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De cobrador a líder de RH, conheça Genesson Honorato, da OLX Brasil

Gerente de Employer Branding e Diversidade & Inclusão, o profissional quer ver a área de RH pensando em inovação e na evolução da sociedade

Lidiane Faria
13 de março de 2022
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Nascido em Mascote, cidade na Bahia que fica próxima de Ilhéus, Genesson Honorato teve várias experiências pessoais e profissionais antes de chegar ao posto de Gerente de Employer Branding e Diversidade & Inclusão na OLX. A seguir, conheça sua trajetória, inspirações e o que deseja para o futuro do RH.

Como foi sua trilha profissional?

Fui ensinado a pensar no trabalho como algo que traz dignidade, então trabalho desde muito cedo para completar a renda da família. Desde cedo vendi sonhos em uma bandejinha pelas ruas da cidade, fui guardador de carros, etc. Tenho muito orgulho de já ter feito tudo que já fiz. Claro que aí também temos uma situação de desigualdade: enquanto eu fazia tudo isso para sobreviver, outras pessoas estavam aprendendo inglês e outras habilidades, mas prefiro pensar que me tornei um profissional multifacetado diante dessas dificuldades. Hoje falamos do profissional mosaico, ou t-shaped como dizem outros, então de guardador de carros pra cá tenho um bom mosaico de experiências e valorizo todas do mesmo jeito.

Bom, aí veio o programa trainee da L’Oréal em 2012, o que para mim nunca foi só uma oportunidade de emprego, mas de vida. Aliás, gosto de dizer que trabalho não é uma vaga em uma empresa, e sim o meio para outras coisas como sobrevivência, satisfação pessoal, um sonho a ser realizado, e até um ponto importante da formação subjetiva da pessoa, e precisamos desse olhar.

Quando cheguei na L’Oréal já tinha muita história para contar. No processo seletivo, fiz um cordel sobre a minha vida. 

E então você mergulhou no RH, certo?

Após passar no processo seletivo de trainee, fiz um job rotation e conheci várias áreas, até chegar ao time de Talentos – Talent Acquisition – onde fiquei por mais tempo e logo veio o Employer Branding. Fui trabalhar então nesta área, aprendendo muitas coisas quase do zero – brinco que nessa época ainda era tudo mato sobre o tema.

Fui feliz em poder posicionar o Brasil como uma das referências para o grupo L’Oréal pelas iniciativas da área. Aprendi inglês ouvindo músicas e vendo séries e isso é central quando penso no esforço que é preciso fazer para estar apto para uma vaga de trabalho. É a seleção antes da seleção, né? Por isso, falar de inclusão é importante, e falar mais em equidade e menos em meritocracia.

Fiz uma pós-graduação em Marketing e Design na ESPM, em 2014, e nesse mesmo ano fui pra Nova York. Na volta, mudei de área na empresa e fui fazer parte do time de Marketing da L’Oréal. Em 7 anos na empresa, descobri todas as minhas potencialidades, mas chegou um momento em que decidi olhar para novas perspectivas.

O que te fez buscar novos ares?

Sempre fui questionador e, como disse, gosto de aprender. Sou curioso, gosto desses testes de raciocínio lógico e de descobrir coisas o tempo todo. Atualmente, estou estudando metaverso e trabalho.

Minha decisão aconteceu porque, na posição anterior em que eu estava, as campanhas de marca chegavam prontas e eu queria participar também do processo de construção das campanhas, ideação, narrativa, etc. Então, saí da L’Oréal e fui trabalhar em uma agência de Design, Branding e Inovação e Comunicação. Participei da construção de posicionamentos de algumas marcas super conhecidas e o dia a dia da agência foi muito importante para minha jornada, isso meu abriu outros horizontes. Depois, trabalhei na ThoughtWorks, voltando ao Employer Branding. E hoje, já faz mais de um ano que estou na OLX Brasil como Gerente de Employer Branding e Diversidade.

O que te motiva?

