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Não cancele o clássico. Novos olhares para a liderança

Paulo Almeida, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral, discute os tipos e dimensões da liderança no contexto atual dos negócios

Convidado Fundação Dom Cabral
19 de novembro de 2024
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Por Paulo Almeida*

Já se fala há bastante tempo sobre o papel fundamental de um líder numa organização. Afinal, não basta apenas alcançar metas financeiras. Uma empresa verdadeiramente próspera reconhece a importância de operar de forma responsável em todos os níveis. Ou seja, uma Liderança Ética e Responsável em Organizações Prósperas é, no mundo dinâmico dos negócios de hoje, um componente vital para o sucesso de uma organização. 

Para isso, a Fundação Dom Cabral realizou um estudo com o objetivo de entender melhor como está o Brasil nas 6 dimensões da liderança. A análise contou com a participação de 139 empresas privadas e organizações públicas do país, a partir das respostas de CEOs, Presidentes, Vice Presidentes, Diretores e Alta Liderança, para compreender essas seis dimensões da liderança de acordo com a Fundação Dom Cabral: Responsável, que coloca a ética, a sustentabilidade e a responsabilidade; Adaptativa, caracterizada pela capacidade de um líder de ajustar seu estilo e estratégias em resposta a mudanças constantes e imprevisíveis; Centrada no Cliente, que coloca o cliente no centro de todas as decisões e estratégias; Redes e Ecossistemas, que reconhece a importância das conexões e colaborações em um mundo cada vez mais interconectado; Ágil, que responde às demandas de um mercado em constante mudança e à necessidade de adaptação rápida; e Inovadora, voltada para a criação de um ambiente que promove a inovação contínua. 

A liderança responsável reflete o compromisso com a ética, sustentabilidade e responsabilidade social. Esta dimensão propõe que líderes de todos os níveis, especialmente os mais altos, incorporem uma abordagem de negócios que vá além do lucro, focando também em impactos ambientais, sociais e éticos. O estudo mostra que a liderança responsável é mais forte nos níveis superiores das empresas, como Presidência e Vice-Presidência, mas apresenta uma queda significativa ao se descer na hierarquia. Essa constatação é relevante, pois indica que, embora a alta liderança tenha um discurso e práticas alinhadas com a ética e a sustentabilidade, essa cultura ainda não se traduz plenamente para os níveis de gerência e operação.

A liderança adaptativa é caracterizada pela capacidade de um líder ajustar seu estilo e estratégias conforme as mudanças e incertezas do mercado. No atual cenário, marcado por transformações rápidas e imprevisíveis, a adaptabilidade se torna essencial para a sustentabilidade das empresas. Aqui, os líderes brasileiros demonstraram uma forte adaptação ao ambiente dinâmico e volátil dos negócios, com alta capacidade de ajustar suas abordagens conforme novas demandas. Essa habilidade está particularmente presente em empresas de grande porte, que precisam responder rapidamente a mudanças regulatórias, econômicas e tecnológicas. No entanto, entre as empresas de médio porte, foi observado que a capacidade adaptativa ainda encontra certos obstáculos.

A liderança centrada no cliente coloca as necessidades do cliente no centro das decisões estratégicas, garantindo que todas as operações e iniciativas da empresa sejam orientadas para atender e superar as expectativas dos consumidores. O estudo revelou que a liderança centrada no cliente é uma das dimensões onde se observam maiores gaps, especialmente nas empresas de grande porte e naquelas com mais de 500 colaboradores. Embora muitas empresas reconheçam a importância dessa dimensão, sua implementação prática ainda é um desafio, com evidências de que o foco no cliente se perde em meio a processos burocráticos e estruturas organizacionais complexas. 

A liderança em redes e ecossistemas reconhece a importância das conexões e colaborações em um mundo interconectado, no qual empresas não operam isoladamente, mas fazem parte de uma rede mais ampla. Empresas de médio porte, especialmente aquelas com 101 a 500 colaboradores, apresentaram melhor desempenho nesta dimensão, mostrando-se mais integradas a seus ecossistemas. No entanto, as grandes empresas ainda enfrentam desafios para construir e fortalecer suas redes, muitas vezes devido a questões de concorrência e estrutura hierárquica.

