Referência global em cultura organizacional, autor britânico fala sobre propósito, valores humanos e o papel dos líderes na construção de empresas mais conscientes
A expressão do momento, aquela tendência que acabou de chegar ao mercado, uma notícia que tem chamado atenção, uma trend que viraliza nas redes ou até uma nova regulamentação. Se o tema está quente, é melhor não ficar para trás. Mas nem sempre conseguimos ir na esteira das novidades e entender tudo que tem acontecido no mundo do RH.
A roda gira, e às vezes bem rápido. Esta seção de Cajuína traz os assuntos mais frescos do universo de quem trabalha com gente.
Na pauta dessa semana, vamos falar sobre… um anúncio recente feito pelo Nubank sobre a retomada do trabalho presencial – e o que isso significa para os RHs de todo o Brasil.
Antes da pandemia, trabalho remoto era algo exclusivo a algumas empresas ousadas. Com o isolamento social, ele se tornou a regra – mantida por muitas organizações depois do fim do período mais grave de contágio pelo coronavírus. Uma dessas empresas foi o Nubank, que alcançou o status de empresa mais valiosa do Brasil enquanto pedia a seus colaboradores que fossem ao escritório presencialmente apenas uma vez a cada três meses. Mas agora, as exigências vão mudar.
Nesta quinta-feira, 6, a empresa divulgou, em comunicado a seus 9,5 mil funcionários, que passaria a requisitar a presença dos colaboradores nos escritórios três vezes por semana a partir de 2027. No ano que vem, a regra será de apenas dois dias presenciais por semana, período considerado pela organização como “de adaptação”.
A decisão, segundo a empresa, está ligada a “custos invisíveis” do home office integral, como perda de conexão entre equipes, enfraquecimento da cultura e redução das trocas espontâneas no dia a dia.
“Em um mundo prioritariamente remoto, a energia se esvai. Videochamadas reduzem as pessoas a quadrados. As conversas se tornam transacionais. Os momentos espontâneos – a troca no corredor, o entusiasmo compartilhado ao resolver um problema, a celebração após um lançamento difícil – desaparecem”, disse o CEO e cofundador da empresa, David Velez, no documento.
A mudança vem acompanhada de um plano de transição de quase dois anos, que inclui ampliação dos escritórios e apoio à realocação de funcionários. No mesmo comunicado, a empresa reconhece que o processo pode gerar desconforto para quem se mudou para outras cidades durante o período remoto, mas aposta que o contato presencial ajudará a recuperar colaboração e senso de pertencimento.
O caso do Nubank, claro, não é isolado. Nos últimos meses, outras grandes companhias de tecnologia e serviços também vêm revendo seus modelos de trabalho. A Microsoft, por exemplo, reforçou a presença mínima em escritório; o Google e a Meta já vinculam bônus de desempenho à frequência presencial; e bancos como Itaú e JPMorgan também ampliaram a exigência de dias no escritório.
O argumento comum é que o home office trouxe flexibilidade e ganhos de produtividade, mas também dificultou a integração, a criatividade e o aprendizado informal entre as equipes. Ao mesmo tempo, a decisão reacende um ponto sensível: como equilibrar o desejo das empresas por proximidade e o desejo dos profissionais por autonomia?
Pesquisas recentes mostram que esse debate segue aberto. Levantamento da consultoria KPMG indica que 61% das empresas brasileiras já adotam algum modelo híbrido, mas apenas 18% pretendem voltar ao trabalho totalmente presencial. Entre os funcionários, 70% dizem valorizar a flexibilidade acima de qualquer benefício adicional — e 40% afirmam que repensariam permanecer na empresa caso fossem obrigados a voltar todos os dias.
A guinada do Nubank simboliza um novo capítulo do debate sobre o futuro do trabalho. Depois de um período marcado pela experimentação, as empresas parecem buscar um ponto de equilíbrio mais sustentável entre flexibilidade e convivência. Para o RH, isso significa redesenhar políticas, rever acordos e, principalmente, gerenciar expectativas.
Mais do que definir quantos dias de presença são obrigatórios, será preciso comunicar com clareza o porquê da decisão e criar condições para que o retorno faça sentido. Isso inclui avaliar infraestrutura, deslocamentos, dinâmicas de equipe e até o impacto psicológico da mudança. O desafio não é apenas logístico, mas principalmente cultural – e pode gerar efeitos colaterais na equipe.
Ao mesmo tempo, a retomada do escritório reabre a discussão sobre o papel dos espaços físicos. Se antes o escritório era sinônimo de controle, agora ele precisa ser um lugar de encontro e propósito – caso contrário, questões como absenteísmo, turnover e problemas de saúde mental podem afetar a equipe. Ambientes colaborativos, eventos presenciais e momentos de troca podem ajudar a reforçar o que, na visão do Nubank e de outras organizações, o trabalho remoto não entrega: a sensação de pertencimento e de comunidade.
Há quem veja na volta ao presencial um retrocesso. Outros, um ajuste de rota. Para o bom RH, porém, o que mais importa aqui é a intencionalidade – isto é, explicar os motivos que fazem sentido por trás de uma decisão para convencer os colaboradores de sua importância, tratando-os como adultos. Símbolo de uma era da economia brasileira, o Nubank tem um papel importante para provar esse ponto – ou servir de exemplo pelo contrário.
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