Paulo Almeida, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral, discute os tipos e dimensões da liderança no contexto atual dos negócios
Cinco práticas de sucesso no desenho de programas para líderes
Pedro Vergueiro, gerente de educação executiva da Fundação Dom Cabral, explica como programas de liderança eficazes são construídos
Por Pedro Vergueiro*
Criar práticas educacionais inovadoras e memoráveis é um dos desafios na construção de programas de educação executiva, principalmente porque estamos falando de líderes e gestores de RH. O papel do designer de programas é fundamental na criação de soluções educacionais de impacto, que não apenas transmitem conhecimento, mas também geram transformação e resultados tangíveis para os participantes. A seguir, apresento cinco práticas essenciais para que cursos e programas se destaquem:
1. Utilidade percebida e contextualização constante
Uma prática essencial é garantir que o programa seja percebido como útil em todos os momentos do curso. Mesmo em disciplinas ou temas que já tenha algum conhecimento prévio, é importante reforçar continuamente o valor do aprendizado.
Para isso, promover diálogos contínuos entre professores e participantes, situando os alunos dentro da jornada educacional, é fundamental. Por exemplo: desenhar um módulo de “gestão geral” com aulas de estratégia, inovação, marketing, pessoas e finanças, é interessante explicar como cada tópico se conecta e como contribui para o desenvolvimento geral do participante. Reforçar “por que estamos estudando finanças hoje e o que isso tem a ver com a estratégia estudada na aula de segunda-feira” e “como entender finanças ajuda na prática do que aprendemos sobre inovação”.
Além disso, incentivar os participantes a expressarem suas impressões, desconfortos e necessidades antes, durante e depois das aulas. Diálogos planejados ao longo da semana ajudam a estimular mais aprendizados, trocas de ideias e a percepção contínua de que o conteúdo é valioso.
É importante também trazer temas novos, como inteligência artificial e uso de novas tecnologias que são altamente demandados atualmente. O desafio para o designer de programas é acertar a dose entre o que é prático (o que o participante vai fazer após o treinamento) e o que é sensibilização (o que ele precisa saber, mas possivelmente não irá usar imediatamente, embora seja um tema que está ganhando força e em breve será relevante em sua prática profissional).
2. Narrativas envolventes e cenários estimulantes
Para que os alunos compreendam a narrativa do programa, é importante criar cenários e contextos que sejam ao mesmo tempo capacitantes e estimulantes, como aulas em lugares diferentes e ambientes diferentes que remetem ao assunto a ser abordado naquele momento, quando possível, é estimulante. Por exemplo, falar de Diversidade e Inclusão em Salvador, aproveitando a rica herança cultural da capital afro-brasileira para enriquecer o aprendizado.
Realizar outras experiências educacionais para executivos nos EUA, França e Argentina, apenas para citar alguns exemplos, sempre escolhendo locais com contextos capacitantes especialmente pensados para elevar a experiência do participante. Essas localizações não só enriquecem o aprendizado, mas o relacionamento entre eles despertam insights valiosos para aplicação prática após a volta para casa (e ao trabalho).
3. Investimento na qualidade do corpo docente
A qualidade do corpo docente é fundamental e é onde deve-se investir a maior parte dos recursos. De nada adianta criar experiências memoráveis se os professores e professoras não forem os melhores disponíveis. Sem os melhores professores, não é possível alcançar a melhor experiência educacional. São eles os grandes responsáveis pelo sucesso dos programas. Sem professores de excelência dificilmente uma experiência educacional será lembrada como memorável.
Sem os melhores professores, não é possível alcançar a melhor experiência educacional.
4. Criação de diálogo na organização
A educação executiva deve criar um diálogo contínuo dentro da organização. Quanto mais pessoas de uma mesma empresa compartilham o mesmo conhecimento, melhor. A premissa de criar uma “linguagem comum” entre os executivos e líderes da mesma empresa deve fazer parte do escopo do programa. Isso facilita a aplicação do conhecimento, pois todos compreendem os conceitos e fundamentos de uma prática a ser aplicada ou estudada.
Recebemos muitos executivos da mesma empresa ano após ano justamente por essa razão. Se você é responsável pelo desenho de programas em uma organização ou uma universidade corporativa, busque identificar aqueles que gostaram do treinamento e os incentive a promover a experiência para outros. Quanto mais relevante o treinamento e maior o seu impacto percebido, mais diálogo se cria, mais a prática se manifesta e mais mudanças de comportamento são observadas.
Além disso, se os líderes da organização forem entusiastas e apoiadores da educação formal e de sua aplicação prática, mais fácil será a criação de diálogos e maior será o valor percebido. O apoio dos líderes é fundamental para fomentar um ambiente de aprendizado contínuo e para garantir que o conhecimento adquirido seja efetivamente aplicado no dia a dia da organização.
5. Acredite no seu desenho e aprenda com os erros
Acredite no desenho do seu programa e esteja aberto para aprender com os erros. Entreviste alunos que concluíram o programa em até três meses após sua realização. Escute o seu cliente após cada treinamento com real interesse em identificar oportunidades de melhoria.
Exercite a humildade para receber feedbacks que podem soar inicialmente indigestos (alguns podem até parecer frustrantes), mas baseie-se também em uma análise quantitativa para assegurar que os feedbacks sejam coerentes com os dados em mãos. Realize avaliações de reação e entrevistas para obter uma visão completa.
Insista no objetivo maior de gerar resultados e ser percebido como valioso pelos participantes e organizações. Afinal, treinamentos existem para gerar mudanças de comportamento, desenvolver novas habilidades e competências, ensinar o uso de ferramentas e gerar conexões poderosas em grupos onde todos ensinam e aprendem.
Acredito que os gestores de pessoas que procuram apoiar suas organizações no desenvolvimento de seus colaboradores e que tenham como objetivo a retenção de talentos devem, na escolha de uma capacitação, seja ela qual for, os passos citados acima como premissa, pois eles podem contribuir na tomada de decisão mais assertiva para as empresas e para os indivíduos no âmbito de uma educação executiva de qualidade.
Acredite no desenho do seu programa e esteja aberto para aprender com os erros.
Pedro Vergueiro* é Gerente de Educação Executiva da FDC, responsável por programas de Gestão Geral e Pessoas como o PGA – Programa de Gestão Avançada em colaboração com INSEAD, STC – Skills, Tools and Competencies em colaboração com Kellogg School of Management, Gestão Avançada de Pessoas e Organizações, além da Comunidade FDC Desenvolvimento Humano para Profissionais de RH. Anteriormente, desenvolveu programas e projetos de educação executiva da FDC em empresas como AbbVie, Ambev, Boehringer Ingelheim, Carrefour, EDP, Corteva e muitas outras. Sua formação acadêmica inclui um Executive MBA pela Fundação Dom Cabral, Pós-Graduação em Gestão Comercial pela Fundação Getúlio Vargas e o PDC – Programa de Desenvolvimento de Conselheiros pela Fundação Dom Cabral, além de diversos certificados pela Harvard Law School, KAOSPILOT, AfferoLab e 6Ds Company.
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