Após investir em mentorias e jornadas de autoconhecimento, companhia criou trilhas para garantir que colaboradores ganhem conhecimento pessoal para além das habilidades técnicas; programa tem participação de assessoria especializada
Por que a BeFly criou um feriado próprio em um semestre ‘sem feriados’
Empresa de turismo permitiu que cada um dos 2,2 mil colaboradores escolhesse um dia ao longo do segundo semestre de 2024 para folgar; ideia era incentivar bem-estar, momentos de lazer e reforçar ligação com a cultura, mas ainda não está definido se proposta se repetirá em 2025
Todo fim de ano surge aquela conversa: “e aí, como vão ser os feriados no ano que vem?” 2024 foi uma temporada difícil para quem gosta de feriados prolongados, que ajudam a gerar uma pausa em meio à correria do dia a dia: no segundo semestre deste ano, a maioria das datas comemorativas caiu no sábado ou no domingo, deixando as semanas mais longas. De olho nessa situação, a companhia de turismo BeFly criou um programa diferente, permitindo que cada um dos 2,2 mil colaboradores pudessem escolher um dia entre 1º de agosto e 13 de dezembro para folgar.
Chamada de dia do Beflier, a ação envolvia estimular momentos de lazer e de bem-estar entre o time da empresa, que nasceu em 2021, como resultado de uma fusão entre duas companhias tradicionais do setor – a Belviture e a Flytour. “Como empresa de turismo, incentivamos que as pessoas viajem e tenham bem-estar”, explica Renata Esteves, diretora de Gente e Gestão da companhia.
Segundo ela, até o final de novembro, a ação teve adesão de 90% dos colaboradores – os restantes devem aproveitar seu dia nas próximas semanas, levando em consideração a divisão por datas. “Percebemos que se tivéssemos até 60 pessoas tirando folga por dia isso não afetaria a nossa capacidade de atendimento”, ressalta a executiva.
Na entrevista a seguir, Renata conta como a ação foi estruturada e quais os benefícios percebidos, ainda mais em um setor que costuma trabalhar enquanto todos estão de folga. Para 2025, cujo segundo semestre também terá muitos feriados caindo no final de semana, porém, a executiva revela que ainda não tem definição se o programa será repetido. “Nosso retorno este ano foi muito positivo, mas não há nada escrito em pedra”, diz a diretora de Gente e Gestão.
Os colaboradores são o principal ativo da companhia – e cuidar bem do colaborador, como defendo no conselho de administração, é cuidar bem dos nossos resultados.
Para começar, Renata: o que faz a BeFly?
A BeFly é um ecossistema de turismo, consequência de uma fusão em outubro de 2021 de duas empresas do setor: a Belviture e a Flytour. De lá para cá, nosso presidente também trabalhou na aquisição de mais de 30 unidades de negócios, voltadas para turismo, serviços em turismo e tecnologia. Em maio deste ano, lançamos nossa cultura e estamos fazendo ações de sustentação dos nossos valores. Foi nesse contexto que surgiu o dia do beflier, que é a ação que fizemos em torno dos feriados no segundo semestre.
Muito se fala que os feriados ‘atrapalham’ a rotina das empresas. Por que então criar um feriado justo num ano em que eles caem fora dos dias úteis?
Como empresa de turismo, nós incentivamos que as pessoas viajem e tenham bem-estar, tenham momentos de lazer em meio à rotina. Ao analisar o calendário do segundo semestre de 2024, reparei que não havia feriados prolongados e que isso impactaria nosso segmento. Propus ao presidente que a gente criasse um feriado só nosso. Lançamos um formulário para as pessoas escolherem em que dia elas queriam folgar, sem restrições, no período de 1º de agosto a 13 de dezembro. Entendemos, após algumas contas, que se até 60 pessoas escolhessem folgar num dia, não haveria impacto na operação.
Que tipo de atividades as pessoas aproveitaram para fazer nesse dia livre?
