Como a Heineken levou mais de 1 mil colaboradores às corridas de rua e academias incentivando a atividade física

A busca pelo bem-estar no trabalho está cada vez mais complexa. Em tempos de digitalização e priorização da saúde mental, um outro elemento tem ganhado destaque entre os fatores capazes de influenciar a qualidade do ambiente corporativo: a saúde física. Apostar na prática de atividades físicas, portanto, passa a ser uma sinalização clara de que o desempenho e satisfação no trabalho também dependem de um estilo de vida mais saudável fora das dependências do escritório. 

Para a Heineken, é possível unir os dois mundos. A empresa mira na colaboração entre equipes e na paixão pelo esporte para disseminar a cultura do exercício físico entre os mais de 13 mil colaboradores. O esforço deu origem ao Tamo Junto e em Movimento, projeto de incentivo à prática de atividade física que conta com comunidades virtuais e uma política de estímulo e reconhecimento aos mais assíduos aos esportes.

Criada durante a pandemia, a iniciativa ganhou musculatura nos últimos anos. Naquela época, em poucos meses, um desafio que estimulava os colaboradores a praticar ao menos 30 minutos de exercícios diariamente impactou mais de 1.000 pessoas. Foram mais de 14 mil fotos compartilhadas — registros dos treinos realizados, como forma de sinalizar a conclusão do desafio e de engajar outros participantes. Monitorados por questionários de saúde antes e após o desafio, os funcionários participantes relataram uma redução de 50% nos casos de obesidade, uma diminuição de 11% no risco cardiovascular e outra parcela significativa relatou melhorias na alimentação, sono e na percepção geral de saúde.

Longe de ser um tema exclusivo aos atletas de alta performance, a pauta também virou questão de endomarketing e cultura corporativa, já que foi incluída de maneira definitiva entre os pilares da chamada “diretoria de felicidade”, área da empresa responsável por compilar ações em favor do bem-estar físico e emocional dos funcionários, pautada pela filosofia da Psicologia Positiva, do especialista Martin Seligman. 

“Hoje, é uma questão que mobiliza nossos embaixadores da saúde, e envolve múltiplas áreas, do RH à comunicação interna”, conta Aline Mello, Gerente de Saúde do Grupo Heineken. Em 2025, a empresa deu mais um passo nessa jornada. Agora,  está lançando um aplicativo próprio com o objetivo de concentrar todas as interações e incentivar ainda mais o engajamento entre os adeptos à vida de exercícios.

Na entrevista a seguir, a executiva detalha as estratégias por trás do sucesso do programa, o que inclui a exposição de histórias inspiradoras de quem mudou o estilo de vida por meio do exercício físico, o envolvimento da alta liderança e também um aplicativo no qual há um incentivo real por trocas constantes — e também  certa competitividade. 

Como surgiu o projeto “Tamo Junto e em Movimento”? Qual era o contexto da prática de atividade física na empresa na época?

O “Tamo Junto e em Movimento” nasceu durante a pandemia, em 2020, quando a gente tinha um pequeno grupo de corredores na Heineken, o Heineken Runners. Sou corredora, gosto de correr, então já fazia parte desse grupo, que tinha em média 100 pessoas. Num contexto de pandemia, em que todo mundo estava dentro de casa, fomos aumentando nossas redes e comunidades digitais. Era pelo ambiente digital que nós socializávamos. Aos poucos, fomos incluindo outras modalidades esportivas e conectando mais pessoas. Tudo isso resultou em um grande grupo de WhatsApp, onde qualquer colaborador da companhia podia entrar e discutir, se estimular, contar boas práticas.

Quando vocês perceberam que era necessário formalizar isso para além de um grupo de incentivo, tornando isso em um programa estruturado? Quando que foi que vocês perceberam essa necessidade?

Isso é algo bem recente. Nós mantemos o grupo de WhatsApp, adoramos conversar por lá. O grupo é variado: tem desde aqueles que abrem a academia ou vão correr às 4 da manhã até a turma que fecha a academia. Então nosso grupo continua existindo, porque criamos conexões. Mas agora acabamos de lançar um aplicativo chamado Viki, em parceria com uma empresa do mercado. Lá vamos ter desafios frequentes, além de ter um espaço formal para essa interação das nossas pessoas também, comentando as fotos uns dos outros, tendo essas conversas, essas relações. 

E como vocês trabalham o incentivo à entrada e participação no programa? Porque imagino que pode ter funcionários que não sejam os mais atléticos do mundo.

