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5 mitos sobre felicidade que afetam as empresas e seus funcionários, segundo o psicólogo Martin Seligman

Considerado o ‘pai’ da Psicologia Positiva, autor falou sobre a adoção da felicidade como um ativo corporativo e influência das redes sociais na criação de uma cultura de bem-estar; dicas também estão em novo livro A Mente do Amanhã

Maria Clara Dias
5 de dezembro de 2024
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A felicidade tomou conta das organizações – ou pelo menos deveria. É nisso que acredita Martin Seligman, psicólogo e acadêmico americano e um dos fundadores da Psicologia Positiva, área da psicologia que busca ressaltar as virtudes e fortalezas humanas para ajudar pessoas a alcançarem seu máximo potencial, ao invés de tratar patologias da mente.

Para ele, há uma nova ordem por trás da busca humana por realização, que passa diretamente pelo comprometimento de empresas em apoiar os funcionários a encontrarem a felicidade a partir de suas aptidões naturais e motivações. “Hoje já há uma percepção, até mesmo das empresas, de que felicidade é uma causa, não consequência”, afirmou, durante breve passagem pelo Brasil, em evento na sede da Heineken em São Paulo. A marca foi uma das principais patrocinadoras do Mind Summit, evento sobre saúde mental e bem-estar organizacional no qual o autor palestrou sobre propósito e felicidade.

Os princípios da Psicologia Positiva criados por Seligman têm norteado grande parte das ações de companhias que desenvolvem práticas voltadas ao bem-estar e saúde mental. O resultado é a popularização de diretorias de felicidade, responsáveis por estabelecer práticas azeitadas para manter não apenas o sorriso no rosto dos colaboradores, mas também irrigar para as diferentes esferas uma cultura corporativa voltada ao bem-estar e saúde mental – como é o caso da própria Heineken

Mas, diferente do que se imagina, a adoção de tecnologias, o imperativo das redes sociais e a chegada de novas gerações ao mercado de trabalho podem, na verdade, dificultar a busca pelo equilíbrio entre felicidade e realização — afastando a positividade do escopo corporativo. “Hoje, trata-se de uma questão de perspectiva. Quando olhamos para o mercado de trabalho atual e a força da geração Z, a pergunta que as empresas devem se fazer é: como fazer essa geração passar de pessimista para otimista?”, brincou Seligman, que destacou a relevância dos mais jovens em incentivar os esforços em favor da felicidade corporativa nos dias atuais — o que , para ele, torna o assunto ainda mais urgente.

Algumas dessas premissas estão em sua nova obra A Mente do Amanhã, escrita em parceria com a psicóloga Gabriela Rosen Kellerman e lançada recentemente no Brasil pelo selo Objetiva, da Companhia das Letras. Durante o papo, Seligman também destacou outros mitos ligados ao assunto, como a desconexão entre a felicidade e o impacto direto do tema nos indicadores financeiros das empresas. Veja abaixo:

#1 Felicidade não é uma habilidade

Um dos princípios da Psicologia Positiva é a chamada lista de virtudes, ou seja, os aspectos fundamentais da personalidade que precisam ser desenvolvidos e praticados ao longo da vida. De olho no futuro do trabalho, encontrar um equilíbrio entre as skills mais almejadas pelas empresas e o que os profissionais são realmente capazes de entregar é fundamental, o que colabora para que a felicidade seja vista como uma habilidade a ser desenvolvida. “Nosso papel é incentivar as pessoas a usarem essas forças e virtudes não apenas em seu papel familiar, mas no trabalho”, afirma Seligman.

“A maioria dos psicólogos acredita que a felicidade é uma consequência, não uma causa. Mas hoje já há uma percepção, até mesmo das empresas, de que felicidade é uma causa, não consequência”, disse. “Não é sobre o que causa a felicidade, mas o que a felicidade é capaz de causar”.

#2 A tecnologia só vem para agregar

O caráter comparativo resultante do uso intenso das redes sociais pode ser um campo minado para quem de fato procura exercer a felicidade, haja vista o excesso de rotinas perfeitas e habilidades impecáveis por ali compartilhadas. No âmbito profissional, isso não é diferente. 

Segundo Seligman, cabe às empresas influenciar positivamente seu público interno, considerando o contexto de “positividade tóxica” que pode hoje tomar conta das organizações. “O desafio para quem trabalha é encontrar formas de como a mídia pode ser bem-vinda, ao invés de nos desanimar. E a resposta é que nós realmente não sabemos os efeitos, mas eu ainda não vi um aplicativo que realmente faz as pessoas mais felizes”.

#3 Bem-estar e felicidade são ativos naturais

Apesar dos crescentes esforços em favor da felicidade, ainda é preciso convencer as empresas de que isso importa. “As empresas entenderam que hoje a saúde mental importa, mas ainda é preciso convencê-las de que é preciso investir em felicidade”, diz.

Seligman citou o exemplo da Heineken, que atualmente possui uma diretoria de felicidade responsável por monitorar os principais indicadores ligados à satisfação, saúde e bem-estar dos funcionários. A empresa leva em conta as premissas da psicologia positiva para pautar essas ações, que hoje já fazem parte da cultura e das políticas de compensação, bonificação e remuneração da companhia.

#4 A felicidade depende apenas das empresas

É uma ilusão pensar que propagar uma cultura corporativa depende exclusivamente do esforço de empresas em estruturar iniciativas e programas voltados ao assunto. Para o criador da Psicologia Positiva, o primeiro passo para que a felicidade seja colocada em prática está no autoconhecimento das forças e virtudes pessoais.

#5 Felicidade não tem a ver com números

Ao falar de felicidade dentro do contexto corporativo, a argumentação financeira importa muito. Afinal, transformar a felicidade e o bem-estar em um ativo cultural passa pela necessidade de investimentos e mudanças estruturais. Portanto, achar que ela não desempenha nenhum papel financeiro é um mito. A principal mensuração para isso é, talvez, a produtividade.

Para empresas que não possuem ainda áreas ou iniciativas estruturadas para dar conta do assunto, ele recomenda: comece pela compensação baseada na produtividade. “Pessoas mais felizes são naturalmente mais produtivas. Por isso, um caminho é criar uma filosofia de promoção de pessoas com base em seus resultados de produtividade. Isso gera um ciclo de apoio à felicidade”, afirmou.

Jornalista de negócios, empreendedorismo e tecnologia. Passou por publicações como Exame, Época Negócios e Autoesporte, além de colaborar com reportagens especiais para a Gazeta do Povo. É vencedora do Prêmio de Destaque em Franchising na categoria Jornalismo de Revista pela ABF em 2022.

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