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Mulheres na liderança por Raquel Zagui, da Heineken

Com passagens por Ambev, Whirlpool e Bacardi, ela conta para Cajuína seus desafios e onde se inspira

Lidiane Faria
24 de maio de 2022
Vice-presidente de RH na Heineken, Raquel Zagui faz questão de puxar "na unha" o tema mulheres na liderança
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Formada em Engenharia de Produção, a paulistana Raquel Zagui, de 42 anos, imaginou que trilharia um caminho profissional nas áreas de finanças e tecnologia. Foi ao ingressar no programa de trainee da Ambev que sua trajetória mudou. “Sempre fui muito curiosa e estava aberta a tudo. Queria trabalhar em fábrica. Meu gestor na época enxergou uma oportunidade em Gente e Gestão e eu topei”, conta ela, que assumiu o primeiro cargo de liderança aos 24 anos.

Após passar por empresas como Whirlpool e Bacardi, há quase cinco anos Raquel é Vice-Presidente de Recursos Humanos no Grupo HEINEKEN e fez questão de “puxar na unha”, como ela mesmo diz, a agenda de mulheres em cargos de confiança na companhia – no ano passado, a empresa assumiu o compromisso de até 2026 ter uma liderança 50% feminina.

“Tenho a obrigação, em uma posição de privilégio, de saber que estar aqui é parte do que eu sou, mas também é algo simbólico ser uma mãe jovem, divorciada, e estar no topo.”

A seguir, ela compartilha um pouco da sua trajetória, desafios e inspirações:

Quais foram os principais desafios que você encontrou ao começar no RH?

Buscar referências, formação e profissionais em quem eu pudesse buscar apoio. Quando saí da Ambev, tinha apenas 24 anos. Cresci rápido e naturalmente não estava preparada para os desafios e ambiguidades de um cargo de gestão.

Tive mentores muito importantes, que foram um suporte não apenas na parte técnica, mas em me ajudar a compreender como navegar em diferentes ambientes, quais brigas comprar e em que momentos recuar.

Tenho um quadro que sempre me acompanha pelos escritórios por onde passo e que hoje está no meu home office. Nele está escrito: “Que eu tenha a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”. É no que acredito.

Como a cultura da empresa é praticada no dia a dia?

Se você colocou algo em sua parede, tem que praticar. No Grupo HEINEKEN, um dos nossos valores é “respeito e cuidado”.

Tenho a sorte de trabalhar em uma empresa que acredita que os valores fazem a diferença em como a gente é e as transformações que podemos realizar. Não existe um conjunto de valores que é certo ou errado, é o que faz sentido para as pessoas, para o ambiente e para o negócio.

E como você acredita que pode inspirar outras mulheres a ocupar cargos de liderança?

Quando cheguei à HEINEKEN, em 2017, puxei esta agenda “na unha”, e hoje isso faz parte da cultura, do que a gente realmente acredita. Sabíamos que precisávamos ser inclusivos e de maneira intencional. E temos responsabilidade com todos os funcionários da companhia.

Recentemente, na véspera do dia das mães, recebi uma mensagem em um programa interno de reconhecimento, de uma outra mulher, sinalizando como era bom e inspirador ver outra em um cargo de gestão. Fiquei honrada, mas sei que quando estamos em uma posição de liderança, estamos expostos para o bem e para o mal. Por isso, enxergo essa posição com uma grande responsabilidade.

Tenho a obrigação, em uma posição de privilégio, de saber que estar aqui é parte do que eu sou mas também é algo simbólico, onde uma mãe jovem, divorciada, está no topo. Isso carrega muitos significados.

Então este movimento, de certa forma, também pode ser considerado educativo para todos?

Entre funcionários e dependentes, tocamos cerca de 40 mil pessoas – sem contar ainda os parceiros indiretos.

Somos uma empresa grande, que apoia muitas famílias. Por isso, desejo que essas pessoas voltem para casa ainda melhores. Que o homem que trabalha conosco seja um pai, um companheiro melhor, e que vivencie experiências positivas conosco. Essa é nossa obrigação como empresa, e é uma uma parte do meu propósito. Desejo que as pessoas entendam que dentro da companhia tem coisas que são inadmissíveis. Queremos devolver para casa um funcionário melhor.

Foto: Divulgação/Edna Marcelino

Como vocês têm atuado neste momento de pandemia?

