Na coluna de estreia para Cajuína, Raul Lores propõe uma discussão sobre modelo de trabalho e liderança

Quanto tempo seus colaboradores levam para chegar ao escritório da empresa? Essa pergunta guiou o grupo OLX na escolha do novo endereço de seu escritório. A localização na Avenida Paulista foi escolhida a partir de um levantamento realizado pelo DataZAP, solução de inteligência de dados do grupo. Foram cruzados os CEP de 626 endereços dos trabalhadores que moram na região metropolitana de São Paulo e seus respectivos tempos de deslocamento para os potenciais escritórios avaliados, por meio de coordenadas geográficas (latitude e longitude).
“Há estudos que mostram que os paulistanos gastam até duas horas e meia por dia no trajeto de casa ao trabalho, afetando sua qualidade de vida e produtividade. Se a empresa deseja maximizar o potencial dos funcionários, precisa criar condições para isso”, afirma Christiane Berlinck, vice-presidente de Recursos Humanos do Grupo OLX a Cajuína.
Com a mudança de escritório, os colaboradores economizam cerca de 40 minutos de deslocamento em dias de trabalho presencial – hoje, a empresa de 1,4 mil pessoas atua no modelo flexível, até porque boa parte de seu time está fora do Estado de SP. O transporte público foi um fator preponderante para a escolha: a partir dos principais eixos de transporte metro-ferroviário, foram identificados potenciais locais para o novo escritório. Isso porque, segundo a pesquisa Origem-Destino de 2023, feita pelo Metrô de São Paulo, 53% dos deslocamentos na cidade utilizam metrô e trem como principal meio de transporte. O relatório final apontou que o melhor lugar para montar a sede da empresa era a região da Bela Vista, bem servida de linhas de ônibus e metrô.
Com 80 posições de trabalho tradicionais disponíveis, o novo escritório da OLX foi concebido para comportar até 200 pessoas para eventos e trabalhos colaborativos. A mudança de endereço fez a frequência dos colaboradores dobrar, passando de 50 para uma média de 100 pessoas presentes todos os dias no espaço. “Estávamos em um espaço que não estimulava trocas. Não estimulava que o colaborador circulasse e se conectasse com pessoas de outras áreas. Em nossa nova sede, voltamos a fazer eventos que promovem essa conexão”, afirma.
O espaço também foi pensado para que quem não está presente interaja com qualidade nas atividades promovidas pela empresa. As salas de reunião são equipadas com sistemas de videoconferência que utilizam inteligência artificial para supressão de ruídos e para enquadrar individualmente o rosto do colaborador durante as chamadas.
“Em nossa indústria e realidade, o modelo de trabalho flexível se encaixa bem, permitindo que os funcionários escolham onde trabalhar com base nas necessidades e no que precisa ser feito. Acreditamos que isso aumenta a produtividade e o bem-estar”, explica Christiane. A seguir, confira os principais trechos da entrevista
Até a pandemia, trabalhávamos no formato 100% presencial. Durante a crise sanitária, ficamos 100% remotos, obviamente. E quando chegou a hora de voltar, fizemos uma reflexão bastante importante e fomos ouvir a nossa equipe para entender o que fazia sentido. Vimos que, para a maioria, era importante ter um trabalho flexível. Antes da Covid-19, tínhamos um escritório bem grande, na rua Bela Cintra, com muitos andares, mas pouco convidativo para a colaboração e momentos de conexão. Nós o fechamos durante a pandemia e alugamos um coworking no Morumbi, mas depois entendemos que ele não atendia às nossas necessidades.
A primeira questão era a localização. O deslocamento é um grande problema em São Paulo. O endereço do escritório do Morumbi não era de fácil acesso para nossos colaboradores que moram na cidade. Temos pessoas em todo o território brasileiro, mas uma parte significativa fica em São Paulo. Outra questão era que o escritório não estava desenhado para promoção de encontros intencionais e um modelo flexível. Precisávamos de um lugar que tivesse espaços colaborativos que promovessem encontros, debates e discussões.
