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“Em qualquer desafio, a melhor saída é colocar as pessoas no centro das decisões”, diz Mirella Gomiero, VP de Gente e Gestão da Afya

Com 20 anos de experiência e passagens por GPA, Ambev e Alcoa, executiva assume cadeira estratégica para ajudar companhia de soluções médicas a crescer, consolidar cultura corporativa e integrar colaboradores em transformação digital

Michele Loureiro
6 de fevereiro de 2024
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Dona de uma carreira que já soma mais de duas décadas, a mineira Mirella Gomiero já viveu de tudo um pouco no RH, tendo passado por setores como bebidas (Ambev), metalurgia (Alcoa) e varejo (Pão de Açúcar). Formada em Administração de Pessoas pelo Mackenzie, ela vive nos últimos meses um novo desafio: comandar a área de Gente & Gestão, Serviços e TI da Afya, empresa de educação e soluções digitais médicas que, recentemente, passou a ter ações listadas na B3. Com cerca de 21 mil alunos de medicina e mais de 10 mil colaboradores, a Afya está espalhada por 14 estados brasileiros. 

Com a meta de crescer nove vezes nos próximos nove anos, a empresa vive um ritmo acelerado de expansão – trazendo desafios bem diferentes ao que Mirella já viveu, como o de encolher times. Pós-graduada em Gestão de Pessoas pela FGV, ela comenta, em entrevista à Cajuína, sua receita para encarar essa nova missão. “Acredito que, em qualquer que seja a situação, a melhor saída é colocar as pessoas no centro das decisões e humanizar as relações”, afirma ela, cuja contratação ainda faz parte da estratégia e compromisso público da companhia em ter 50% dos postos de gestão ocupados por mulheres até 2030.

É o time que faz a diferença, garantindo a perpetuidade de negócio, e o RH tem a sorte de poder transitar por todas as áreas.

Mas os objetivos não param por aí: na apresentação de Mirella ao mercado, a Afya diz que a executiva foi contratada para “focar na consolidação da cultura corporativa e relevância como marca empregadora, além de integrar e acelerar a transformação digital, potencializando os colaboradores em busca de uma gestão cada vez mais digital e humana”. A missão parece não assustar a mineira, que aposta em uma agenda de longo prazo. “Eu me caracterizo como profissional de profundidade. Primeiro, fico na fase de planejar. Depois, executo até que venham resultados”, diz. A seguir, confira os melhores trechos da entrevista.

Você é formada em Administração de Empresas. Como se deu seu contato com a área de Recursos Humanos?

Já no primeiro ano de faculdade, comecei a buscar estágios e tinha em mente que queria algo ligado ao comércio exterior. Por isso, trabalhei em despachantes e empresas menores. Mas também sempre gostei muito do comportamento humano. Desde a adolescência, fiz cursos para entender as pessoas. E lembro que, certo dia, uma headhunter me ligou oferecendo estágio em RH numa empresa que eu achava super interessante, a Brahma. Lembro que pensei: “Mas RH?” E na mesma hora respondi: “E por que não?”. Sempre fui inquieta, e a curiosidade e a vontade de aprender me guiaram. Foi assim que entrei e não saí mais dessa área. No fim das contas, são as pessoas que fazem o negócio e o dia a dia da empresa acontecer. É o time que faz a diferença, garantindo a perpetuidade de negócio, e o RH tem a sorte de poder transitar por todas as áreas.

Nesses 20 anos de carreira, quais foram seus principais feitos? O que te marcou mais positivamente? 

Tive momentos muito felizes. Um que lembro com carinho foi quando fui expatriada pela Alcoa, participando de um projeto de estruturação e fortalecimento do RH em Pittsburgh, nos EUA. Lá, fui responsável pelo ciclo de remuneração, performance e inserção de dados e analytics, definição de indicadores para todos os países onde a empresa possuía negócios. Eu passava o dia falando com o mundo todo, o que me abriu referências, relacionamentos e modelos mentais de cultura, uma experiência que eu levo para o resto da vida. Lá, aprendi a ter mais empatia, respeito e trabalhar em time, entendendo o quanto as trocas potencializam uma companhia. Viver a diversidade na fonte me ensinou a ver como essas diferenças têm o poder de potencializar. 

Outra experiência marcante foi assumir a cadeira de número 1 de RH no GPA. Fiquei lá por sete anos, e passei de diretora a vice-presidente. Foi a oportunidade de viver um leque maior de funções e ir além do RH, participando da agenda de negócios. Foi um desafio, me adequando ao contexto do negócio e entendendo como colocar as pessoas no centro das decisões. Quando entrei no GPA, havia 150 mil colaboradores. Na minha saída, com o grupo focando no segmento premium de supermercados, eram 40 mil pessoas. Foi uma transformação enorme. Agora, na Afya, terei uma ótima oportunidade de aprender mais sobre essa conexão de RH com as necessidades da empresa. É sobre responsabilidade. O tempo todo, pensamos nas 10 mil famílias para cuidar e impactar. Vou às unidades e vejo a agenda de negócios, e observo o quanto o propósito e impacto são importantes para a companhia. 