No formulário, nós pedimos para as pessoas dizerem porque estavam escolhendo aquele dia. Teve de tudo: casamento de parente no interior, aniversário de filho, lançamento de filme no cinema… até ficar em casa de pijama tinha.
Quais eram as limitações em torno das folgas? Alguém poderia tirar folga na terça e emendar uma segunda-feira, por exemplo?
Sim: se o colaborador tivesse horas acumuladas no banco de horas, podia emendar a segunda com a terça. Ou aproveitar a folga de aniversário, porque temos como benefício o day off de aniversário. Acredito que o melhor presente que uma empresa pode dar para uma pessoa no dia de aniversário é o dia todo para ela. Não colocamos regra justamente para dar flexibilidade – a única regra, na verdade, era a limitação de 60 pessoas por dia. E também o limite até o dia 13 de dezembro, porque depois já começam as comemorações e a alta temporada no turismo. Até o final de novembro, 90% dos colaboradores já tiraram seu dia do beflier, em uma das taxas de engajamento mais altas que eu já vi.
E como foi o convencimento das lideranças?
Foi tranquilo. Não tivemos um caso de gestor ou diretor que não liberou folga do colaborador. Teve casos em que as pessoas precisaram mudar as datas, mas aí por uma questão de escolha própria. Sou feliz em dizer que não houve recusa das folgas.
Como vocês mediram os resultados?
Temos uma pesquisa interna de clima e percebemos o impacto que há no dia a dia das pessoas. Além disso, temos feito outras ações que também colaboram para essa melhoria, como a Semana da Família em julho. Muitas empresas fazem em outubro, mas decidimos adiantar para julho porque é um mês que os funcionários que têm filhos não sabem onde deixá-los durante as férias, ficam inventando programações, então trouxemos a programação para cá. Em agosto, também fizemos uma Dog Week, para os pais de pets. São ações que ajudam bastante.
O segundo semestre de 2025 também terá poucos feriados prolongados. Vocês vão repetir a ação?
Ainda não está decidido. Minha percepção é que não será tão sofrido quanto foi o segundo semestre de 2024. Estamos sempre acompanhando e fazendo pesquisas de clima. Pode ser que o dia do Beflier exista ou seja substituído, não há nada escrito em pedra. Se a gente sentir que tem necessidade ou demanda de trabalho, vamos liberar, porque o nosso retorno como gestão foi muito positivo.
Você comentou que o bem-estar foi um dos motivos para criar essa política. Tradicionalmente, se diz que o turismo é um setor “trocado” com o resto do mundo, que trabalha enquanto os outros se divertem. Como é cuidar do bem-estar tendo esse modelo como paradigma?
Hoje, 70% do nosso volume de vendas vem do turismo corporativo, e quem atua nesse setor acompanha o calendário habitual. Mas sim, 30% dos nossos colaboradores estão atrelados à área de lazer e, para isso, temos um programa de saúde mental muito forte, com parcerias com planos de saúde e terapeutas à disposição. Também buscamos ter uma gestão muito próxima para mapeamento, suporte, feedback e mentoria, pensando em qualquer necessidade de apoio. Além disso, também temos uma agência interna de viagens para os funcionários, com muitos descontos, para que mesmo fora de temporada eles consigam ter boas oportunidades.
Qual é a importância do lazer para trabalhar no setor de turismo?
Os colaboradores são o principal ativo da companhia – e cuidar bem do colaborador, como defendo no conselho de administração, é cuidar bem dos nossos resultados. Além disso, é uma experiência importante: quanto mais o colaborador tiver repertório de viagem, melhor será o desempenho dele. No nosso processo de contratação, uma das perguntas-chave é saber se o colaborador já viajou de avião – e se a gente mapeia que não viajou, estamos sempre buscando oportunidades para eles viajarem, fazendo experimentação de produtos ou destinos. É muito mais fácil vender o que você conhece.
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