Busque por temas

Em alta

Founder Mode: o modelo de liderança que rompe as regras (e pode afundar empresas)

O Founder Mode não é sobre estar no controle de tudo, mas sobre remover barreiras para que a empresa siga avançando

Convidado Comp
12 de março de 2025
Leia emminutos
Voltar ao topo

Por Filipe Ducas*

Na Comp, trabalhamos com empresas de todos os portes – desde startups em fase inicial até grandes companhias tradicionais que buscam mais agilidade e inovação. Um dos dilemas mais comuns entre fundadores e executivos seniores é: como escalar a visão do negócio e o sentimento de dono sem perder velocidade e alinhamento?

Nas startups, esse desafio surge à medida que o crescimento exige mais estrutura. Já nas empresas tradicionais, a questão é como resgatar a agilidade e a mentalidade empreendedora em um ambiente consolidado. Em ambos os casos, a pergunta central é a mesma: como manter uma liderança próxima da operação sem criar gargalos ou sufocar a autonomia dos times?

Tenho me aprofundado nesse tema e ajudado empresas a encontrar modelos que equilibrem velocidade, autonomia e alinhamento estratégico. O Founder Mode tem sido um dos conceitos mais debatidos nesse contexto – e vale a pena entender seus benefícios, riscos e como aplicá-lo de forma eficaz.

O conceito de Founder Mode vem sacudindo o ecossistema de startups e já se tornou um dos temas mais quentes entre empreendedores e investidores do Vale do Silício. Elon Musk (Tesla, SpaceX), Patrick Collison (Stripe) e Brian Chesky (Airbnb) são alguns dos grandes nomes que defendem essa abordagem. Para eles, a inovação morre quando a burocracia assume o controle. E a única forma de evitar isso é manter os fundadores e líderes seniores no centro das decisões estratégicas e operacionais.

Mas aqui está a grande questão: será que o Founder Mode é um modelo revolucionário de gestão ou apenas um culto à liderança centralizadora?

Founder Mode: O Fim da Burocracia ou Apenas um Microgerenciamento Disfarçado?

Empresas como Tesla, SpaceX, Stripe e Airbnb apostam nesse modelo para evitar que a estrutura corporativa se torne lenta e ineficiente. O princípio básico? Manter a liderança próxima da operação, com um senso de urgência quase obsessivo e uma cultura de tomada de decisão ágil.

No papel, isso parece o sonho de qualquer empresa inovadora. Na prática, pode se transformar em uma faca de dois gumes.

Quando mal implementado, o Founder Mode pode sufocar times, desvalorizar talentos e criar um ambiente onde apenas a visão dos líderes importa. Decisões rápidas podem virar impulsividade. A eliminação de processos pode gerar caos. E a suposta autonomia pode, na verdade, ser apenas um microgerenciamento disfarçado.

O desafio é claro: como manter a velocidade e a inovação sem transformar o ambiente de trabalho em um campo de batalha?

Founder Mode Além dos Fundadores: Líderes ou Ditadores Corporativos?

Apesar do nome, o Founder Mode não precisa estar restrito aos fundadores. Líderes seniores também podem (e devem) adotar essa mentalidade. Mas para isso, precisam ir além do discurso.

As características-chave de um líder no Founder Mode:

  • Decisão pelo impacto – Priorizam ações que realmente movem o ponteiro, cortando burocracias desnecessárias.
  • Contato direto com as equipes – Não ficam presos em relatórios de intermediários; preferem ouvir diretamente os times.
  • Capacidade de destravar processos – Não aceitam obstáculos como desculpas; removem barreiras para acelerar a execução.
  • Mentalidade de dono – Atuam como se fossem fundadores, garantindo que a visão da empresa se mantenha viva.

Mas aqui está o problema: nem todo líder está preparado para isso. Sem maturidade, essa abordagem pode rapidamente descambar para centralização excessiva, decisões impulsivas e um ambiente tóxico de trabalho.

A grande questão é: até que ponto essa autonomia impulsiona resultados e quando ela se torna um pretexto para líderes controladores sufocarem suas equipes?

