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Como o Grupo Lebes reforçou marca empregadora ao apoiar colaboradores afetados por enchentes no RS

Uma das principais redes de varejo do Sul do país, o Grupo Lebes teve parte de sua operação e força de trabalho afetadas pelas enchentes em maio deste ano; ações de apoio aos funcionários que perderam bens, como crédito emergencial e até mesmo apoio psicológico, ajudaram a reforçar employer branding

Maria Clara Dias
3 de setembro de 2024
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Após décadas em operação, é de se pensar que um negócio já tenha vivenciado todo tipo de situação — das montanhas russas econômicas a crises sanitárias e de saúde pública, por exemplo. Mas o Grupo Lebes, rede varejista do Sul do País com quase 70 anos no mercado, se deparou em maio deste ano com um contexto que jamais havia encarado: os impactos causados pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul.

Das 350 lojas físicas de móveis, eletrodomésticos e vestuário, 22 ficaram completamente submersas pelas águas. Além disso, quase um terço dos mais de 3 mil funcionários hoje espalhados por Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, também foram afetados pelas enchentes, enquanto 300 perderam tudo que tinham.

Em comparação com os cenários de crise anteriores, a tomada de decisão rápida, em caráter  emergencial, é o que deferiu a atuação do Grupo Lebes no período. Algumas ações, como a oferta de produtos a preço de custo, e um auxílio financeiro de até R$ 10 mil para funcionários que perderam tudo nas enchentes foram alternativas para conter os danos de forma imediata. 

O Grupo também estendeu programas de apoio psicológico já existentes a diferentes níveis da força de trabalho e antecipou o pagamento de importantes tributos, como o FGTS e o 13º salário. “Não sabiamos a proporção que isso iria tomar, mas com certeza foi uma situação que moldou a maneira como atuamos e somos vistos”, afirmou Otelmo Drebes, atual presidente da rede e membro da segunda geração no comando do negócio.

Na entrevista a seguir, o executivo explica os esforços da companhia para ajudar os funcionários afetados de maneira direta e indireta pelas chuvas no estado gaúcho, e como o conjunto de ações ajudou a estender ações já em curso no Grupo, como o apoio psicológico — até então, disponível apenas para a liderança. Ele também faz um paralelo entre as iniciativas e o contínuo trabalho de employer branding, conectando o apoio aos colaboradores e às comunidades do entorno à manutenção de um posicionamento positivo e “humano’’ aos olhos dos mais de 3 mil funcionários e do mercado. “O que fica de legado é que, trabalhando de uma forma justa, os colaboradores também retribuem na mesma intensidade”, afirma. Confira abaixo:

Otelmo, antes de começarmos a falar das ações emergenciais, me conte um pouco do contexto da Lojas Lebes em meio a tudo isso. Qual é a proporção do negócio e como ele foi afetado?

A Lebes é uma empresa tradicional. Temos 68 anos, e sou a segunda geração no comando da empresa, após o meu pai. Temos 350 filiais e em torno de 3 mil funcionários espalhados nos três estados do Sul, mas principalmente no Rio Grande do Sul. Quando as enchentes começaram, ninguém sabia o tamanho que elas teriam. Algumas decisões tiveram de ser tomadas, principalmente depois de perdermos estoque e instalações em mais de 20 lojas, tomadas por mais de dois metros de água.


E como foram definidas essas ações?

Em um determinado momento, quando percebemos que não seria possível ajudar a todos os afetados no Estado, vimos que era preciso priorizar dois grupos: o de pessoas e entidades mais próximas ao negócio, como os pequenos fornecedores e prestadores de serviço, como entregadores e montadores. São empresas menores e que corriam riscos maiores de ter operações paralisadas pelo fato de nós, como Lebes, também estarmos sendo afetados. Em relação às ações, o primeiro passo foi entrar em contato com nossos maiores fornecedores e prorrogar nossos pagamentos. Foi o que nos deu recursos para honrar os compromissos com os pequenos fornecedores e até adiantar pagamentos para os que precisaram. O outro grupo, o de funcionários, também virou prioridade: para eles, antecipamos o 13º salário e oferecemos produtos com desconto ou preço de custo, sempre pensando na reconstrução rápida de suas vidas.

