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Por que estão falando tanto sobre… segurança psicológica no trabalho

Saber como criar times que se sentem seguros para opinar, errar e colaborar – mesmo em tempos difíceis – virou pauta urgente para quem trabalha com gente

Bruno Capelas
18 de dezembro de 2025
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O que você precisa saber

Nos últimos anos, temas como burnout, colaboração entre equipes e produtividade sustentável têm dominado a agenda corporativa. Nesse contexto, a segurança psicológica reapareceu como peça-chave – e um novo artigo da Harvard Business Review reforça o porquê.

O novo artigo publicado pela HBR reuniu resultados de diferentes estudos conduzidos por Amy Edmondson e por consultorias. As pesquisas analisaram centenas de equipes em diversos setores para entender como elas se comportam sob tensão. O diagnóstico é claro: o que separa times resilientes daqueles que quebram é a existência – ou ausência – de segurança psicológica. Entre os achados, quatro dados chamam atenção:

1. Times com alta segurança psicológica têm até 50% menos risco de burnout.

Equipes expostas às mesmas pressões apresentaram níveis muito diferentes de exaustão. Nos grupos com abertura para falar, pedir ajuda ou admitir dúvidas, a intenção de saída e o desgaste emocional foram significativamente menores.

2. Equipes psicologicamente seguras cometem os mesmos erros — mas corrigem mais rápido.

Os pesquisadores notaram que esses times relatam mais erros no dia a dia, simplesmente porque não escondem problemas. No longo prazo, porém, as equipes tomam melhores decisões e aprendem mais rápido, criando ciclos contínuos de melhoria.

3. Ambientes de baixa segurança psicológica reduzem a colaboração em até 40%.

Quando existe medo de julgamento, as pessoas deixam de propor ideias, falam menos nas reuniões e evitam assumir riscos. O resultado é um empobrecimento direto da criatividade coletiva.

4. Em momentos de incerteza, a diferença entre equipes seguras e não seguras aumenta drasticamente.

Sob forte pressão, times com baixa segurança psicológica tendem a adotar comportamentos defensivos. Já os grupos seguros mantêm abertura, fazem perguntas, contestam premissas e cocriam soluções – o que os leva a respostas melhores.

Para a HBR, a mensagem central é simples: segurança psicológica não é clima “legalzinho”, é infraestrutura de desempenho. É o que permite que pessoas concordem e discordem, testem hipóteses, levantem alertas e admitam que algo não deu certo — ingredientes essenciais para inovação e qualidade.

O que isso significa para o RH

Para quem trabalha com gente, a leitura deixa claro que segurança psicológica não nasce espontaneamente. Ela depende de incentivos, práticas e estruturas organizacionais – e, portanto, é um tema que exige protagonismo do RH.

Do texto e das pesquisas, emergem três implicações diretas:

1. Cultura depende de coerência entre discurso e incentivos.

Times não se sentem seguros se seus sistemas de avaliação e reconhecimento estimulam competição interna ou punição a erros. Para construir segurança psicológica, é preciso alinhar processos, rituais e expectativas.

2. Segurança psicológica precisa ser construída antes da crise.

Empresas que esperam o “momento difícil” para reforçar a colaboração chegam tarde demais. A resiliência nasce quando práticas de escuta, feedback e vulnerabilidade já fazem parte da rotina – e não apenas do discurso.

3. Líderes de média gestão precisam de suporte.

São eles que traduzem cultura no cotidiano. O RH pode apoiar com formação, ferramentas de facilitação, roteiros de reuniões e metodologias que ajudem líderes a convidar opiniões divergentes, acolher dúvidas e compartilhar transparência.

A segurança psicológica, portanto, funciona como uma espécie de sistema imunológico das organizações. 

Tal como uma vacina social, é ela que determina se um time vai se fechar em silêncio ou se abrir para aprender e encontrar soluções durante tempos turbulentos. Em um ambiente de trabalho cada vez mais complexo, rápido e pressionado por resultados, poucas competências são tão estratégicas quanto garantir que as pessoas se sintam seguras para colaborar de verdade.

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Bruno Capelas é jornalista. Foi repórter e editor de tecnologia do Estadão e líder de comunicação da firma de venture capital Canary. Também escreveu o livro 'Raios e Trovões – A História do Fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum'.