As Armadilhas do Founder Mode: Quando a Liderança se Torna um Problema

Por mais sedutor que seja, o Founder Mode tem riscos evidentes. Entre eles:

  • Microgerenciamento disfarçado de agilidade – Se o líder precisa aprovar tudo, a empresa não é ágil; é apenas refém de uma única visão.
  • Escalabilidade limitada – Funciona bem para startups pequenas. Mas será que uma empresa com milhares de colaboradores pode operar com líderes em todas as decisões?
  • Viés de confirmação – Fundadores apaixonados por suas ideias podem ignorar críticas e criar bolhas de pensamento que sufocam a inovação.
  • Esgotamento das equipes – Se apenas os líderes têm autonomia real, os times podem perder motivação e sentir que suas opiniões não importam.
  • Decisões impulsivas e alto risco – A pressa para executar pode levar a escolhas ruins, colocando em risco a estratégia de longo prazo da empresa.

Se esses problemas não forem bem gerenciados, o Founder Mode pode ser mais uma bomba-relógio do que um modelo de sucesso.

Founder Mode: Um Modelo para Qualquer Empresa?

Nem toda empresa deve (ou pode) operar no Founder Mode. Algumas perguntas precisam ser feitas antes de considerar essa abordagem:

  • Em qual estágio a empresa está? Startups em fase inicial se beneficiam mais desse modelo. Empresas grandes precisam de adaptações.
  • A equipe tem maturidade para operar com autonomia? Se não tiver, o modelo pode virar um desastre.
  • A cultura organizacional favorece a descentralização? Se os processos já são lentos e burocráticos, mudanças bruscas podem gerar caos.
  • Os líderes sabem equilibrar estratégia e execução? Sem esse equilíbrio, o risco de microgerenciamento e decisões impulsivas cresce exponencialmente.

Como Implementar o Founder Mode sem Explodir a Empresa

Se a decisão for adotar o Founder Mode, é preciso preparar a empresa para isso. Aqui estão os pilares para que essa abordagem funcione sem se tornar um problema:

  1. Menos hierarquia, mais execução
    Reduza burocracias e elimine camadas de gestão desnecessárias, mas sem criar um ambiente de comando e controle disfarçado de agilidade.
  2. Líderes como facilitadores, não supervisores
    O papel do líder no Founder Mode não é controlar, mas remover obstáculos para que os times possam executar com autonomia real.
  3. Cultura de responsabilidade e alta performance
    Autonomia sem responsabilidade vira anarquia. Equipes precisam ser capacitadas para tomar decisões estratégicas sem precisar de aprovações constantes.
  4. Rituais de alinhamento para evitar caos
    Reuniões excessivas matam a produtividade. Mas falta de alinhamento pode gerar ruído e desalinhamento estratégico. O segredo é encontrar o equilíbrio certo.
  5. Agilidade sem precipitação
    Velocidade é importante, mas decisões impulsivas podem custar caro. O desafio é ser rápido sem ser imprudente.

Revolução ou Ilusão?

O Founder Mode é um modelo poderoso – quando bem aplicado. Mas ele não é um passe livre para que fundadores e líderes ignorem processos, desacreditem suas equipes ou tomem decisões sem embasamento.

O verdadeiro desafio não é apenas implementar esse modelo, mas garantir que ele realmente torne a empresa mais ágil, inovadora e eficiente. Caso contrário, o Founder Mode pode ser apenas um disfarce para uma liderança centralizadora e desgastante.

No fim das contas, a pergunta que todo líder precisa se fazer é: estou acelerando a empresa ou apenas criando um sistema onde tudo depende de mim?

Mas há um outro fator crítico que muitas vezes é ignorado nessa discussão: como alinhar incentivos extrínsecos para que esse modelo realmente funcione?

Se queremos que líderes atuem como donos, será que estruturas tradicionais de remuneração fazem sentido? Como equity, bônus e benefícios por impacto podem fortalecer (ou enfraquecer) o Founder Mode?

*Filipe Ducas. Formado em Administração, com Especialização em Recursos Humanos e MBA Internacional em Liderança e Gestão, Ducas é uma das referências brasileiras no setor de Remuneração e Benefícios, com uma carreira global e robusta. Co-fundador e Executivo Sênior de Remuneração da Comp, possui mais de 20 anos de experiência em posições de liderança em Remuneração, Operações de RH e People Analytics em gigantes como IBM, Atento, Cognizant, XP Inc. e Grupo OLX. Sua expertise é desenhar políticas e liderar projetos transformadores, com foco em utilizar tecnologia para potencializar o capital humano. Pela Comp, já foi responsável por ajudar mais de 100 empresas a construírem estratégias de remuneração que conectam a estratégia de talentos com o negócio.

Essa matéria vai bem com

Sorry, no posts matched your criteria.