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Como funciona o voluntariado corporativo na CCR

Ações solidárias já atingem 1,3 mil colaboradores da companhia de infraestrutura e transporte; iniciativas ajudam não só a comunidade, mas também no desenvolvimento de habilidades e integração entre áreas

Bruno Capelas
23 de outubro de 2023
CCR voluntariado corporativo
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Ajudar o próximo é uma atividade que muita gente costuma fazer nas horas vagas. Mas, na CCR, empresa de infraestrutura, transporte e serviços que cuida de algumas das rodovias e linhas de transporte público mais movimentadas do país, o voluntariado também faz parte da estratégia corporativa: por meio do Instituto CCR, a empresa organiza ações de solidariedade para as comunidades próximas das áreas em que atua, ao longo de 12 Estados brasileiros.

Mais do que apenas impacto social, porém, as ações se revertem em múltiplos benefícios para a empresa: do desenvolvimento de competências e habilidades até a integração e entrosamento das áreas em projetos “mão na massa”, passando pela possibilidade de colaboradores mais jovens ou de áreas operacionais desempenharem funções de liderança. “Há casos até em que os líderes acabam recrutando colaboradores para suas áreas depois de uma atividade de voluntariado”, conta Patrícia Anacleto, gerente de gente da CCR.

Na entrevista a seguir para a seção Como Faz, Patrícia e Renata Macedo, analista de responsabilidade social do Instituto CCR, falam sobre a experiência do programa de voluntariado da companhia, que já envolveu 1,3 mil colaboradores em seu primeiro ano de existência – ao todo, a CCR emprega 17 mil pessoas no Brasil. Nos próximos parágrafos, lições de como atrair os colaboradores, resultados das iniciativas e reflexões sobre como a infraestrutura de uma empresa pode potencializar ações solidárias.

Por que trabalhar com questões sociais é importante para a CCR? Como começou o trabalho com voluntariado junto aos colaboradores?

Renata: Historicamente, a CCR já tem um papel de desenvolver comunidades onde atua e o voluntariado é mais uma oportunidade de fazer isso nos 12 Estados em que estamos presentes. No passado, nós tínhamos ações pontuais, como campanhas educativas ou de doação de sangue, e hoje coordenamos tudo por meio do Instituto CCR, a fim de desenvolver para o colaborador esse papel de protagonista social. Aproveitamos a capacidade de fornecer infraestrutura para o colaborador participar, ao mesmo tempo em que o voluntariado também nos traz uma oportunidade de desenvolver habilidades e competências. O voluntariado também tem muito a ver com o nosso propósito.

Patrícia: Falando do ponto de vista interno da CCR, nós temos um traço muito forte dentro da empresa, que é o espírito de servir – e que não vale só para dentro, mas também para fora da empresa. Quem chega aqui encontra uma empresa muito acolhedora, estamos a serviço da população em todos os nossos modais. É um traço forte que potencializa nosso programa de voluntariado.

Aproveitamos a capacidade de fornecer infraestrutura para o colaborador participar, ao mesmo tempo em que o voluntariado também nos traz uma oportunidade de desenvolver habilidades e competências.

Renata, um dos pontos mais interessantes do voluntariado corporativo é a ideia de que, com a infraestrutura da empresa, ações feitas de forma individual acabam sendo potencializadas. Vocês têm uma noção de quanto essas ações se tornam maiores ou mais eficientes por conta do apoio da CCR?

Nós decidimos implantar um sistema de voluntariado exatamente para conseguirmos medir esses indicadores. Em essência, sabemos que todo mundo tem vontade de ajudar, mas nem todos conseguem organizar seu tempo. Aqui, temos um sistema que nos ajuda a entender as pessoas, seus cargos, perfis e quais atividades eles gostam mais de fazer. Realizamos muitas ações de educação, como aulas de Excel ou mentorias, por exemplo. É um sistema que nos permite planejar para onde vamos, e também que permite que os colaboradores indiquem ações e instituições.

Começamos a usar esse sistema há um ano, e já temos 1,3 mil colaboradores atuando em voluntariado, com 18 instituições sugeridas apenas no primeiro mês de funcionamento do sistema. É um sistema que só tende a crescer nos próximos anos, ajudando a gente a balizar os inputs dos colaboradores e também mostrando o que é estratégico para nós, como empresa que quer desenvolver a sociedade.

Patrícia, como é o trabalho do RH em trazer as pessoas para o voluntariado, considerando um contexto em que as rotinas de trabalho são cada vez mais puxadas, dinâmicas e demandantes? Como convencer o colaborador a utilizar mais horas dele em uma ação da empresa?

É uma jornada, uma realidade que a gente vive e um desafio que a gente tem. Se as pessoas tivessem mais tempo, talvez elas se dedicassem muito mais ao voluntariado. Esse desafio chega também em um momento em que a gente traz uma nova estratégia da companhia, com um olhar sistêmico e que foca nos pilares de ESG, além dos resultados tangíveis, trazendo também os resultados intangíveis. E isso passa pelo propósito, não só da empresa, mas também dos colaboradores.