Aprendizado. Adoro estudar pessoas, cultura, tecnologia, etc. Gosto de inovar, ser disruptivo, então fico mirabolando coisas e busco olhar o todo, como as coisas podem melhorar, serem mais assertivas, mais eficientes, mais leves, mais plurais, mais humanas, etc. Experimento, aprendo e inovo, como diz uma dos valores da OLX Brasil, e gosto de dar ideias e conectadas com tudo o que estudo.

Durante muito tempo, fui criticado por ser muito criativo, sonhador, e algumas pessoas já me “acusaram” de coisas que depois percebi que aquilo era a minha força. Eu acredito muito que a gente pode ser sonhador sim, inovador, criativo, ser leve, se abraçar, ser feliz e ao mesmo tempo ser estratégico.

Como diria Caetano “cada estrela se espanta à própria explosão”, então que a gente siga acreditando em nosso talento. Uma coisa que sempre digo em mentoria é: acredite em suas habilidades, em que você é. É isso que vai te levar adiante e com boas chances de sucesso na vida, seja lá o que for sucesso para você.

Como você consegue conciliar inúmeras atividades pessoais e profissionais?

Como gosto de aprender, então ficar até mais tarde no computador lendo um artigo é um prazer. Vejo poucas séries, quase nunca assisto TV. Gosto de aprender. Repito: aprender. Isso ajuda bastante. Quanto mais impacto, mais motivos para fazer muitas coisas, e me dedico de verdade àquilo que me proponho a fazer. 

Além disso, eu atribuo minha resiliência e habilidade de lidar com várias coisas ao mesmo tempo à minha crença do que chamo de hackear o sistema. Se você deixar, o sistema te consome. Infelizmente por vezes uma pessoa como eu ainda precisa em muitas situações fazer o dobro para ao menos aparecer. Isso tem um custo, mas se esse custo abrir caminhos, vamos nessa. Vale a pena.

Como conto um pouco sobre isso em um TEDx que participei em 2012, entendo que o talento está em todo lugar, e abrir espaço para esses talentos é, para mim, uma forma de participar da próxima revolução do trabalho. 

Qual foi a maior mudança na área que você observou após o início da pandemia?

Esse é um fenômeno interessante de observar. Estamos passando por um momento de transformações aceleradas e muitas coisas ainda não sabemos como serão nos próximos anos. No trabalho, a conversa de corredor não tem existido para muita gente. As empresas têm pensado em outros formatos de trabalho – a OLX Brasil, por exemplo, adotou o modelo Remote First, em que as pessoas podem trabalhar de qualquer lugar do Brasil. Isso é maravilhoso! 

Por outro lado, sinto também que o burnout aparece como uma pandemia dentro da pandemia. Segundo pesquisas que têm surgido no mercado, as pessoas têm trabalhado mais. Outro aspecto é que o tempo de permanência das pessoas no trabalho tem diminuído drasticamente, o que vai exigir outro modelo de relação nos próximos anos. Sobre isso, aliás, tem o surgimento do do movimento Great Resignation ou Big Quit; pessoas pedindo demissão dos seus empregos em massa. Esse é um dos muitos dos desafios das organizações nos próximos anos. 

E além dos aspectos econômicos que desencadeiam movimentos desse tipo, tem também a insegurança.

E, ao meu ver, as empresas perderam o seu protagonismo. As pessoas começaram a perceber que quando você acha que vai morrer, você repensa tudo.


E por que te interessa tanto olhar para as pessoas?

Isso faz parte da construção da minha história. Abracei Psicologia e segui em frente, porque entendi como um curso de possibilidades diversas quando a gente olha para as transformações de toda a sociedade e também do trabalho. Além disso, me considero uma pessoa com um viés afetivo. Eu enxergo a afetividade como escassa no mercado, porque sempre olhei para como as pessoas se tratavam, a maneira com que as relações eram construídas. Muitas vezes, pensei: “tem algo errado aqui nessa relação”. Resumindo, a gente é fera em habilidades técnicas (hard skills), mas quando vai falar sobre pessoas, dá literalmente “tela azul” em muita gente.

Sinto que as habilidades humanas (soft skills) é o que tem mais valor em toda equação organizacional. Hoje, temos no geral um perfil que estudou para aprender a olhar planilha, o ‘business’, a questão é que o business é feito por pessoas, então, os números não mentem mas também não sentem. Os MBAs, no geral, não ensinam a olhar para as pessoas. E agora?

