Na coluna de estreia para Cajuína, Raul Lores propõe uma discussão sobre modelo de trabalho e liderança

Por Eder Campos, Diretor de Educação Social da Fundação Dom Cabral
As decisões de investimentos em projetos sociais, culturais ou ambientais são grandes oportunidades de mudar o mundo. A empresa distribui um pedaço do valor gerado com seu negócio para algumas causas que escolhe, que acredita que irão ajudar a mudar o mundo para melhor.
Esse recurso é muito especial, afinal, temos tanta demanda por investimento nestas causas que somos cada vez mais rigorosos na seleção de projetos e parceiros.
Caso você acha que faltam bons projetos recomendo buscar maiores conexões e apoio na curadoria. Temos mais de 800 mil Organizações da Sociedade Civil (OSC) no Brasil.
Porém, entre identificar uma OSC e confiar seu investimento social a ela temos um salto de fé, chamado confiança, que anda de mãos dadas com a vontade e a prioridade. Permita-me explicar:
Menos de um terço dos brasileiros confia nas organizações não governamentais, conforme pesquisa de doação realizada em 2022. Essa é uma estatística focada nos indivíduos, suas decisões enquanto pessoa física. Quando extrapolamos isso para o contexto da pessoa jurídica, os medos e pressões só aumentam. A depender da cultura corporativa de compliance, gestão de riscos e afins é mais fácil defender um “não” do que o risco de um “sim” quando se trata de um projeto de doação.
Esse cenário de pouca confiança restringe opções. Limita talvez as causas e projetos que não necessariamente são aderentes aos seus propósitos. Entra em campo o tema da vontade e prioridade, afinal tempo é limitado e você tem um negócio para focar. Pode até investir algum tempo em achar ou conhecer um projeto diferente, mas terá dedicação e disposição para desenvolver confiança e investir?
Em muitos casos existe um outro ingrediente que não gostamos de enxergar: nossa vaidade.
Queremos fazer do nosso jeito. Somos vencedores em nosso negócio, lucramos, e na hora de investir no social acreditamos que temos as respostas e queremos fazer do nosso jeito. Fica ainda mais difícil achar um parceiro.
Muitos criam suas iniciativas. Os próprios institutos. Os projetos sociais próprios. É um caminho legítimo, mas pode ser menos potente.
A mudança do mundo exige alianças. Alianças estratégicas. Para tanto, é preciso ter propósitos comuns, mas definir o caminho em conjunto, com os membros dessa aliança.
A mudança do mundo exige alianças. Alianças estratégicas
As OSCs nesse campo entram não como fornecedoras, mas como parceiras. Desenvolvem e cocriam a solução com foco no problema. Precisam de ter maturidade de gestão e governança, como sua empresa, para poder mobilizar recursos e performar na execução. O fato de não terem fins lucrativos não implica que não precisam desempenhar.
Repare que a formação de alianças bem-sucedidas demanda ainda mais confiança. Confiança é um ciclo virtuoso reforçado pela entrega. Mas o que contratamos de entrega?
Ao investir em um projeto social queremos resultados, assim como ao investir em nosso negócio. O espírito está correto, mas a mentalidade na cobrança não necessariamente leva ao ciclo virtuoso nas relações de parceria com as OSCs.
Imagine que você investe na capacitação de 100 jovens, mas a OSC só te entrega 50. Quebrou a confiança? Mas, qual perfil de jovens estamos falando? Qual complexidade social estamos lidando? Queremos só contabilizar jovens ou investir na mudança do mundo? Temos a fórmula pronta e um manual de solução para os desafios sociais ou estamos em um campo de execução que exige inovação?
Você, no ambiente corporativo, quando não cumpre metas tende a perder um pedaço do seu bônus; no contexto da OSC, você já logo quer “descontinuar o negócio” (parar de doar é descontinuar o negócio social). Mas, a meta lá não se trata do bônus, sim do salário.
Obviamente os casos de desvio de aplicação de recursos não são toleráveis, mas cada vez que a mentalidade corporativa assume a cadeira de doações ela transpõe aplicações descontextualizadas do ambiente de maturidade e gestão das OSCs. Querem investir no finalístico, mas qual o custo e a preocupação para investimento em gestão, pessoas, governança?
Encarar essa realidade e contexto é mais complexo do que talvez você queira aceitar. Caminhos fáceis de não fazer ou não ousar fazer diferente são possíveis, mas não irão transformar o mundo.
O caminho do sucesso está na aliança, incluindo a busca de parceiros que apoiem a jornada das OSCs, que mobilizem mais investidores como você, que se preocupem com o desenvolvimento institucional do terceiro setor, dando sustentação e propulsão para as vocações finalísticas das organizações.
Assuma riscos com a aliança em busca de retornos maiores. Retornos que são impactos na sociedade que queremos viver. Aceite que a jornada terá insucessos, assim como encara a inovação no seu negócio. Criando a boa cultura e governança destas iniciativas sociais.
Promova suas alianças e busque parceiros que façam a execução de projetos que vale sua aposta. Componha tais alianças com olhar na sustentação de maturidade e gestão das organizações sociais investidas.
A boa notícia é que você que está no mundo corporativo, tem um imenso potencial mobilizador por meio do investimento em projetos sociais, culturais ou ambientais. Transformar o mundo depende de você!
Eder Campos. Executivo com 15 anos de experiência em Relacionamento com Clientes, Transformação Digital e Inovação nas indústrias de saneamento, agronegócio, Family Office, consultoria, imobiliário e setor público, tendo ocupado posições de liderança na iniciativa privada e pública. Economista e administrador público de formação com MBA em Gestão de Negócios pelo IBMEC. Atualmente, Diretor de Clientes e Soluções Sociais na Fundação Dom Cabral (FDC) e Conselheiro de Administração da Eternit S/A. Profissional CCX – Certified CX Practitioner by Bain & Company.
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