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Por que estão falando tanto de… ‘licença infelicidade’

Benefício criado por rede varejista chinesa permite que colaboradores se ausentem do trabalho por 10 dias a cada ano caso se sintam infelizes, sem nem pedir aprovação da gerência; medida ajudou a reduzir turnover, mas talvez não resolva o problema de maneira estrutural

Bruno Capelas
10 de outubro de 2024
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O que você precisa saber? 

Um novo benefício trabalhista criado na China deu o que falar nos últimos dias: a licença por infelicidade. Criado por Yu Donglai, presidente da rede varejista Pang Dong Lai, a política permite que todos os colaboradores da empresa tirem um dia de folga quando estiverem se sentindo tristes, mal-humorados ou insatisfeitos. 

Sem precisar nem da aprovação da liderança para se ausentarem do trabalho, os colaboradores podem tirar até 10 dias de folga por ano com base na política, que é apenas uma das práticas inovadoras da organização. Outra mudança foi a introdução de uma jornada de trabalho mais curta para os padrões chineses, de apenas sete horas diárias. 

Quero que todos os funcionários tenham liberdade. Todo mundo tem momentos em que não está feliz, então, se você não estiver feliz, não venha trabalhar”, disse o empresário ao anunciar a novidade na China Supermarket Week, evento do setor varejista chinês realizado no último mês de março. 

Não foi só: a empresa criou ainda uma espécie de “prêmio por reclamação”: com valores entre 5 mil e 8 mil yuans (entre R$ 3,8 mil e R$ 6,2 mil), a bonificação recompensa os 7 mil colaboradores da Pang Dong Lai por lidarem com clientes mal-educados, mal-humorados ou impacientes. 

As medidas têm dado certo para resolver um dos problemas clássicos do varejo em todo o planeta: a alta rotatividade de colaboradores. De acordo com Yu, o turnover da Pang Dong Lai gira em torno dos 5% anuais. É um número expressivo: no Brasil, há redes varejistas cuja estatística chega em torno de 70%. 

O que isso significa para o RH? 

A preocupação com o bem-estar dos colaboradores é um dos grandes temas para o RH na atualidade. Desde a pandemia, o assunto tem ganhado força, com muitas empresas deixando de tratar a vida pessoal e profissional de seus times como assuntos separados. 

Há dados que mostram o quanto essa preocupação faz parte do dia a dia das organizações: em pesquisa recente, o instituto Gallup apurou que 46% dos colaboradores brasileiros se sente estressado durante seus dias de trabalho. Além disso, 18% dos participantes da pesquisa também relataram sentir raiva no cotidiano corporativo, enquanto um em cada quatro disse sentir triste no emprego que ocupa. 

Diante desse cenário, muitas empresas atuam em diferentes políticas – do uso de benefícios como auxílio-terapia e estímulos à saúde mental, até uma linha direta para que os colaboradores possam pedir apoio em diferentes questões, como acontece com a brasileira Gerdau. 

Apostar em uma licença-infelicidade parece uma forma inovadora de lidar com o problema, especialmente considerando que é natural todos terem dias ruins. No entanto, antes do RH sair adotando políticas assim, é preciso pensar em duas esferas. A primeira é entender como tal política pode ser controlada: da maneira que o Pang Dong Lai atua, a falta de aprovação da gerência pode gerar problemas no fluxo do trabalho. 

Outro ponto é entender que dar uma folga para o colaborador por infelicidade pode servir como um paliativo em dias extremamente ruins, mas não resolve as complexidades comuns ao tema de bem-estar no ambiente de trabalho. 

Mais do que se ausentar por um dia, o que muita gente precisa para ter uma boa qualidade de vida no trabalho envolve questões estruturais, como a cultura da empresa, a comunicação com a liderança, as oportunidades de crescimento e a pressão envolvida no dia a dia. São temas que o RH tem importância central para interferir e resolver.

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Bruno Capelas é jornalista. Foi repórter e editor de tecnologia do Estadão e líder de comunicação da firma de venture capital Canary. Também escreveu o livro 'Raios e Trovões – A História do Fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum'.