A liderança ágil responde rapidamente às demandas de um mercado em constante mudança, promovendo uma cultura de adaptabilidade e resposta rápida aos desafios. Embora as empresas brasileiras tenham obtido bons resultados na dimensão de liderança ágil, a pesquisa mostrou que ainda há gaps significativos, especialmente entre organizações de grande porte. Muitas dessas empresas demonstram dificuldades em adaptar seus processos com a velocidade necessária para responder a mudanças externas, o que pode comprometer sua competitividade no longo prazo.

Finalmente, a liderança inovadora é aquela que cria um ambiente propício para o desenvolvimento de ideias e soluções criativas. Empresas com forte liderança inovadora são capazes de antecipar tendências e se adaptar a novos desafios. Nesse particular, o estudo demonstrou que as empresas com 101 a 500 colaboradores estão mais integradas no seu ecossistema, mas precisam focar em inovação.

As 139 empresas que participaram do estudo variaram em porte e setor, abrangendo tanto grandes corporações, com faturamento superior a 1 bilhão de reais, quanto empresas menores, com receitas entre 1 milhão e 99 milhões de reais. Além disso, foi observado que, tanto empresas com mais de 500 colaboradores, quanto aquelas com estruturas mais enxutas, o que permitiu entender as nuances de liderança em diferentes contextos organizacionais.

A conclusão principal? Não cancele o clássico. Continue a apostar em Programas de Desenvolvimento de Pessoas e Lideranças, se quiser manter e sustentar sua relevância. Pois, mesmo com sutilezas e nuances, esse continua sendo o caminho.

*Paulo Almeida é professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral nas áreas de Liderança, Gestão de Pessoas, Desenvolvimento Organizacional e Transformação Digital. Desenvolve trabalhos em diversas empresas do Brasil e de Portugal, incluindo projetos de desenvolvimento de lideranças e de organizações nos domínios da transformação digital e liderança adaptativa, gestão de times de elevada performance, gestão da mudança e transformação da cultura organizacional, mindset baseado em neurociência para a inovação, e estratégia e transformação digital no mundo BANI e Phygital. Paulo é pós-graduado em Gestão pela NOVA School of Business & Economics, Doutorado em Sociologia com ênfase em gestão de pessoas pela IUL-University de Lisboa, e Especialista em Liderança Adaptativa pela Harvard Business Scholl. Com mais de 25 anos de experiência, Paulo lecionou e colaborou em formação de executivos sempre em Escolas de Gestão do Top 50 do Finantial Times. Paulo foi professor convidado na formação de executivos na Católica Lisbon – Business and Economics, na NOVA School of Business and Economics e no ISCTE Business School. Iniciou a sua carreira no Departamento de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas do Banco Central de Portugal. Atuou, no Brasil, em empresas privadas e organizações públicas como a 99, a Abraforte, a AngloAmerican, a ANVISA, a Assodeere, o Banco Votorantim, a Bayer, a Bunge, a Camil, o CETIC, a Dell, a Deloitte, o Grupo Assaí, o Grupo Marista, o Grupo Sabin, o iFood, a JDL, a Mercedes Benz Brasil, a NOVARTIS, a Petrobras, a Receita Federal, o SEBRAE, o SICOOB, o SICREDI, a SUZANO, a Syngenta, a Takeda, a Tegra, a TIM, a Unimed e a Vale, entre outras. Em Portugal atuou em empresas como o Banco de Investimento Global, a Caixa Central de Crédito Agrícola, a EDS, a Companhia de Seguros Fidelidade, a Caixa Geral de Depósitos, a GALP, a Novabase, a SAP, e a Vodafone, entre outras. É autor e coautor de mais de 200 publicações incluindo artigos, livros, trabalhos técnicos e científicos, publicados no Brasil, em Portugal e nos Estados Unidos.