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‘Parar, estudar e entender é fundamental para lidar com as mudanças’, diz Juan Pablo Leymaríe, da Nivea

Com experiência global, executivo da multinacional de beleza ressalta importância do bem-estar e do planejamento frente a era de transformações

Bruno Capelas
19 de fevereiro de 2025
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Há 20 anos dentro da Beiersdorf, grupo internacional que controla a marca Nivea, o argentino Juan Pablo Leymaríe é um cidadão do mundo, tendo trabalhado em países como Alemanha e México, além de constantes viagens para territórios como a Índia (de onde concedeu esta entrevista a Cajuína). Desde 2019, ele lidera o RH da Nivea no Brasil, e desde os primeiros dias busca trazer mudanças e flexibilizar novas formas de trabalho. “Quando começamos, havia um dia de home office para liderança, mas não para os analistas. Foi uma briga importante mudar isso, mas isso nos fez operar bem durante a pandemia”, conta o executivo, que vê no cuidado com as pessoas um foco da organização. 

Para ele, a velocidade da mudança será cada vez maior – e para que as companhias tenham sucesso no futuro, separar o joio do trigo será cada vez mais fundamental. “Será importante que as pessoas estejam presentes nos momentos que importam”, diz ele, que aposta em transparência e conhecimento como armas para evitar a ansiedade com as transformações que virão. 

Acredito que estar bem informado é uma forma de saber lidar com a mudança.

Para você, qual foi a principal mudança do RH nos últimos cinco anos? 

Cinco anos é o tempo exato que estou aqui na Nivea no Brasil. Cheguei para trabalhar aqui no começo de 2019, pouco antes da pandemia, e ali já buscávamos mudanças como flexibilizar novas formas de trabalho. Quando começamos, havia um dia de home office para cargos de liderança, mas não para os analistas – e uma das primeiras mudanças que fizemos foi colocar todo mundo um dia em casa. Quando chegou a pandemia, o que aconteceu é que todos já estavam preparados para trabalhar remotamente. Foi uma briga importante antes, mas isso nos fez operar e crescer dois dígitos durante a pandemia. Acredito que, na sequência, pudemos aumentar essa flexibilidade para as pessoas, mexendo em políticas, estando presentes. Hoje, temos um modelo híbrido de dois dias no escritório e três em casa, em linha com a política global. Cuidar das pessoas segue sendo um foco, na vanguarda de cuidado, bem-estar e equilíbrio – e buscamos ter ainda iniciativas para uma companhia mais saudável, incentivando esportes, corrida, com participação de 50% dos colaboradores e resultados que fazem com que as pessoas mudem hábitos, costumes, alimentação. Além disso, há uma agenda de conexão e integração, procurando uma inclusão maior dentro da empresa. Isso nos ajuda a gerar equipes de alto rendimento. 

Cuidado e bem-estar são duas áreas de atuação da Nivea. Como os produtos e o propósito da empresa se conectam? 

Somos uma empresa de cuidado e nosso principal valor é esse. Cuidado é o motivo pelo qual existimos, e falamos muito de cuidar dos colaboradores, dos fornecedores e dos consumidores. Está tudo muito conectado e, sempre que fazemos uma atividade, temos propriedade para falar do tema. 

Falar sobre isso é fácil, mas a prática é diferente – e hoje, há um ambiente virtual em que qualquer pessoa pode reverberar uma crítica a forma como esse propósito pode ser desvirtuado. Como vocês entendem a imagem da marca empregadora e o ambiente de redes sociais? 

Temos isso como topo de preocupação. Sendo uma empresa de cuidado, precisamos trabalhar para dentro antes de sair falando no LinkedIn ou fazer qualquer anúncio. É uma jornada que começou antes da pandemia e buscamos sempre ter um trabalho sólido para depois ir para fora. E isso passa não só pelo RH, mas por todas as áreas da companhia: se falamos de diversidade, precisamos de produtos diversos. Fomos a primeira empresa a lançar um produto para a pele negra, e para isso, houve um trabalho muito grande para entender a voz do colaborador e do consumidor.  Por outro lado, se queremos vender produtos para a pele negra, temos que ter pessoas assim aqui dentro. Hoje, temos 25% de pessoas negras dentro da organização e queremos chegar a 30% até o final de 2025. Da mesma forma, mulheres ocupam 50,1% das posições de gerência e diretoria da Beiersdorf globalmente. Já o conselho executivo globalmente é composto por 42,9% de mulheres, uma super conquista. Se queremos falar de cuidado, temos que ter ações de cuidado – e isso vai do bem-estar ao voluntariado, em uma agenda enorme que eu faço questão de participar. Nas redes sociais, não dá para ter certeza, mas temos buscado construir um caminho de maneira sólida. 