Lançamos um desafio no ano passado que contou com 400 pessoas inscritas. Basicamente eram 19 semanas em que grupos – tínhamos 26 grupos segmentados – poderiam se conectar, se conhecer e entender mais até do trabalho das outras pessoas. Mas o objetivo principal era também incluir a atividade física na agenda. Tivemos resultados muito bacanas, considerando que foi algo mais longo. Alcançamos uma permanência impressionante, com 78% dos participantes concluindo o desafio – e um dos caminhos para isso foi justamente o sistema de pontuações. Cada pessoa postava foto do lugar ou da atividade que estava fazendo dentro do grupo e isso computava uma pontuação para o grupo dela. Ao final, premiamos os grupos com maiores pontuações, além do prêmio individual também. Foi um exercício de reconhecimento.

O engajamento também é um desafio, aparentemente. Afinal, estamos falando de 1 mil praticantes, em um universo de mais de 13 mil colaboradores. Há um esforço, então, para que isso seja parte da cultura da Heineken? Como é que vocês trabalham hoje para que esse programa ele se interligue com outras ações e outros departamentos?

Sabemos que quando compartilhamos algo e temos compromisso, aumenta a chance de manter o hábito da atividade física a longo prazo.  Mas além disso,  uma das formas que a gente faz isso internamente é pela motivação e engajamento da alta liderança. Estimulamos os líderes a conhecerem o programa e falarem dele aos seus times, incentivando a participação, pois entendemos que há um impacto direto na produtividade. Além disso, hoje temos cerca de 1,4 mil embaixadores da felicidade: são funcionários responsáveis por levar o tema para toda a empresa, multiplicando esse conhecimento e engajando as pessoas também nesse pilar da vitalidade, que é a premissa do exercício físico dentro da diretoria de felicidade. Agora, o aplicativo passa também a ser um novo benefício disponível para o colaborador e que vai colaborar com isso. 

Quando falamos de vitalidade, falamos de escolhas inteligentes para que tenhamos maior bem-estar no nosso dia a dia, e, obviamente, mais felicidade também. 

Como tudo isso se conecta com a diretoria de felicidade, um dos destaques da cultura da Heineken?

Acho que aqui é um ponto que se conecta diretamente com a nossa jornada de felicidade, porque a atividade física é um hábito na nossa vida, e interfere em outros pilares da nossa saúde que nos trazem bem-estar e aumentam a nossa felicidade também. Para a jornada de felicidade, uma das metodologias que a gente usa é a psicologia positiva, criada pelo Martin Seligman, em que se fala muito de relações positivas, emoções positivas e engajamento. Então, aqui já estão os três pilares que a gente aplica ao Tamo Junto e em Movimento. Nas relações, estabelecendo conexões que dificilmente teriam fora daqueles grupos; emoções positivas, já que a prática é comemorada junto, principalmente quando uma pessoa tem uma evolução e decide compartilhar, e o engajamento, que inspira pelo exemplo. A pessoa vê alguém que foi às cinco da manhã treinar e pensa “vou ter que ir também, hoje é meu dia, preciso cuidar do meu corpo”. 

Essa metodologia toda foi atualizada com o “V”, de vitalidade. Quando falamos de vitalidade, falamos de escolhas inteligentes para que tenhamos maior bem-estar no nosso dia a dia, e,obviamente, mais felicidade também. Dentro da vitalidade, é difícil considerar a atividade física só como saúde física, porque sabemos que ela é básica também para a nossa saúde mental.

E quais são os próximos passos do programa e da diretriz de vitalidade e prática de exercícios dentro da Heineken? Comp pretendem ampliar ainda mais o número de pessoas impactadas por isso?

O WhatsApp é uma ferramenta de comunicação muito limitada com relação a grupos. Então, estamos lançando um aplicativo justamente para sermos capazes de impactar um maior número de pessoas. Para que possamos conectar, para que possamos desafiar, e também para que consigamos mensurar isso tudo que estamos propondo a fazer aqui, que é levar mais saúde para as pessoas.
Um dos objetivos, inclusive, de ter um aplicativo, é justamente ganhar uma forma melhor de mensurar e ter comparabilidade. Queremos fazer um estudo científico, comparando quem não faz atividade física versus quem faz e como isso impacta os indicadores da própria companhia no médio prazo. O aplicativo essencialmente vai ajudar também na organização dos próprios desafios. Vai ser um lugar onde o colaborador vai poder anexar as fotos, ver os rankings de forma mais organizada. Então nossa próxima meta é ter um primeiro desafio lançado, no qual as pessoas saiam muito felizes, engajadas e multipliquem isso para que cada vez mais participantes estejam no aplicativo e assim sejamos capazes de estimular saúde e colaboração entre áreas, tudo através do movimento.