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Pesquisa feita por healthtech mostra que metade da força de trabalho na nova economia tem problemas de sobrepeso e um terço alega ter questões de saúde mental; em contrapartida, startups já apostam em programas especiais para melhorar a vida dos colaboradores
Bruno Capelas
8 de agosto de 2022
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A cena é comum e já faz parte da ficção: o paciente vai ao médico e descobre que, apesar de parecer tudo bem, está com uma questão de saúde. Sai do consultório disposto a mudar de vida – e a partir daí, os letreiros de abertura começam a rodar e a narrativa se desembaraça. Agora, imagine que essa mesma situação está acontecendo na sua empresa e você descobre que uma boa parte do time está doente ou pode ter problemas graves em breve?
Pois é essa uma situação mais próxima do cotidiano das startups brasileiras do que se imagina – ao menos, é o que indica uma pesquisa recente da healthtech Salú, realizada com 4,2 mil colaboradores de 150 empresas em sua base de clientes, formada majoritariamente por companhias inovadoras.
Os dados foram retirados de fichas médicas e questionários preenchidos pelos usuários da Salú, que ajuda startups e empresas de diferentes tamanhos a organizar seus exames ocupacionais e, a partir deles, extrair insights para melhorar seus programas de saúde – respeitando a LGPD. E os números chamam bastante a atenção: 52% dos colaboradores participantes da pesquisa hoje têm sobrepeso ou obesidade, 25% alegam ter problemas de sono e pelo menos 35% dizem ter problemas na qualidade de sua saúde mental. Além de poderem estar ligadas a diversas doenças graves, são questões que podem afetar diretamente a produtividade, a eficiência e a qualidade de vida dos colaboradores.
Não foi só: pelo menos 20% dos entrevistados disseram não ter tempo de praticar algum hobby recentemente – uma amostra de que entre família, trabalho e outras questões, não tem sobrado muito tempo para as pessoas. São respostas que deveriam acender um sinal amarelo em qualquer RH, uma vez que evidenciam sinais de desgaste que podem levar, por exemplo, a um burnout.
“É preciso ajudar as pessoas, elas têm uma vida fora do trabalho. Se a empresa não se preocupar com as pessoas, como é que o negócio vai prosperar?”, questiona Lívia Lourenço, diretora de Growth da Salú. Para ela, no entanto, não basta a empresa só oferecer um benefício – como plano de saúde ou vale-academia – para resolver o problema. “É preciso entender o perfil do colaborador e saber o que vai funcionar ou não. É complexo criar esse engajamento de saúde, mas tem que ter esse olhar.”
Lívia Lourenço, da Salú
O peso da pandemia
Na Olist, o gatilho para que esse novo olhar aparecesse foi – como em muitas empresas – o período de isolamento social causado pela pandemia. “Quando as pessoas foram para casa, muita gente achou que ia ser uma maravilha trabalhar de pijama. Mas depois de algumas semanas, o isolamento e o trabalho no quarto o dia todo acabaram despertando uma série de gatilhos”, conta Danilo Penteado, gerente de relações de trabalho, remuneração e benefícios da startup paranaense.
Vendo reflexos tanto na saúde física quanto mental dos colaboradores, a empresa passou, pouco a pouco, a implementar programas que focam em algumas das questões mais presentes no time – um olha para saúde mental, e o outro, para o sobrepeso. “A participação nos programas é totalmente voluntária, mas sentimos que é importante dar visibilidade para o colaborador, o que implica a sua decisão de cuidar ou não do assunto”, diz o executivo.
Além de ajudar a companhia a ganhar em produtividade e até em pesquisas de clima internas, os programas acabaram ajudando a empresa também a economizar: por conta das iniciativas (e dos dados que a justificam), a startup conseguiu reduzir o reajuste no plano de saúde (seu segundo maior custo com pessoal, só atrás do salário) de 50% para 16%. “E essa é uma semente que tem uma curva de rampagem para colher ainda outros efeitos práticos”, afirma Penteado. Para André Boff, co-fundador da Salú, ter dados pode ajudar as empresas a inverter o jogo de poder na hora de negociar planos de saúde: “O RH mostra que conhece sua base e passa a ter poder de barganha”, afirma.
