke
14 de março de 2024
Leia emminutos
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O que você precisa saber

Com cada vez mais empresas convocando funcionários de volta ao presencial (mesmo no formato híbrido, que exige a ida ao escritório físico algumas vezes na semana), muitos trabalhadores estão encontrando formas de “adaptar” o tempo que realmente passam por lá.

Isso inclui o que ficou conhecido como “coffee badging”, uma recente adição à longa lista de termos e marcos linguísticos das transformações que vivemos após o surgimento da COVID-19, como “quiet quitting”, “great resignation”, “quiet firing”, resenteísmo e outros 

A tendência foi se fortalecendo no final do ano passado e ganhou até espaço entre criadores de conteúdo no TikTok. Funciona assim: funcionários vão ao escritório, pegam um café e passam um tempo conversando com colegas pelos corredores. Então, depois de um tempo, voltam para casa para continuar trabalhando em formato remoto. Por terem ido à empresa, ganham um “selo” fictício, uma espécie de reconhecimento por terem comparecido. Foram vistos por lá, e é o que importa.

Apesar de parecer algo simples e superficial, o “coffee badging” é uma resposta importante à rigidez que tem sido instituída no retorno ao presencial, malvisto por muitos que acreditam que esse modelo vai totalmente na contramão do remote first e da flexibilidade que parecia se consolidar, e comprovar sua eficácia, durante e após a pandemia.

De acordo com uma pesquisa da Infojobs com o Grupo Top RH, feita em abril de 2023, 85% dos profissionais dizem que trocariam de emprego caso a posição permitisse mais dias de home office — uma alternativa nem sempre possível para todos, especialmente no contexto atual do mercado brasileiro.

Os dados também apontam que 58,3% dos profissionais se sentem menos produtivos ao final de um dia de trabalho presencial,  e para 64,4% dos entrevistados, a qualidade de vida piorou ao voltar para o escritório.

O famoso debate sobre o presencial, híbrido ou remoto está longe de chegar ao fim, mas aqui a mensagem é clara: se seus funcionários estão aparecendo apenas para que a liderança possa “ver” que estão trabalhando, isso não é necessariamente uma coisa boa.

O que isso significa para o RH

O “coffee badging” é um desdobramento moderno de um conhecido de muitos RHs: o presenteísmo. As pessoas comparecem pela obrigação imposta pelo empregador, mas isso não significa que estão sendo produtivas ou engajadas. 

O abismo que se forma entre as duas partes, empresa e funcionário, parece crescer nesse “jogo de poder”. Líderes lançam as cartas do presencial, e o trabalhador devolve com uma presença vazia, mas que cumpre o requisito exigido.

Porém, as pessoas estão praticando o “coffee badging” por várias razões. Enquanto algumas razões e comportamentos podem ser realmente prejudiciais para a empresa ou para o trabalho, algumas não são tão ruins assim — e vale ter atenção a elas:

  • As pessoas são forçadas a ir ao escritório e conviver em um ambiente ruim

A obrigação de voltar ao presencial não incomodou a todos, mas incomodou bastante a alguns. Por mais que um funcionário esteja tranquilo em passar o dia no escritório, ele será obrigado a conviver com outros que não estão, e podem contaminar o ambiente, a cultura e o clima organizacional.

  • As pessoas na sua empresa são recompensadas pelos motivos errados

Se as lideranças da empresa fomentam uma cultura que valoriza e reconhece apenas aqueles funcionários que são vistos, as pessoas vão sentir que essa é a única maneira de receber uma boa avaliação ou serem considerados para uma promoção ou um destaque, por exemplo.

  • Aparecer por algumas horas é o caminho mais fácil

Sem ter que se esforçar, argumentar ou resistir às políticas do presencial, é mais fácil aparecer e “bater o cartão”, mesmo que isso não signifique trabalhar de fato. Esse é um dos motivos que escancara mais o desengajamento.

  • As pessoas se sentem pressionadas a comparecer ao escritório

Se o discurso da empresa pressiona as pessoas a estarem ali, dando a entender que serão malvistas ou desconsideradas se não forem, elas vão estar — especialmente porque a maioria não pode se dar ao luxo de perder o emprego. Mas políticas rígidas, que cobram presença em um espaço físico, recebem apenas isso: a presença.

  • As pessoas realmente gostam do “cafezinho” da empresa

E não estamos falando do café de fato — apesar de ser uma possibilidade se o café do escritório for especial —, mas da oportunidade de socialização e de uma conexão social mais significativa com pares e lideranças.

A prática do “coffee badging” pode não ser uma coisa tão ruim se os seus funcionários estão realmente fazendo seu trabalho bem e sendo produtivos em outro lugar. Resta entender como a empresa e, especialmente, as lideranças estão conduzindo as coisas.

Se “só quem é visto é lembrado”, a empresa está de fato recompensando performance e produtividade? O espaço físico do escritório é acessível, confortável e de fato ajuda a realização do trabalho? Se o home office tem equipamentos melhores, além de mais ergonomia, por exemplo, como convencer os funcionários a estarem no escritório para mais do que um “cafezinho”?

A ida eventual ao escritório pode ser muito bem aproveitada se for usada como um momento de atualização, compartilhamento de informações e construção de conexões. Desde que os funcionários usem bem esse tempo de presença, e os objetivos deles e da empresa estejam sendo alcançados, não importa se eles ficam lá por duas horas por dia ou o dia inteiro.

A verdade é que o “coffee badging” não é, em si, um problema a ser resolvido. Ele é um sintoma, uma adaptação daqueles profissionais que querem navegar melhor pela rigidez crescente que está sendo retomada nos horários e espaços de trabalho.

Se os seus funcionários estão apenas fazendo um check-in porque a empresa exige que façam, considere começar um diálogo, reavaliar as políticas atuais e refletir sobre as demandas e novas realidades do modelo de trabalho, especialmente se a sua empresa também preza pela diversidade e inclusão. Quando o movimento da empresa é de abrir a conversa, a tendência é que os seus talentos respondam na mesma moeda.

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Jornalista, redatora e revisora que adora ouvir e contar histórias. Apoiando a estratégia de conteúdo da Caju, tem como missão levar informação de valor para a área de gestão de pessoas e contribuir para um mercado cada vez mais inovador e humano.