Programas de desenvolvimento interno de talentos estão em alta e movimentam o mercado de recursos humanos, além de promoverem a diversidade nos negócios
Metaverso, NFT e criptomoedas: os desafios de Raul Xavier, da BAYZ
Com passagens por Latam Airlines e Garena, o profissional fala sobre as responsabilidades do RH e a importância de People Analytics
Se tem alguém que conseguiu unir o útil ao agradável, essa pessoa é Raul Xavier. Fã de videogames, desde o início do ano ele ocupa a posição de Head of People & Places na BAYZ, empresa de tecnologia que cria oportunidades para jogadores ganharem dinheiro através dos games. Com passagens por Nubank, Garena e LATAM Airlines, Raul agora lida diariamente com assuntos do momento como metaverso e NFT e tem encontrado desafios que, até pouco tempo atrás, não existiriam. Um exemplo? Pagamento de salários em criptomoedas. “É um desejo de alguns colaboradores. Mas como adequar isso frente à legislação brasileira?”, questiona.
A seguir, conheça sua trajetória e inspirações:
Quais eram suas ambições quando escolheu a área de Recursos Humanos?
Quando entrei na universidade, em Psicologia, queria clinicar para adolescentes. Também flertava com psicologia do esporte e queria entender como as pessoas funcionam. Com o passar do tempo, percebi que me faria feliz também fazer algo que impactasse de maneira positiva o maior número de pessoas, e trabalhar na LATAM me fez perceber a importância de trabalhar com processos e indicadores, buscando construir algo mais escalável.
A partir do momento que você entende como mensurar, quais são os indicadores importantes, as possibilidades e correlações, você passa a ter mais dados – mas ser curioso faz toda a diferença.
Como é o seu dia a dia?
Atualmente trabalho na criação processos, programas e produtos internos para conhecer melhor as pessoas e definir estruturas. O report é global para os dois fundadores – um americano e um brasileiro – e um Managing Director local. Em 2022, temos a expectativa de dobrar nosso time.
As diferenças culturais existem, e por isso é importante que todo processo de decisão passe por uma contextualização de cultura, legislação, boas práticas, entre outros. No Brasil, por exemplo, entregamos ovos de chocolate na Páscoa, enquanto nos Estados Unidos entregamos brindes mais adaptados pra cultura local.
Apesar de termos pessoas trabalhando em diversas regiões distribuídas por 3 países, trabalhar cultura aqui é muito gostoso, uma vez que a paixão pela nossa indústria e o impacto que estamos fazendo nela nos une. Aliás, paixão é a palavra que marca o mundo dos Games.
E quais são os principais desafios?
Nossas pessoas vêm muitas vezes de empresas que nem tinham RH – e, por isso, não sabem muitas vezes o que exigir de nós.
Sei que dentro da minha gestão preciso pensar em desenvolver desde um programa de atratividade de pessoas até as questões mais contemporâneas, como por exemplo pagamento de salários em criptomoedas, que é um desejo de alguns funcionários. Como adequar isso frente à legislação brasileira? Tenho pessoas no time que vivem cada mês em um país, e esta flexibilidade no pagamento poderia ser um diferencial.
O padrão de pagamento aqui é na moeda local, mas sempre com a opção de sacar em dólar. A BAYZ conta com um parceiro que faz a gestão de pagamentos para nossos funcionários, e que traz quatro possibilidades de saque pra eles.
Você pode rodar pesquisas de clima, qualitativa, quantitativa, mas ser um RH presente faz toda a diferença.
Para de fato você saber o que está rolando no negócio, as pessoas precisam te reconhecer como uma posição estratégica, especialmente a liderança.
No mais, também temos o desafio de gerar confiança para as pessoas candidatas, entendendo que estamos em um mercado em ascensão – mas super recente – e engajar cada vez mais quem está conosco, investindo sua carreira junto ao nosso negócio.
Como você prova a importância do RH na empresa?
Sou muito fã de benchmark, gosto de trocar com as pessoas, de estar em grupos menores de WhatsApp com outros profissionais e assim ter mais liberdade nas trocas.
Também tento trazer um bom embasamento acadêmico. A última especialização que fiz trouxe uma perspectiva sobre como a psicologia comportamental pode implicar no dia a dia e como transformamos em ações.
Trago exemplos de mercado e metodologias para a construção de trilha de carreira, remuneração etc – como a Willis Towers Watson – WTW. Assim, consigo também compartilhar a responsabilidade sobre a carreira com cada um. Sem dúvidas, construir relações de transparência é o que me faz ter a confiança dos meus clientes internos.
E as responsabilidades do RH atualmente?
Precisamos inspirar a liderança como um todo a ter conversas de carreira com seus times. Deixamos de ter apenas um papel de suporte para ser parte da estratégia e para contribuir na efetivação do negócio a partir das pessoas – e isso, pra mim, é apaixonante.
Hoje, o RH deve fazer parte de todas as discussões, principalmente sobre negócios. Trago minha visão de pessoas, diversidade de pensamento – e, quando entendo do momento da empresa, consigo propor soluções melhores.
Sempre busco entender o que é preciso, e para isso troco muito com as pessoas. A gente só vai conseguir atrair pessoas incríveis a partir do momento em que criarmos um ambiente favorável a isso.
Como você tem administrado o trabalho remoto com a equipe?
Entendo que três fatores são essenciais:
- Bons processos e ferramentas, para dar visibilidade a todos. Gosto de usar Notion e Monday, mas existem também Asana, Trello e outros serviços;
- Sincronizações mais frequentes com o time;
- E, tão importante quanto o trabalho, precisamos de momentos para não falar sobre ele com o time e criar uma relação genuína – seja com um happy hour ou um jogo online.
O que tem te inspirado?
Dois autores que gosto muito são Simon Sinek com a teoria do Golden Circle e Brené Brown (autora best-seller de A Coragem para Liderar, entre outros títulos). Escuto e assisto muitas coisas sobre eles. Minha leitura atual é Work Rules – um novo jeito de trabalhar, do Lazslo Bock. O autor é responsável pelas áreas relacionadas com atração, desenvolvimento e retenção e já foi reconhecido mundialmente por seu trabalho.
Sempre tento ter duas fontes de conhecimento ao mesmo tempo, mas também fico atento para me desligar. Isso também é qualidade de vida.
Nas horas vagas, o que você gosta de fazer?
Jogar, claro (risos), assistir filmes, séries e cozinhar.
Quais são as dicas que você daria para quem está com desafios na área?
Invista em entender processos e indicadores, tenha uma linha de raciocínio processual e trabalhe com People Analytics. Entenda quem é o seu público, as lideranças da empresa, e acima de tudo escute e conheça as pessoas. Acredito que é sempre importante ouvir o cliente interno também. E a partir do momento em que sabemos qual é o nosso objetivo, conseguimos observar os melhores indicadores.
Sobre ferramentas, nada como um bom e velho Excel. Já usei ferramentas específicas, mas para tratar os dados e ter uma visão geral da área a planilha é uma ótima aliada.
Em uma das empresas onde trabalhei, implementamos uma biblioteca interna de RH, tivemos que adaptar grande parte do projeto no meio quando percebemos que nem todas as nossas operações tinham acesso a computador, e não conseguiriam acessar o sistema. Esse é um dos insights importantes que pode gerar quando você passa a conhecer cada vez mais seu público: estou me comunicando corretamente com elas? Tenha interesse genuíno por pessoas e construa relações de transparência sempre.
O que realmente tem feito com que eu seja mais feliz na minha carreira e na vida é criar relações de trabalho e gestão muito sinceras. A transparência leva a gente sempre para lugares mais leves.
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