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O que é um Head de Futuro do Trabalho, por Clara Ribeiro da Zup Innovation
Com passagens pela 99 e pela Loft, a paulistana de 30 anos tem o desafio de pensar em como os colaboradores da Zup se relacionam com o trabalho em um cenário remote first
Batemos um papo com Clara Ribeiro, Head de Futuro do Trabalho na Zup Innovation, para entender não só o que faz a área, mas seus principais desafios e inspirações.
Como surgiu a ideia de ter essa área na empresa?
A vaga de Head de Futuro do Trabalho nasceu como uma necessidade de amarrar o way of work da Zup e os impactos do trabalho remoto e distribuído. Hoje, temos colaboradores em mais de 400 cidades no Brasil e 10 países. Imagina o quanto o trabalho não estava prendendo essas pessoas nas cidades antes da pandemia? Agora, o trabalho vai junto com você. Só que, a partir desse momento, tem uma série de desafios junto: que tipo de logística a empresa monta para conseguir organizar? Como é a questão dos riscos para as pessoas estarem fora do país? Até que ponto a empresa consegue ajudar ou não? Como a gente faz com que essas pessoas se sintam parte de algo sem precisar estar no escritório?
Nos primeiros meses de pandemia, as áreas foram criando squads para tratar dessas complexidades que são desafios transversais aos times, mas chegou um ponto em que as pautas estavam demandando muita energia. Foi quando viu-se a necessidade de ter uma equipe para ficar responsável por todas essas questões.
Na área temos muito contato com todo mundo, principalmente com os times de facilities, bem-estar, marketing, compras e benefícios.
Como você chegou a essa posição?
Eu trabalho em empresas de tecnologia desde 2016. Passei pela 99 e pela Loft, sempre olhando para a experiência do cliente. Em alguns momentos, atuei em times mais próximos da operação, de produto, mas sempre olhando para CX. Com o tempo, reparei que estava olhando cada vez mais para employee experience também. A verdade é que eu gosto de gente, seja interna ou externa.
No auge da pandemia, sentia muita falta da dinâmica de escritório. Aquilo mudava a experiência que eu tinha com o trabalho.
Na época, liderei o projeto do que seria a visão do futuro do trabalho na Loft e embarquei nesse assunto. Trabalhar remoto não é só home office. Por que a gente, que tem condições, não flexibiliza o conceito de casa? Será que eu não posso morar na praia ou em outros lugares?
Comecei a levar o tema para amigos que trabalham em tecnologia também e, no fim, descobri uma nova forma do meu trabalho se encaixar na minha vida, e não o contrário.
Antes, aquela ideia de morar na praia era só se fosse vendendo a minha arte, mas eu não tenho arte nenhuma pra vender [risos].
Comecei a ficar muito adepta do anywhere office e, por conta disso, retomei conversas com uma antiga diretora minha, que falou: “a gente precisa que mais pessoas repensem. Você está pensando no seu microcosmo a sua relação profissional/pessoal, e acho que isso é o futuro pra gente pensar a nível empresa também.”
A gente vem de um momento em que já éramos sugados pelo trabalho. Os escritórios eram fun, a gente almoçava lá, fazia happy hour, alguns deixavam até levar cachorro. A vida, de certa forma, se transportava para o trabalho. E essa relação pode causar burnout, entre outras coisas. Uma das propostas da minha área hoje é pensar sobre essa relação, em como os colaboradores aproveitem da flexibilidade, das decisões que podem tomar para ter mais prazer, saúde e fôlego para estar aqui por mais tempo.
Quais desafios você encontra no dia-a-dia?
O principal desafio que a gente enfrentou foi entender como lidamos com o cenário de pessoas querendo ir para fora do país. Várias empresas de tecnologia compartilham desse receio de “ah, como funciona? Pode ou não pode? Quais são os riscos?”.
Outro é entender que o trabalho remoto e distribuído abre possibilidades para as pessoas, mas a gente não acha que todo mundo tem que ficar 100% remoto o tempo inteiro, sem escritórios e sem ponto de encontro. Pelo contrário. O presencial continua super importante para a criação de vínculo, identidade de time. Aqui na área a gente cria um pouco das regras do jogo para que as lideranças também saibam quais são as ferramentas que elas têm para construir isso com seus times.
Aliás, o papel da liderança é muito importante e influencia muito no engajamento geral. No cenário atual isso se torna um desafio ainda maior porque no mundo do trabalho remoto você tem menos referências externas.
Você não olha para o lado e lê o cenário. O colaborador precisa de mais informações que são direcionadas para que ele entenda o contexto. Aqui na área a gente desenvolve também uma base para que as pessoas tenham essa orientação, mas sem criar um material engessado. Preciso garantir que todo mundo saiba pra onde ir, de que forma, que saiba os combinados do way of work. Isso são construções de médio-longo prazo.
Tem outro fator que dá uma complexidade extra no modelo da Zup que é o fato de trabalhar com clientes. Então também temos o desafio de alinhar o way of work da Zup com a rotina das empresas que nos contratam.
Algum projeto legal que vocês estão tocando?
Estamos estruturando, por exemplo, uma frente para entendermos quem são os Zuppers [como são chamados os colaboradores da empresa]. Mais do que nunca, o lado profissional precisa se adaptar ao lado pessoal, então é muito importante entender quais são suas reais necessidades e construir algo que seja excelente para mim, que quero morar na praia, mas também para uma pessoa que está pensando em eventualmente ter filhos, gente que quer cuidar dos pais, viver projetos pessoais…
Vocês continuam com escritório físico?
Sim. Além de um em Uberlândia, cidade natal da Zup, temos escritórios também em São Paulo e em Campinas. Mas o jeito de enxergá-los mudou. O escritório não é mais o lugar onde as pessoas vão para trabalhar, e sim o lugar que a gente quer criar para que elas queiram estar ali. Não é uma vitrine de produtividade, mas uma ferramenta de engajamento. Menos mesas e mais um espaço para interagir.
O que te inspira a fazer seu trabalho?
A primeira vez que eu fui tentar entender o que era o futuro do trabalho, eu fiquei com duas referências que já trabalhavam de forma remota antes da pandemia: Gitlab, que inclusive valoriza bastante a importância da documentação no cenário remoto – no site tem um manifesto legal; E a Buffer, pois eles têm um report chamado State of the remote que é interessante acompanhar para saber o que as pessoas gostam e não gostam.
E tem um livro legal também chamado Rework, escrito pelo fundador do Basecamp, que vai para além do remoto. Ele traz uma proposta de repensar aquelas regras não ditas do trabalho, e de questionar mais do que partir de verdades absolutas.
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