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Por que estão falando tanto da… retomada do trabalho presencial

Empresa mais valiosa do Brasil, o Nubank anunciou recentemente a retomada da obrigatoriedade da ida aos escritórios; mudança em empresa símbolo do ‘home office’ reacende debate por trás de modelos de trabalho

Bruno Capelas
6 de novembro de 2025
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O que você precisa saber

Antes da pandemia, trabalho remoto era algo exclusivo a algumas empresas ousadas. Com o isolamento social, ele se tornou a regra – mantida por muitas organizações depois do fim do período mais grave de contágio pelo coronavírus. Uma dessas empresas foi o Nubank, que alcançou o status de empresa mais valiosa do Brasil enquanto pedia a seus colaboradores que fossem ao escritório presencialmente apenas uma vez a cada três meses. Mas agora, as exigências vão mudar. 

Nesta quinta-feira, 6, a empresa divulgou, em comunicado a seus 9,5 mil funcionários, que passaria a requisitar a presença dos colaboradores nos escritórios três vezes por semana a partir de 2027. No ano que vem, a regra será de apenas dois dias presenciais por semana, período considerado pela organização como “de adaptação”. 

A decisão, segundo a empresa, está ligada a “custos invisíveis” do home office integral, como perda de conexão entre equipes, enfraquecimento da cultura e redução das trocas espontâneas no dia a dia. 

“Em um mundo prioritariamente remoto, a energia se esvai. Videochamadas reduzem as pessoas a quadrados. As conversas se tornam transacionais. Os momentos espontâneos – a troca no corredor, o entusiasmo compartilhado ao resolver um problema, a celebração após um lançamento difícil – desaparecem”, disse o CEO e cofundador da empresa, David Velez, no documento. 

A mudança vem acompanhada de um plano de transição de quase dois anos, que inclui ampliação dos escritórios e apoio à realocação de funcionários. No mesmo comunicado, a empresa reconhece que o processo pode gerar desconforto para quem se mudou para outras cidades durante o período remoto, mas aposta que o contato presencial ajudará a recuperar colaboração e senso de pertencimento.

O caso do Nubank, claro, não é isolado. Nos últimos meses, outras grandes companhias de tecnologia e serviços também vêm revendo seus modelos de trabalho. A Microsoft, por exemplo, reforçou a presença mínima em escritório; o Google e a Meta já vinculam bônus de desempenho à frequência presencial; e bancos como Itaú e JPMorgan também ampliaram a exigência de dias no escritório. 

O argumento comum é que o home office trouxe flexibilidade e ganhos de produtividade, mas também dificultou a integração, a criatividade e o aprendizado informal entre as equipes. Ao mesmo tempo, a decisão reacende um ponto sensível: como equilibrar o desejo das empresas por proximidade e o desejo dos profissionais por autonomia?

Pesquisas recentes mostram que esse debate segue aberto. Levantamento da consultoria KPMG indica que 61% das empresas brasileiras já adotam algum modelo híbrido, mas apenas 18% pretendem voltar ao trabalho totalmente presencial. Entre os funcionários, 70% dizem valorizar a flexibilidade acima de qualquer benefício adicional — e 40% afirmam que repensariam permanecer na empresa caso fossem obrigados a voltar todos os dias.

O que isso significa para o RH

A guinada do Nubank simboliza um novo capítulo do debate sobre o futuro do trabalho. Depois de um período marcado pela experimentação, as empresas parecem buscar um ponto de equilíbrio mais sustentável entre flexibilidade e convivência. Para o RH, isso significa redesenhar políticas, rever acordos e, principalmente, gerenciar expectativas.

Mais do que definir quantos dias de presença são obrigatórios, será preciso comunicar com clareza o porquê da decisão e criar condições para que o retorno faça sentido. Isso inclui avaliar infraestrutura, deslocamentos, dinâmicas de equipe e até o impacto psicológico da mudança. O desafio não é apenas logístico, mas principalmente cultural – e pode gerar efeitos colaterais na equipe. 

Ao mesmo tempo, a retomada do escritório reabre a discussão sobre o papel dos espaços físicos. Se antes o escritório era sinônimo de controle, agora ele precisa ser um lugar de encontro e propósito – caso contrário, questões como absenteísmo, turnover e problemas de saúde mental podem afetar a equipe. Ambientes colaborativos, eventos presenciais e momentos de troca podem ajudar a reforçar o que, na visão do Nubank e de outras organizações, o trabalho remoto não entrega: a sensação de pertencimento e de comunidade.

Há quem veja na volta ao presencial um retrocesso. Outros, um ajuste de rota. Para o bom RH, porém, o que mais importa aqui é a intencionalidade – isto é, explicar os motivos que fazem sentido por trás de uma decisão para convencer os colaboradores de sua importância, tratando-os como adultos. Símbolo de uma era da economia brasileira, o Nubank tem um papel importante para provar esse ponto – ou servir de exemplo pelo contrário. 

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Bruno Capelas é jornalista. Foi repórter e editor de tecnologia do Estadão e líder de comunicação da firma de venture capital Canary. Também escreveu o livro 'Raios e Trovões – A História do Fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum'.