Com tantos anos de existência, certamente a Lebes já encarou situações de adversidade no passado. Mas, o que há de diferente na maneira como lidou com as enchentes?

Costumo dizer que a pandemia havia sido um divisor de águas na nossa história, e que durou dois anos. Mas, com as enchentes, vivemos uma pandemia em poucos dias. Foi algo que nunca vimos antes, não pelas proporções, mas sim pelo impacto, já que pessoas e empresas próximas a nós foram diretamente afetadas, perdendo tudo. Sem dúvida foi uma situação como nenhuma outra antes, e que moldou a maneira como atuamos e somos vistos.

Qual foi o impacto que vocês, como empresa, puderam perceber a partir de todas essas iniciativas?

Muitas coisas têm o foco no longo prazo, e só o tempo dirá. Mas um exemplo mais imediato está na nossa sede em Eldorado do Sul. 80% das casas e empresas da cidade foram inundadas, mas a nossa sede não. O que vimos era um volume muito grande de roubos às lojas do entorno, mas a nossa ficou intacta. Como somos muito apoiados pelo crediário e pela proximidade com o consumidor, talvez esse seja um reflexo do apoio que também decidimos dar a esses clientes, estendendo prazo de pagamentos e dialogando diretamente com eles, algo que não é feito pelas grandes redes e pelas multinacionais.

E em relação à percepção como marca empregadora? Você acredita que esse conjunto de ações auxiliou o Grupo Lebes a estabelecer seu posicionamento como empresa humana e próxima à força de trabalho? 

O que ficou de tudo isso é algo que com certeza não éramos capazes de prever. Um exemplo é a maneira como nossos funcionários colocam dedicação no trabalho após um cenário como esse. Para alguns, por exemplo, demos uma quantia em dinheiro. Não havia compromisso de pagamento, e muitas vezes eram quantias irrelevantes para a empresa, mas muito importantes para o colaborador — alguns deles estão há anos conosco. Esse é apenas um exemplo de situação na qual percebemos a força de vontade, engajamento e gratidão no trabalho dali em diante. Isso transforma a forma como eles enxergam a empresa e com certeza, como nos posicionamos no mercado. 

E quais são os aprendizados que ficam após uma experiência como essa? E como isso influencia, na sua opinião, a atuação de outras empresas diante de situações de calamidade especialmente aquelas causadas pelas mudanças climáticas, que agora passaram a ser também uma preocupação para a força de trabalho.

A lição número um é a mudança na maneira de tratar as pessoas. Trabalhamos de uma forma muito justa e igualitária, repensando remuneração, compensação e benefícios de acordo com as competências e não por recortes. O que fica de legado é que, trabalhando de uma forma justa, os colaboradores também retribuem na mesma intensidade. Também vimos que um auxílio ou ajuda, mesmo em caráter emergencial, custa bem menos à empresa do que representa ao funcionário. 

O que fica de legado é que, trabalhando de uma forma justa, os colaboradores também retribuem na mesma intensidade.

A Lebes está hoje mais preparada para outras situações como essa no futuro?

Nós temos um plano de contingência, criado há alguns anos, criado por empresas e pessoas especializadas. Esse plano previa várias situações, mas não foi capaz de prever a pandemia ou as enchentes. Fomos pegos desprevenidos nas duas situações. Situações inesperadas como essa continuarão acontecendo, então é importante colocar na ponta do lápis nossa capacidade de tomarmos providências rápidas com muita humanidade e, principalmente, criatividade.

Jornalista de negócios, empreendedorismo e tecnologia. Passou por publicações como Exame, Época Negócios e Autoesporte, além de colaborar com reportagens especiais para a Gazeta do Povo. É vencedora do Prêmio de Destaque em Franchising na categoria Jornalismo de Revista pela ABF em 2022.