Você saiu do varejo para a área médica e de educação. Quais são os principais desafios dessa cadeira? 

É um setor com outra proposta de valor e outro contexto de negócio, com ciclos mais alongados, se comparado ao varejo. A Afya também está num momento de crescimento que traz muitas perspectivas e desafios diferentes. Com o contexto de crescimento, a área de gente desempenha um papel estratégico para planejamento da força de trabalho, por meio de desenvolvimento, sucessão e programas com o mercado, para que as pessoas conheçam a Afya e tenham interesse em trabalhar conosco. 

No anúncio da sua chegada, a empresa disse que espera que você apoie a Afya em mais um passo rumo à consolidação de sua cultura corporativa e amplie a relevância como marca empregadora, além de integrar e acelerar a transformação digital, potencializando os colaboradores em busca de uma gestão cada vez mais digital e humana. É muita coisa, certo? Quais são as prioridades?

É uma agenda de longo prazo – e eu me caracterizo como uma profissional de profundidade. Primeiro, fico na fase de planejar. Depois, executo até que venham resultados. Não é à toa que tenho experiências longas com uma trajetória de coerência. A Afya está em momento singular de crescimento, vivendo um crescimento de quatro vezes em quatro anos. Agora, queremos crescer nove vezes em nove anos.

Trabalho para a construção de uma cultura que fale com os nossos colaboradores, para encantar os nossos clientes. Acredito que essa jornada médica é relevante e precisa ser construída de dentro para fora. Temos mais de 300 mil médicos na nossa rede e uma oportunidade incrível de fortalecimento de cultura e crescimento. Quanto ao digital, nossa jornada acompanha o médico durante a prática e por isso tem uma série de produtos, desde receita prontuário, até gestão de clínica. Por isso, essa questão do digital vai além da medicina e ajuda na agenda de negócios como um todo. 

Você chega na Afya em um momento que a empresa está em boa fase, com faturamento e lucro maior, e planos de crescer muito nos próximos anos. Como a cadeira de RH se conecta com a estratégia do negócio como um todo? 

A Afya é uma empresa de valores e cultura muito fortes, com uma fundação robusta e muito crescimento nos últimos anos. Desde a abertura de capital, em 2019, a estrutura cresceu, ganhou robustez e tem uma proposta sólida de valor pro futuro, com diferentes metas pros três setores em que atuamos – Medicina, Educação e Tecnologia. Hoje, um a cada três médicos brasileiros usa alguma solução nossa, e a cadeira de RH está totalmente conectada a essa agenda, buscando garantir que o Ciclo de Gente seja cada vez mais forte para garantir que este crescimento seja sustentável. 

Em 2021, a Afya assumiu o compromisso público de ter, pelo menos, 50% de mulheres em cargos de liderança até 2030. Quais serão as ações para cumprir essa meta? O que já está em andamento? 

Quando a Afya assumiu esse compromisso, a proporção de mulheres líderes era de 36%. Hoje, já batemos os 40% em cargos de gerência e superiores. Além disso, já temos quatro mulheres entre os 10 membros no Conselho de Administração, seguindo um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030.

Uma das ações que acabamos de criar em 2023 foi um programa de mentoria para mulheres, alavancando o desenvolvimento das líderes para serem protagonistas de suas carreiras, preparando-as para cargos mais estratégicos. Na primeira edição, tivemos 50 gestoras, entre coordenadoras e gerentes, vindas de todas as áreas do negócio. Também monitoramos o percentual de mulheres movimentadas em oportunidades internas e ciclos de reconhecimento da Afya inteira, buscando garantir percentuais iguais ou maiores do que o dos homens, buscando avançar com equidade salarial e de oportunidades. Além disso, para fomentar a atração e equidade em processos seletivos para cargos de gestão, sempre garantimos ter ao menos uma mulher como finalista dentre 2 ou 3 candidatos em cada vaga. 

Além da área de Gente, você também responde por Serviços e TI da Afya. Como funciona essa intersecção e por que ela é importante para o negócio? 

A minha posição tem um desafio transversal na companhia, potencializando gente e tecnologia, que estão intrínsecos à agenda de negócios da Afya. Minha responsabilidade na área de TI, de grande relevância, é definir e implementar estratégias que impulsionem o negócio, a gestão, evolução dos nossos sistemas e infraestrutura de tecnologia em todas as nossas operações, bem como garantir a segurança da informação e governança. A área de TI deve assegurar uma plataforma de tecnologia que permita o ganho de escala para que a Afya continue crescendo.

Michele Loureiro é repórter há 18 anos. Com passagens por redações como Exame, Época Negócios e Folha de S.Paulo, é apaixonada por contar histórias que mudam as vidas das pessoas.