A velocidade como as coisas se desenvolvem é enorme. E as organizações precisam estar preparadas para lidar com o que virá pela frente, muitas vezes buscando estar à frente da mudança.

Como você vê o futuro do RH? 

Acredito que a velocidade da mudança será cada vez maior. A velocidade como as coisas se desenvolvem é enorme. E as organizações precisam estar preparadas para lidar com o que virá pela frente, muitas vezes buscando estar à frente da mudança. É um dos grandes temas relevantes que precisamos ter certeza de saber como preparar nossas equipes, dando as ferramentas para que elas possam se adaptar, se sobrepor às situações que virão e que a gente ainda não conhece, para gerar resiliência. Outro tema importante tem a ver com a agenda digital que vem aí. Para mim, não haverá o embate entre homem e máquina, mas a cooperação entre homem e inteligência artificial será um tema muito relevante. Estamos buscando serviços mais digitais, automatizados, eficiência, mas as companhias também precisarão ser capazes de manter a parte humana funcionando de maneira relevante. 

Existe um embate em pensar sobre o avanço da tecnologia e, ao mesmo tempo, manter o aspecto humano preparado para mudanças. Como preparar a força de trabalho? O que vocês já têm feito? 

Estou muito envolvido neste tema a nível global. Será importante que as pessoas estejam presentes nos momentos que importam. Dentro dos momentos de interação, há muitas oportunidades de estar em contato, seja com os colaboradores, com a organização ou com os clientes. É importante ter certeza de estarmos presentes nos momentos relevantes. Por outro lado, o que não for relevante ficará para a interação com as máquinas, por meio de software ou o que quer que seja. Claro que o futuro trará uma redefinição de papéis e responsabilidades, especialmente no que diz respeito ao front, as pessoas que estão envolvidas no negócio, atendendo os clientes e os parceiros. Queremos saber como as pessoas podem estar ainda mais envolvidas no negócio, apoiando sua tomada de decisão na hora de fechar um contrato ou decidir uma realocação de produto, ou do que seja. É claro que isso vai requerer uma requalificação. Temos uma série de programas que, olhando para o futuro, sabemos que vamos precisar de pessoas mais orientadas ao negócio, com mentalidade ágil, com ferramentas que são cada vez mais mencionadas para dar suporte ao negócio. 

Para muita gente, pensar em mudanças é sinônimo de ansiedade. Como o RH pode ajudar a organização a manter a calma? 

No particular, é preciso estudar muito, entender, ler e se educar bastante. Quanto mais a gente tiver conhecimento, maior será o poder de discernir em qual direção queremos evoluir. Outro ponto importante é a transparência. É o que adotamos no nosso time. Hoje, dedicamos tempo para conversar, parar, estudar, e aí conseguimos transitar de maneira mais tranquila em meio à mudança. Se houver conhecimento e tempo para desmistificar as questões que as pessoas criam nas suas cabeças, poderemos vencer. Parar, estudar e entender é fundamental. 

Para fechar, tem algum conselho ou leitura que o senhor recomendaria para inspirar os RHs? 

Uma das grandes questões da atualidade é o fato de que recebemos muita informação e temos cada vez menos tempo para ler e selecionar o que ler. Gosto de ler notícias, busco ser uma pessoa informada, em diferentes meios – leio jornais, revistas digitais, escuto muito a podcasts e muito rádio. E busco sempre entender diferentes pontos de vista, da direita à esquerda. Acredito que estar bem informado é uma forma de saber lidar com a mudança.

Bruno Capelas é jornalista. Foi repórter e editor de tecnologia do Estadão e líder de comunicação da firma de venture capital Canary. Também escreveu o livro 'Raios e Trovões – A História do Fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum'.

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