Foi um momento de mercado muito difícil. E no nosso caso, não direcionamos todo mundo para campo – como as equipes de vendas, por exemplo. Se fosse meu filho, meu pai, como eu gostaria que a empresa se posicionasse? De uma forma realista, deixamos claro que a vida do funcionário está em primeiro lugar.

Isso é o que traduz a essência da companhia, é algo que faz parte desde o início da nossa história e com nossos fundadores. Atualmente, temos um modelo  híbrido. Conversamos muito com nossos colaboradores: além de realizarmos pesquisas, rodamos focus groups para ouvir nossos times.

Sabemos que não podemos olhar o mundo apenas com nossos próprios olhos. Com pequenas transformações, pessoas que estão na periferia passam a ter uma economia no tempo de deslocamento, por exemplo. Outras, com algum tipo de deficiência, maior conforto por não precisarem pensar diariamente na logística de seu trajeto. Em nossa população de pessoas, temos todos os públicos. Olhamos para administrativo, comercial, e buscamos o melhor dos mundos para todos.

E vocês também falam sobre saúde mental?

Sim, e é uma grande evolução de conversa. Há 10 ou 15 anos, quando falávamos de saúde e segurança, o foco estava apenas em evitar acidentes. Hoje, a agenda é mais complexa: envolve prevenção, ergonomia no escritório e no home office, e saúde psicológica.

Quando visito nosso campo (plantas e locais onde estão os times de operação), converso com as lideranças, pergunto sobre suas rotinas. Incentivo a prática de exercícios, o cuidado com a saúde, e falamos muito sobre como podemos multiplicar essa mentalidade aos times.

As empresas podem ser tanto um fator desencadeador quanto um lugar acolhedor, por isso, temos a responsabilidade de acompanhar essas jornadas. E uma pessoa melhor é um profissional melhor.

Há 10 ou 15 anos, quando falávamos de saúde e segurança, o foco estava apenas em evitar acidentes. Hoje, a agenda é mais complexa: envolve prevenção, ergonomia no escritório e no home office, e saúde psicológica.

E quem são as pessoas que te inspiram a ser uma pessoa e uma profissional cada vez melhor?

O Gianluca, meu filho de 8 anos, me inspira. Quero que ele entenda e sinta no futuro porque recebe um sim ou não. Por isso, tento em minha vida ser uma pessoa cada vez mais intencional. Tenho que cuidar das minhas decisões, porque sei que meu filho está atento.

E do mercado, sem dúvidas, Luiza Helena Trajano é para mim um exemplo de humildade, liderança e carisma. Certa vez, participei de um evento da empresa e mediei um painel com ela. O evento era bem próximo ao dia em que a Magazine Luiza anunciou as vagas afirmativas para trainees. Ela participou, contou sua experiência e compartilhou seu número de celular comigo.

Dias depois, surgiu uma oportunidade para que eu pudesse participar de um conselho administrativo. Não tive dúvidas em pedir uma orientação à ela e tomei coragem para lhe enviar uma mensagem no WhatsApp. Ao final do dia, para minha surpresa, meu telefone tocou. Era Luiza Trajano, em pessoa, me orientando, encorajando e compartilhando suas impressões. Fiquei extremamente honrada.

O que você gostaria que todo RH soubesse?

O quanto é difícil, mas essencial, encontrar o equilíbrio. Estamos aqui para trabalhar com pessoas, mas não podemos esquecer que fazemos parte de um negócio.

Muitas vezes, precisamos tomar decisões difíceis, mas que são importantes para os negócios. Mas se você tem uma clareza muito grande do que é preciso realizar, entende como trazer a conexão humana e como alavancar os melhores resultados.

Onde você consome conteúdo?

Meu forte mesmo são os podcasts. Adoro ouvir enquanto pratico exercícios. Um dos últimos que gostei muito é o The Diary of a CEO, em que vários líderes são entrevistados.

O mais recente foi uma entrevista com Marcus Buckingham, autor de vários livros. Neste episódio, ele fala sobre fortalezas e fraquezas, mas trazendo o segundo ponto não como algo que não fazemos bem, mas sim como “o que tira sua energia”. Quanto tempos desperdiçamos com coisas que não valem a pena? Achei uma abordagem interessante.

Lidiane Faria é graduada em Relações Públicas e pós-graduada em Jornalismo. Tem experiência em startups de tecnologia, consultorias e emissoras de TV e adora ouvir pessoas incríveis.