Mente sã, corpo…
Já na Buser, o foco na saúde física segue a máxima “mente sã, corpo são, dinheiro no bolso”: no programa Bônus Esporte, a empresa dá um acréscimo de 5% a 10% do salário para os colaboradores que praticarem uma determinada quantidade de horas de atividade física todos os meses. “Sempre acreditamos na importância de criar um ambiente de trabalho em que as pessoas tenham energia, intensidade e alto astral. Decidimos incentivar a atividade física, até para que as pessoas tenham tempo para isso”, explica Cesar Barboza, CHRO da empresa de mobilidade, sobre o programa, que existe desde 2018. No entanto, nos últimos meses, a adesão subiu radicalmente, chegando a 92% de adesão dos funcionários – e vale para todo mundo, “do estagiário ao CEO”, diz o executivo.
Cesar Barboza, da Buser
Os dados são preenchidos pelos próprios funcionários em uma declaração no início de cada mês – se alguém mentir e for pego, é desligado. Segundo o CHRO da Buser, o programa ajuda na redução dos gastos com saúde. Além disso, a flexibilidade dada para cada colaborador definir sua rotina (e incluir a atividade física nela) também impacta diretamente na saúde mental. “É interessante para a empresa entender o que faz sentido abrir mão, para que o funcionário esteja engajado e tenha qualidade de vida ao mesmo tempo”, diz Barboza.
Nesse sentido, um dos aspectos fundamentais é cuidar da comunicação, afirma o executivo: afinal, se cada um vai trabalhar em um horário, é preciso tomar cuidado para que uma mensagem escrita não seja interpretada de forma agressiva, por exemplo. “Não basta só dar um benefício de academia, por exemplo, se a gente não estimular que as pessoas tenham seu momento para isso.”
Não basta só dar um benefício de academia, por exemplo, se a gente não estimular que as pessoas tenham seu momento para isso.
Primeiros passos
Para muita gente, pode parecer que se preocupar com benefícios é algo que só empresas em estágios mais avançados de desenvolvimento, como Olist e Buser, podem fazer. Mas não é o que pensa Aline Toretto, líder de Pessoas e Cultura da 180º, insurtech fundada há um ano e meio em São Paulo. “A gente está no early stage, mas se não mostrarmos na largada que nos preocupamos com as pessoas, isso não vai funcionar no futuro”, afirma a executiva, que ressalta que a incerteza é uma característica das startups. “Todo dia vivemos um desafio, que é trabalhar tentando validar uma hipótese, e há perfis que não vão conseguir navegar bem nesse ambiente. Nossa preocupação com saúde mental já começa dentro do nosso processo seletivo”, afirma.
Aline Toretto, da 180º
Além dos benefícios “usuais” ligados a saúde mental e física, a 180º também tem parceria com a E-moving, oferecendo uma bicicleta elétrica aos colaboradores, em regime de coparticipação. “Sabemos que é difícil conciliar exercício físico com o resto da rotina e São Paulo tem desenvolvido uma infraestrutura boa para isso. Tentamos achar a melhor solução para ajudar na mobilidade e também dar uma ajuda para o exercício do dia a dia”, explica Toretto.
No entanto, ela mesma reconhece que mais do que um benefício ou outro, é importante focar na cultura para que essas ações deem certo. “Se as lideranças não reconhecerem e entenderem a importância da saúde mental nos dias de hoje, se um chefe ficar cobrando entregas de madrugada e não respeitar os horários, não tem benefício que vá ajudar o colaborador”, diz a executiva, também reafirmando a importância da flexibilidade e da comunicação assíncrona como ferramentas para ajudar nessa caminhada todos os dias. Caminhada? É: é sempre preciso começar de algum lugar.
Bruno Capelas é jornalista. Foi repórter e editor de tecnologia do Estadão e líder de comunicação da firma de venture capital Canary. Também escreveu o livro 'Raios e Trovões – A História do Fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum'.