Construtora focada em moradias populares criou programa específico para contratar migrantes e promover diversidade e inclusão no setor; executivo vê ‘ganha-ganha’ para colaboradores e empresa, além de ‘desmonte de vieses’ entre o time

Por Filipe Ducas*
Na Comp, trabalhamos com empresas de todos os portes – desde startups em fase inicial até grandes companhias tradicionais que buscam mais agilidade e inovação. Um dos dilemas mais comuns entre fundadores e executivos seniores é: como escalar a visão do negócio e o sentimento de dono sem perder velocidade e alinhamento?
Nas startups, esse desafio surge à medida que o crescimento exige mais estrutura. Já nas empresas tradicionais, a questão é como resgatar a agilidade e a mentalidade empreendedora em um ambiente consolidado. Em ambos os casos, a pergunta central é a mesma: como manter uma liderança próxima da operação sem criar gargalos ou sufocar a autonomia dos times?
Tenho me aprofundado nesse tema e ajudado empresas a encontrar modelos que equilibrem velocidade, autonomia e alinhamento estratégico. O Founder Mode tem sido um dos conceitos mais debatidos nesse contexto – e vale a pena entender seus benefícios, riscos e como aplicá-lo de forma eficaz.
O conceito de Founder Mode vem sacudindo o ecossistema de startups e já se tornou um dos temas mais quentes entre empreendedores e investidores do Vale do Silício. Elon Musk (Tesla, SpaceX), Patrick Collison (Stripe) e Brian Chesky (Airbnb) são alguns dos grandes nomes que defendem essa abordagem. Para eles, a inovação morre quando a burocracia assume o controle. E a única forma de evitar isso é manter os fundadores e líderes seniores no centro das decisões estratégicas e operacionais.
Mas aqui está a grande questão: será que o Founder Mode é um modelo revolucionário de gestão ou apenas um culto à liderança centralizadora?
Empresas como Tesla, SpaceX, Stripe e Airbnb apostam nesse modelo para evitar que a estrutura corporativa se torne lenta e ineficiente. O princípio básico? Manter a liderança próxima da operação, com um senso de urgência quase obsessivo e uma cultura de tomada de decisão ágil.
No papel, isso parece o sonho de qualquer empresa inovadora. Na prática, pode se transformar em uma faca de dois gumes.
Quando mal implementado, o Founder Mode pode sufocar times, desvalorizar talentos e criar um ambiente onde apenas a visão dos líderes importa. Decisões rápidas podem virar impulsividade. A eliminação de processos pode gerar caos. E a suposta autonomia pode, na verdade, ser apenas um microgerenciamento disfarçado.
O desafio é claro: como manter a velocidade e a inovação sem transformar o ambiente de trabalho em um campo de batalha?
Apesar do nome, o Founder Mode não precisa estar restrito aos fundadores. Líderes seniores também podem (e devem) adotar essa mentalidade. Mas para isso, precisam ir além do discurso.
As características-chave de um líder no Founder Mode:
Mas aqui está o problema: nem todo líder está preparado para isso. Sem maturidade, essa abordagem pode rapidamente descambar para centralização excessiva, decisões impulsivas e um ambiente tóxico de trabalho.
A grande questão é: até que ponto essa autonomia impulsiona resultados e quando ela se torna um pretexto para líderes controladores sufocarem suas equipes?
Por mais sedutor que seja, o Founder Mode tem riscos evidentes. Entre eles:
Se esses problemas não forem bem gerenciados, o Founder Mode pode ser mais uma bomba-relógio do que um modelo de sucesso.
Nem toda empresa deve (ou pode) operar no Founder Mode. Algumas perguntas precisam ser feitas antes de considerar essa abordagem:
Se a decisão for adotar o Founder Mode, é preciso preparar a empresa para isso. Aqui estão os pilares para que essa abordagem funcione sem se tornar um problema:
O Founder Mode é um modelo poderoso – quando bem aplicado. Mas ele não é um passe livre para que fundadores e líderes ignorem processos, desacreditem suas equipes ou tomem decisões sem embasamento.
O verdadeiro desafio não é apenas implementar esse modelo, mas garantir que ele realmente torne a empresa mais ágil, inovadora e eficiente. Caso contrário, o Founder Mode pode ser apenas um disfarce para uma liderança centralizadora e desgastante.
No fim das contas, a pergunta que todo líder precisa se fazer é: estou acelerando a empresa ou apenas criando um sistema onde tudo depende de mim?
Mas há um outro fator crítico que muitas vezes é ignorado nessa discussão: como alinhar incentivos extrínsecos para que esse modelo realmente funcione?
Se queremos que líderes atuem como donos, será que estruturas tradicionais de remuneração fazem sentido? Como equity, bônus e benefícios por impacto podem fortalecer (ou enfraquecer) o Founder Mode?
*Filipe Ducas. Formado em Administração, com Especialização em Recursos Humanos e MBA Internacional em Liderança e Gestão, Ducas é uma das referências brasileiras no setor de Remuneração e Benefícios, com uma carreira global e robusta. Co-fundador e Executivo Sênior de Remuneração da Comp, possui mais de 20 anos de experiência em posições de liderança em Remuneração, Operações de RH e People Analytics em gigantes como IBM, Atento, Cognizant, XP Inc. e Grupo OLX. Sua expertise é desenhar políticas e liderar projetos transformadores, com foco em utilizar tecnologia para potencializar o capital humano. Pela Comp, já foi responsável por ajudar mais de 100 empresas a construírem estratégias de remuneração que conectam a estratégia de talentos com o negócio.
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