Quais são as suas referências?

Tudo pra mim é uma referência, tudo me ensina algo. Estou lendo agora Orfeu de Bicicleta – um pai no século XXI, de Francisco Bosco. A próxima leitura é da Grada Kilomba, em Memórias da plantação.

O encontro com a leitura na infância foi muito importante pra mim. Na casa de um amigo, cujo a mãe é professora, conheci um livro de poesia de Fernando Pessoa, depois um romance de Jorge Amado, e assim foi. Sou muito curioso e até hoje aprender é um vício que tenho, sinto uma sensação boa quando aprendo algo novo, rola uma serotonina, sabe? A leitura, pra mim, sempre foi uma janela para outro Universo.

Como você organiza todos esses estudos para colocá-los em prática?

Tenho dois tipos de leitura: a situacional (artigos como por exemplo Forbes, Exame, ou seja, o que tá rolando no dia a dia…) estou sempre ligado. E tem também os estudos de inovação, tecnologia, tendências, mas sempre conectadas com pessoas.

Vou estudando e separo os conteúdos por assuntos que me interessam (Inspiração, Trends, Sites favoritos…). Também faço curadoria das coisas que eu leio e vou separando por tema. Eu também tenho um arquivo no meu Google Drive que alimento incessantemente, com referências e perguntas – faço perguntas para mim mesmo rs. Olho para tudo o que já existe e penso: “o que podemos construir a partir disso?”, “como podemos resolver aquilo?”.

Como você conecta todo esse conhecimento com a área do RH?

Penso até que todo esse conhecimento é como se fosse minha caixa de ferramentas, meu data lake de conhecimentos e conecto com tudo que faço no dia a dia. O RH muitas vezes está conectado com uma rotina específica, e como gosto de ver muitas outras referências, tento trazer para os projetos e processos.

Quando digo que os números “não mentem, mas também não sentem”, ou que o RH é o coração e deve ser pensado como um pulso, um centro que retroalimenta, é porque vivo isso.

E você se desconecta em algum momento? O que gosta de fazer nas horas livres?

Sim, com certeza. Gosto de andar de skate longboard dancing, bicicleta, estar com meu filho, essas coisas. Gosto também de ver esportes para não pensar em nada, sabe aquela mesa redonda de futebol que fica duas horas no mesmo assunto? Adoro não pensar em nada além do posicionamento do volante do Bahia, risos.

Com meu filho, gostamos de ver vídeos de telescópios na atmosfera, as estrelas… Aliás, assistimos juntos ao vivo o lançamento do novo telescópio no Natal. Foi muito legal. Este ano, completo 10 anos de Rio de Janeiro. Cheguei em um 1º de abril, sozinho, com uma mala. Conquistei muitas coisas e tenho um casamento massa, uma família linda. Sou uma pessoa feliz e tento aproveitar todos os momentos com leveza e bom humor.

E quem te inspira?

Emicida, Mano Brown, Djamila Ribeiro, Nina SIlva, Silvio de Almeida, entre outros. Pessoas que não se limitam ao que fazem, mas em fazer do que sabem um hackeamento do sistema, potencializando outras ideias, pessoas, e lugares. Isso é tudo pra mim.

Qual é o seu recado final para as organizações?

São muitos e alguns custam até dinheiro, risos. Mas, no geral, é: olhem para as pessoas. Não é performance que traz felicidade, é felicidade que traz performance. 

Outro ponto é que as pessoas não estão tendo tempo para pensar no futuro das coisas que estão fazendo, é muita introspecção organizacional, como diria Jim Kalbach. Não sobra tempo. Como é tudo sobre gente, invistam em uma área de HR Innovation, uma área que se dedica a pensar inovação em RH, conectado dentro e fora para tirar insights relevantes para as pessoas. E meu conselho para as pessoas? Não deixem de sonhar.

Lidiane Faria é graduada em Relações Públicas e pós-graduada em Jornalismo. Tem experiência em startups de tecnologia, consultorias e emissoras de TV e adora ouvir pessoas incríveis.