Além do princípio de servir à sociedade, que eu já comentei, outros aspectos que a gente discute muito são o protagonismo do colaborador e a colaboração. Queremos olhar para onde vamos chegar como empresa e buscar coletivamente essas metas. E o programa de voluntariado traz esse exemplo, mostrando não só os resultados tangíveis, mas também o resultado para a sociedade e para os nossos colaboradores, porque eles têm um desenvolvimento pessoal ao longo dos projetos, seja de habilidades para o trabalho ou como ser humano. É algo que impacta o desempenho e a carreira das pessoas, bem como a relação dos colaboradores com a empresa – acreditamos que, no médio prazo, é algo que pode influenciar indicadores de retenção ao longo dos próximos anos, por exemplo.

Acreditamos que, no médio prazo, [o programa de voluntariado] é algo que pode influenciar indicadores de retenção ao longo dos próximos anos, por exemplo.

Programas de voluntariado podem trazer o desenvolvimento de soft skills, mas eventualmente até de hard skills. Nesse primeiro de ano, o que vocês conseguiram desenvolver nas pessoas?

Patrícia: A CCR é uma companhia bastante técnica, que surge da área de engenharia, então nós temos uma empresa muito forte do ponto de vista de hard skills. O complemento que o voluntariado faz, bem como programas de liderança, é justamente trazer um complemento de soft skills. Por outro lado, como a Renata disse, muitos dos nossos programas envolvem educação, como aulas de Excel ou mentorias, de maneira que também temos desenvolvimento de competências técnicas.

Renata: Uma das habilidades que as pessoas mais desenvolvem no programa é a capacidade de liderança. Nos programas de voluntariado, temos diversos perfis de profissionais, e acontece muito de um profissional júnior, até mesmo que exerça uma atividade operacional no dia a dia, acabar assumindo o comando de uma atividade, enquanto um gestor ou diretor vai para uma posição operacional.

O colaborador pode não ser líder no dia a dia, mas se sente confortável numa ação de voluntariado e acaba demonstrando sua capacidade de liderar; enquanto o líder fica ali aguardando um comando. Há casos até em que os líderes acabam recrutando colaboradores para suas áreas depois de uma atividade de voluntariado. Além disso, existe um aspecto de agir em situações de imediatismo: pode ser que uma atividade estivesse programada para ao ar livre, mas chove, e as equipes têm que se adaptar rapidamente. É um dos diferenciais do nosso programa e espero que a gente gere muitas promoções a partir do voluntariado.

Como funciona a divisão de carga horária para a participação no programa? E como é a liberação com os gestores para que os times possam participar?

Renata: A CCR abona até oito horas por ano de trabalho voluntário, em uma tarefa alinhada com o líder. Mas o nosso programa surgiu de cima para baixo: começamos com os líderes, para que eles entendessem que o programa de voluntariado traz valor para a companhia. Além disso, há um incentivo para que os líderes participem também. Não temos registro de nenhum caso de ruído até agora, de um colaborador querer participar e não ser liberado.

Além do desenvolvimento de capacidades, imagino que o programa de voluntariado também possa trazer um entrosamento entre áreas, porque as atividades juntam pessoas que nunca se viram antes. Isso tem acontecido na CCR?

Patrícia: Sim. Pude observar o último voluntariado que nós fizemos com a turma da holding CCR, que cuida do corporativo. É uma divisão mais “selada”, com cada área no seu quadrado. Mas quando eu vi as pessoas chegarem de volta do trabalho voluntário, percebi que tinha muita interação entre diferentes áreas, todo mundo conversando com a camiseta do programa, e isso tem gerado resultados internos. Acredito que as ações mais presenciais, in loco, vão gerar esse movimento.

Renata: A gente também tem descoberto os perfis de cada unidade, a partir do sistema. O pessoal da GBS, que é uma empresa de serviços do grupo que atua no interior paulista, gosta de atividades virtuais, trocando conhecimento com a comunidade. São mais de 200 voluntários ativos no grupo. Já na Bahia, os colaboradores são mais indiferentes à hierarquia e gostam de atividades mão na massa, mais físicas e operacionais. E o bacana é que nós conseguimos oferecer vários tipos de programas dentro da plataforma.

Como é a participação de homens e mulheres entre os voluntários da empresa? É uma proporção parecida com o corpo de colaboradores?

Patrícia: Hoje, nós temos 38% de mulheres no quadro geral da CCR. Já no programa de voluntariado, são 63% de mulheres. É um número alto, mas não sei se tem uma boa explicação para isso. É inclusive uma boa provocação, para a gente entender como consegue trazer mais os homens, ter um equilíbrio. Mas não temos uma estratégia para isso agora.

Renata: Nossa estratégia foi aumentar o máximo possível o alcance dos programas, para gente sentir quem espontaneamente viria pra nos ajudar. Usamos todos os canais possíveis para comunicar com os colaboradores. Acredito eu, numa opinião pessoal, que a mulher já tem essa característica grande de ajudar. Mas vamos avaliar nos próximos anos esse dado, porque não tivemos nenhuma estratégia específica para atrair esse ou aquele gênero.

Bruno Capelas é jornalista. Foi repórter e editor de tecnologia do Estadão e líder de comunicação da firma de venture capital Canary. Também escreveu o livro 'Raios e Trovões – A História do Fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum'.