Programas de desenvolvimento interno de talentos estão em alta e movimentam o mercado de recursos humanos, além de promoverem a diversidade nos negócios
Tecnologia no metaverso por Rafael Leitão, da Rappi
Em texto exclusivo para Cajuína, o Head de Growth Marketing e Performance fala sobre o potencial impacto do metaverso no RH
*Por Rafael Leitão, Head de Growth Marketing e Performance da Rappi
Nos últimos tempos, foi difícil não ouvir falar sobre metaverso. Estamos constantemente sendo bombardeados sobre notícias e conteúdos a respeito da possibilidade de replicar a realidade num ambiente virtual e digital. São histórias sobre pessoas e empresas que estão explorando essa estratégia, buscando engajamento, construir comunidades e claro, vender produtos e serviços online. Mas não é fácil entender o que isso significa na prática – afinal, o metaverso está alinhado a diversas teorias com atualizações constantes. Já vimos esse filme antes em tecnologias que são estudadas e desenvolvidas diariamente, como no caso do e-commerce, da inteligência artificial e do blockchain.
Boa parte das discussões sobre o metaverso estão centradas em dois pontos: o potencial econômico da tecnologia e que plataformas serão usadas para isso. Há quem seja cético, mas o setor financeiro já vê a novidade com grandes olhos: segundo relatório do JP Morgan, o metaverso pode proporcionar oportunidades de mercado estimadas em US$ 1 trilhão de receitas anuais. Pode parecer muito, especialmente em um momento em que a utilização de metaversos está bastante restrita ao universo do entretenimento, especialmente nos games. Talvez por isso haja menor confiança em sua proposta de valor, na comparação com outras tecnologias emergentes, como o blockchain.
Mas o metaverso tem um enorme potencial de negócios, seja na indústria, na educação, na saúde, no varejo e… claro, nos ambientes de trabalho. Segundo a consultoria Gartner, 25% das pessoas vão passar pelo menos uma hora por dia no metaverso em 2026. Parece muita coisa para uma mudança tão rápida. Mas ela parece mais simples quando pensada por alguém como Bill Gates, que recentemente disse prever que “nos próximos dois ou três anos, a maioria das reuniões virtuais vai passar de uma grade de imagens feitas por câmeras 2D para o metaverso, um espaço 3D com avatares digitais”.
Para essa tecnologia funcionar, será preciso um enorme esforço na construção de tecnologias – dos avatares que cada pessoa vai utilizar até a infraestrutura comercial que faz a tradução entre o universo real e o virtual, da chamada web3. Gateways de pagamentos, cartões, bancos, PIX, sistemas de privacidade, carteiras de criptomoedas, financiamento de ativos digitais, redes descentralizadas, tudo isso precisará ser desenvolvido ou adaptado. Será preciso treinar profissionais para desenvolver esses sistemas e ambientes, sejam eles desenvolvedores, designers, arquitetos e até mesmo criadores da infraestrutura de software para que qualquer um possa criar aplicações nesse universo. Isso para não falar em toda a questão de regulamentações, impostos, taxas e regras dessa infraestrutura social. Estar imerso no ambiente digital não significa que viveremos numa sociedade onde não há limites.
E por falar em sociedade, talvez esteja nela o maior enigma no que diz respeito ao metaverso. Afinal de contas, não basta construir as tecnologias – é preciso que elas sejam utilizadas pelas pessoas. Por isso, acredito que o metaverso seja muito mais sobre sociologia do que sobre tecnologia. É muito mais sobre como convivemos e criamos comunidades, como nos organizamos, do que sobre a plataforma que iremos utilizar.
Por isso, acredito que o metaverso seja muito mais sobre sociologia do que sobre tecnologia. É muito mais sobre como convivemos e criamos comunidades, como nos organizamos, do que sobre a plataforma que iremos utilizar.
E se estamos falando de comunidades e de ambientes de trabalho, essa mudança de paradigma certamente interessa ao RH. Se na pandemia a forma de trabalhar já mudou só por participarmos de reuniões por vídeo, imagine o que poderá acontecer quando transformarmos nosso formato de trabalho para um ambiente totalmente digital? Só de partida, consigo imaginar diversos impactos do metaverso na área de recursos humanos – e acredito que três fatores merecem especial atenção.
O primeiro é a equidade em um novo ambiente de trabalho digital. Um espaço de trabalho baseado em metaverso traz novas oportunidades para construir um local de trabalho mais justo. Afinal de contas, se esse ambiente é baseado em construção de comunidade, por essa característica, fica evidente o quanto a busca por equidade será um fator importante. Alguns temas que irão se destacar como hierarquia de conhecimento de tecnologia versus tecnofobia (Jovem Gamers vs Geração não-Tech). Há ainda a possibilidade maior, por meio de comunidades digitais, de se enfatizar o combate contra desigualdade e fortalecer a diversidade, bem como a segurança, o bem-estar e a inclusão no local de trabalho. É uma oportunidade para a qual o RH pode e deve estar atento.
O segundo é a criação de um local de trabalho produtivo e colaborativo. Todos sabemos que o design de um espaço influencia a forma como as pessoas o utilizam – não à toa, passamos os últimos anos falando sobre escritórios colaborativos, paredes coloridas e mesas de pingue-pongue. O metaverso abre a possibilidade de reimaginar um ambiente de trabalho produtivo, colaborativo e criativo sem restrições de normas físicas.
Além disso, com o Metaverso, a contratação provavelmente mudará. É algo que pode impactar positivamente o trabalho dos profissionais de RH. Haverá novas oportunidades para se analisar perfil de candidatos, simulando situações reais de trabalho. Muitas empresas já estão experimentando o uso do metaverso na contratação de talentos, inclusive em localidades que nunca planejaram contratar novos colaboradores, justamente pelo bloqueio criado pela distância.
Estou muito ansioso para ver como essas transformações – e várias outras – vão acontecer nos próximos anos. E fico curioso para saber o que mais é possível imaginar.
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