Debates no SOMA, evento realizado em conjunto por Caju, Comp e Pipo Saúde, destacaram importância de alinhamento estratégico ao pensar ações e processos da área de compensation

A expressão do momento, aquela tendência que acabou de chegar ao mercado, uma notícia que tem chamado atenção, uma trend que viraliza nas redes ou até uma nova regulamentação. Se o tema está quente, é melhor não ficar para trás. Mas nem sempre conseguimos ir na esteira das novidades e entender tudo que tem acontecido no mundo do RH.
A roda gira, e às vezes bem rápido. Esta seção de Cajuína traz os assuntos mais frescos do universo de quem trabalha com gente.
Na pauta dessa semana, vamos falar sobre o aumento do número de processos judiciais por etarismo, fenômeno que tem acontecido tanto no Brasil como no exterior – e precisa ser levado em conta numa época em que a força de trabalho envelhece cada vez mais.
Normalmente descrito como “o único tipo de preconceito que afetará todas as pessoas”, o etarismo tem aparecido cada vez mais nos tribunais brasileiros e do exterior como pauta de processos trabalhistas. Cada vez mais profissionais têm recorrido às bancas judiciais para reclamar seus direitos por esse tipo de discriminação.
O assunto voltou à tona recentemente, quando uma reportagem do Financial Times destacou não só o crescimento desse tipo de ação, mas também a alta nas indenizações obtidas por executivos acusados de serem “velhos” ou “desatualizados”. Segundo o jornal inglês, o acerto financeiro médio nos casos cresceu 624% entre 2022 e 2023, chegando a 103 mil libras esterlinas.
A reportagem cita ainda um caso específico de um executivo sênior que foi dispensado da empresa de engenharia Vesuvius. De acordo com o texto, o executivo ouviu uma “palestra de 45 minutos” de seu superior, sendo chamado de “um fóssil velho”. A situação rendeu ao funcionário demitido uma recompensa de 3,2 milhões libras esterlinas.
Na Justiça brasileira, números semelhantes também têm aparecido – ainda que a evolução aconteça de maneira mais gradual. Segundo dados publicados pela Folha de S. Paulo, obtidos junto ao escritório Trench Rossi Watanabe, o valor das indenizações trabalhistas por discriminação etária subiu 231% entre 2017 e 2023 – chegando a R$ 174,64 milhões naquele ano.
O número de casos também subiu consideravelmente, saltando de 12 em 2017 para 400 em 2023. No ano passado, a expectativa do escritório era de que esse índice chegasse a 450 casos em uma só temporada.
O aumento no número de processos trabalhistas por discriminação etária é um movimento que precisa ser acompanhado de perto pelo RH. Não só pela questão financeira ou pela segurança jurídica, mas também porque, sem ações concretas, casos como os citados acima podem se tornar cada vez mais presentes nas organizações.
Isso porque a população global está passando por um franco processo de envelhecimento – puxado tanto pela melhoria na qualidade de vida, quanto pela redução das taxas de natalidade. Até 2050, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que um quarto de sua população terá mais de 65 anos.
Aqui no Brasil, o envelhecimento da população também chama a atenção: até 2060, a previsão é de que um terço dos trabalhadores brasileiros tenham mais de 50 anos, segundo projeção do economista Rogério Nagamine com base em dados do IBGE. É um dado especialmente relevante porque contrasta radicalmente com a ideia – que perdurou por décadas – de que o Brasil é um país jovem.
Além disso, com o aumento da longevidade, é esperado que a população trabalhe por mais tempo – o que significa para as empresas que será cada vez maior o número de gerações convivendo em um só espaço de trabalho. Se hoje muitas empresas já enxergam com desafio ter cinco gerações diferentes atuando juntas, nas próximas décadas esse cenário pode chegar a seis ou sete gerações colaborando na mesma organização.
Cuidar da diversidade etária e trabalhar na conscientização de colaboradores e, sobretudo, de lideranças, é uma forma ativa do RH trabalhar para a preservação das empresas no longo prazo. Para isso, o trabalho deve começar desde já.
Um bom passo é a criação de comitês de diversidade voltados ao assunto. Além deles, o RH deve se preocupar com treinamentos e campanhas de conscientização, buscando remover o preconceito e os vieses inconscientes que aparecem com questões etárias – e isso vale tanto para os mais velhos quanto para os funcionários mais jovens. Outro ponto importante está na questão da tecnologia, cujo uso precisa ser desmistificado e desestigmatizado.
Para terminar, vale ainda ressaltar que processos judiciais não são o único fator negativo do desrespeito etário. Muitos colaboradores, antes de chegar ao estágio de entrar com uma ação, podem sofrer com problemas de saúde mental e física que os levam à falta de engajamento, baixa produtividade e questões como burnout, depressão e ansiedade.
Cuidar desse tema, por outro lado, pode abrir espaço para um ambiente rico, colaborativo e positivo entre as pessoas. Além de tudo, vale lembrar: como é impossível parar o tempo, é também uma forma de construir um ambiente de trabalho melhor para todos no curto, no médio e no longo prazo.
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