Paulo Almeida, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral, discute os tipos e dimensões da liderança no contexto atual dos negócios
Em busca de parceiros para mudar o mundo
O que o líder deve olhar na hora de buscar aliados no terceiro setor?
Por Eder Campos, Diretor de Educação Social da Fundação Dom Cabral
As decisões de investimentos em projetos sociais, culturais ou ambientais são grandes oportunidades de mudar o mundo. A empresa distribui um pedaço do valor gerado com seu negócio para algumas causas que escolhe, que acredita que irão ajudar a mudar o mundo para melhor.
Esse recurso é muito especial, afinal, temos tanta demanda por investimento nestas causas que somos cada vez mais rigorosos na seleção de projetos e parceiros.
Caso você acha que faltam bons projetos recomendo buscar maiores conexões e apoio na curadoria. Temos mais de 800 mil Organizações da Sociedade Civil (OSC) no Brasil.
Porém, entre identificar uma OSC e confiar seu investimento social a ela temos um salto de fé, chamado confiança, que anda de mãos dadas com a vontade e a prioridade. Permita-me explicar:
Menos de um terço dos brasileiros confia nas organizações não governamentais, conforme pesquisa de doação realizada em 2022. Essa é uma estatística focada nos indivíduos, suas decisões enquanto pessoa física. Quando extrapolamos isso para o contexto da pessoa jurídica, os medos e pressões só aumentam. A depender da cultura corporativa de compliance, gestão de riscos e afins é mais fácil defender um “não” do que o risco de um “sim” quando se trata de um projeto de doação.
Esse cenário de pouca confiança restringe opções. Limita talvez as causas e projetos que não necessariamente são aderentes aos seus propósitos. Entra em campo o tema da vontade e prioridade, afinal tempo é limitado e você tem um negócio para focar. Pode até investir algum tempo em achar ou conhecer um projeto diferente, mas terá dedicação e disposição para desenvolver confiança e investir?
Em muitos casos existe um outro ingrediente que não gostamos de enxergar: nossa vaidade.
Queremos fazer do nosso jeito. Somos vencedores em nosso negócio, lucramos, e na hora de investir no social acreditamos que temos as respostas e queremos fazer do nosso jeito. Fica ainda mais difícil achar um parceiro.
Muitos criam suas iniciativas. Os próprios institutos. Os projetos sociais próprios. É um caminho legítimo, mas pode ser menos potente.
A mudança do mundo exige alianças. Alianças estratégicas. Para tanto, é preciso ter propósitos comuns, mas definir o caminho em conjunto, com os membros dessa aliança.
A mudança do mundo exige alianças. Alianças estratégicas
As OSCs nesse campo entram não como fornecedoras, mas como parceiras. Desenvolvem e cocriam a solução com foco no problema. Precisam de ter maturidade de gestão e governança, como sua empresa, para poder mobilizar recursos e performar na execução. O fato de não terem fins lucrativos não implica que não precisam desempenhar.
Repare que a formação de alianças bem-sucedidas demanda ainda mais confiança. Confiança é um ciclo virtuoso reforçado pela entrega. Mas o que contratamos de entrega?
Ao investir em um projeto social queremos resultados, assim como ao investir em nosso negócio. O espírito está correto, mas a mentalidade na cobrança não necessariamente leva ao ciclo virtuoso nas relações de parceria com as OSCs.
Imagine que você investe na capacitação de 100 jovens, mas a OSC só te entrega 50. Quebrou a confiança? Mas, qual perfil de jovens estamos falando? Qual complexidade social estamos lidando? Queremos só contabilizar jovens ou investir na mudança do mundo? Temos a fórmula pronta e um manual de solução para os desafios sociais ou estamos em um campo de execução que exige inovação?
Você, no ambiente corporativo, quando não cumpre metas tende a perder um pedaço do seu bônus; no contexto da OSC, você já logo quer “descontinuar o negócio” (parar de doar é descontinuar o negócio social). Mas, a meta lá não se trata do bônus, sim do salário.
Obviamente os casos de desvio de aplicação de recursos não são toleráveis, mas cada vez que a mentalidade corporativa assume a cadeira de doações ela transpõe aplicações descontextualizadas do ambiente de maturidade e gestão das OSCs. Querem investir no finalístico, mas qual o custo e a preocupação para investimento em gestão, pessoas, governança?
Encarar essa realidade e contexto é mais complexo do que talvez você queira aceitar. Caminhos fáceis de não fazer ou não ousar fazer diferente são possíveis, mas não irão transformar o mundo.
O caminho do sucesso está na aliança, incluindo a busca de parceiros que apoiem a jornada das OSCs, que mobilizem mais investidores como você, que se preocupem com o desenvolvimento institucional do terceiro setor, dando sustentação e propulsão para as vocações finalísticas das organizações.
Assuma riscos com a aliança em busca de retornos maiores. Retornos que são impactos na sociedade que queremos viver. Aceite que a jornada terá insucessos, assim como encara a inovação no seu negócio. Criando a boa cultura e governança destas iniciativas sociais.
Promova suas alianças e busque parceiros que façam a execução de projetos que vale sua aposta. Componha tais alianças com olhar na sustentação de maturidade e gestão das organizações sociais investidas.
A boa notícia é que você que está no mundo corporativo, tem um imenso potencial mobilizador por meio do investimento em projetos sociais, culturais ou ambientais. Transformar o mundo depende de você!
Eder Campos. Executivo com 15 anos de experiência em Relacionamento com Clientes, Transformação Digital e Inovação nas indústrias de saneamento, agronegócio, Family Office, consultoria, imobiliário e setor público, tendo ocupado posições de liderança na iniciativa privada e pública. Economista e administrador público de formação com MBA em Gestão de Negócios pelo IBMEC. Atualmente, Diretor de Clientes e Soluções Sociais na Fundação Dom Cabral (FDC) e Conselheiro de Administração da Eternit S/A. Profissional CCX – Certified CX Practitioner by Bain & Company.
As mais lidas