Nosso primeiro ponto era encontrar um endereço com uma malha de transporte mais favorável. Para isso, usamos nossa ferramenta, que utiliza a inteligência de dados para cruzar os CEPs de todos os colaboradores e entender quanto tempo gastariam de suas casas até o escritório. Foi assim que concluímos que o local ideal seria a Avenida Paulista, porque seria o mais acessível a todos.
O projeto do novo escritório também foi idealizado com base na nossa cultura, que promove a conexão por meio de uma comunicação fluida e transparente entre nossos colaboradores, com base no bem-estar. Você entra nas salas de reunião e tem quatro pessoas na sala fazendo uma colaboração com outras remotamente por vídeo. As salas de reunião possuem uma tecnologia que capta sua voz sem ruído, então, você consegue realmente fazer um trabalho híbrido com qualidade. E isso era muito importante.
Gerou valor. Podemos ver por algumas métricas. A primeira é que dobrou a quantidade de pessoas indo ao escritório, de 50 para 100 todos os dias. No Morumbi, estávamos em um espaço que não tinha o nosso DNA, que não estimulava necessariamente você a circular no cafezinho e encontrar outra pessoa de uma área diferente para se conectar. Agora, voltamos a fazer eventos e happy hours. Outro dado que notamos é, a percepção de orgulho do time. Avaliamos por métricas de employer branding em mídia social como a mudança gerou pauta entre os colaboradores, deles se orgulharem do espaço que têm e das conexões que fazem.
Damos realmente atenção ao modelo de trabalho flexível, onde a conexão é importante, mas ela tem de ser intencional. O ambiente importa e a vontade das pessoas de ir também. Se você leva três horas para se locomover — e há estudos que mostram que o paulistano demora cerca de duas horas e meia no transporte todos os dias — esse tempo é jogado fora. Não faz sentido. Isso é um tema de produtividade e de bem-estar. Se colocamos o bem-estar como pilar e DNA da nossa cultura, temos que substanciar isso com ações concretas e símbolos. E a mudança de endereço é um símbolo.
Porque isso afeta a qualidade de vida e a produtividade dos colaboradores. O colaborador chega mal-humorado no trabalho porque gasta tempo e energia no deslocamento. Não fez nada para si, nem para o trabalho. Se a empresa tem por objetivo fazer com que as pessoas produzam seu máximo potencial, ela tem que dar condições para que isso aconteça. E o escritório é uma dessas condições. Na nossa indústria, para a nossa realidade, o modelo de trabalho flexível se encaixa muito bem, conseguimos fazer esse match.
É uma pergunta polêmica. Cada um tem uma opinião. Acredito que a cultura se sustenta mesmo no remoto. Porque o escritório é um dos símbolos, mas não é o único. Os símbolos estão em muitos lugares: na forma como a empresa se comunica, como a liderança age, como a empresa trata os colaboradores, como os reconhece, como eles contribuem, e como você atrai os profissionais e faz todo o processo de onboarding. Agora, claro que também reconheço que o ser humano é um ser social. E precisamos nos conectar com outros seres humanos, independentemente do trabalho. Na minha opinião, o flexível é realmente maravilhoso, porque conseguimos avançar em um equilíbrio de trabalho e qualidade de vida em cidades como São Paulo.
Acredito que a cultura se sustenta mesmo no remoto. Porque o escritório é um dos símbolos, mas não é o único.
Algumas empresas já me procuraram sobre isso. O interesse é saber como nós, a partir da necessidade da nossa equipe, pensamos em um lugar que faça com que essas pessoas tenham vontade de ir — sobre toda a inteligência que usamos. Porque é quase óbvio: se queremos que as pessoas se conectem mais, estejam de uma maneira mais intencional no escritório, o ambiente tem que ser bom, mas tem que ser fácil chegar até ele.
Recentemente, li Pensamento Eficaz, de Shane Parrish, e adorei. O livro explora como nossos vieses influenciam nossas decisões e como tomar decisões mais claras molda nosso futuro de maneira consistente com nossos objetivos.
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