Paulo Almeida, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral, discute os tipos e dimensões da liderança no contexto atual dos negócios
Por que estão falando de… impacto das bets na força de trabalho
Explosão do mercado de apostas no Brasil pode trazer problemas de endividamento, presenteísmo e burnout para os colaboradores; RH pode e deve atuar junto ao tema
A expressão do momento, aquela tendência que acabou de chegar ao mercado, uma notícia que tem chamado atenção, uma trend que viraliza nas redes ou até uma nova regulamentação. Se o tema está quente, é melhor não ficar para trás. Mas nem sempre conseguimos ir na esteira das novidades e entender tudo que tem acontecido no mundo do RH.
A roda gira, e às vezes bem rápido. Esta seção de Cajuína traz os assuntos mais frescos do universo de quem trabalha com gente. Na pauta dessa semana, vamos falar sobre como as bets podem impactar os colaboradores – e o que o RH pode fazer quanto a isso.
O que você precisa saber?
Com cerca de 100 empresas e mais de 200 marcas autorizadas a operar sites de apostas esportivas no Brasil, o mercado das bets tem impactado diretamente a força de trabalho brasileira. A promessa de ganhar dinheiro rápido e fácil tem levado muita gente a apostar cada vez mais, colocando salário e benefícios em risco.
Uma pesquisa feita em agosto pelo Instituto Locomotiva com mais de 2 mil pessoas mostra, por exemplo, que 86% dos usuários de bets estão endividados. Além disso, 37% deles possuem dois ou mais cartões de crédito. Para quem aposta, a sensação não é de alívio ou de esperança, mas sim de sentimentos negativos como ansiedade (41% dos respondentes), estresse (17%) ou culpa (9%).
Outro levantamento, liderado pela consultoria It’s Seg, mostra que três em cada dez RHs estão diretamente preocupados com as apostas feitas pelos colaboradores, considerando impactos não só financeiros, mas também na saúde mental.
Vale lembrar ainda que desde 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o vício em jogos de azar (também chamado de “ludopatia”) como uma doença – e a popularização desse tipo de aposta no Brasil, aliada a um cenário sem regulamentação governamental e pouca educação financeira, tem deixado muita gente doente por aí.
O que isso significa para o RH?
O impacto das bets na força de trabalho pode ser sentido de várias maneiras. Estresse, ansiedade e culpa são sensações que afetam diretamente a produtividade dos colaboradores e podem contribuir, em meio a um contexto desafiador, para doenças do trabalho como o burnout.
Um estudo recente da consultoria Mercer, o Global Talent Trends 2024, mostra que, em média, seis horas mensais de cada colaborador são gastas com preocupações financeiras, em um impacto difícil de ser precificado pelas organizações.
Além disso, já está provado há tempos que a pressão financeira pode ser um dos fatores para diversos problemas dentro do ambiente de trabalho, como o estresse, o presenteísmo (em que o colaborador comparece ao local de trabalho, mas sem se dedicar efetivamente às tarefas) e até mesmo na motivação das equipes – a promessa de ganhar dinheiro rapidamente pode ser um fator de distração na hora do trabalho, algo a ser considerado quando se leva em consideração que quase metade dos apostadores (46%) tem entre 19 e 29 anos, segundo o Instituto Locomotiva.
Para o RH, é importante acender o sinal amarelo ao notar mudanças de comportamento bruscas entre os colaboradores – como quedas no rendimento ou na concentração, uso excessivo do celular ou até mesmo pedidos de auxílio financeiro, como adiantamentos no salário. Para especialistas, o impacto pode chegar até mesmo a um pedido de demissão, quando o colaborador enredado em dívidas prevê usar o dinheiro para pagar suas faturas.
Para evitar o pior, vale a pena que o RH estabeleça programas de apoio em diferentes níveis. Uma camada voltada ao público em geral pode conter palestras sobre apostas e uso saudável do dinheiro. Ao perceber problemas, a área de Pessoas também pode sugerir o encaminhamento do colaborador a um especialista em educação financeira – como já aconteceu no Mais Cuidado, programa da Gerdau voltado a apoiar diferentes necessidades dos colaboradores.
Se o cenário se tornar mais grave, porém, é importante que o RH trate a questão como um problema de saúde do colaborador, levando-o a se afastar para buscar tratamento – da mesma forma como acontece com outros tipos de adições. Hoje, o Hospital das Clínicas em São Paulo mantém um programa ambulatorial voltado a viciados em jogos de azar, que serve de exemplo para outras regiões do país.
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