Em evento, diretora de RH da Nokia no Brasil e CFO da Caju mostraram como a construção de parcerias pode auxiliar tanto o caixa quanto o impacto humano nas empresas; colaboração, métricas e criação de relações de confiança são chave, dizem executivos
Com diagnóstico e investimento, companhia amplia presença feminina na liderança, valoriza a diversidade e reduz desigualdades salariais; para diretor de Pessoas, representatividade também influencia ânimo da equipe
Levantamento com 1,5 milhão de interações indica que o ChatGPT já virou “assistente de vida”, mas ainda precisa ganhar espaço como aliado estratégico no ambiente profissional
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Entre janeiro e junho, mais de 267 mil brasileiros precisaram se afastar do trabalho por transtornos mentais. O tema ganha ainda mais urgência após o Setembro Amarelo e exige que os líderes de RH olhem para os dados com atenção ao longo de todo o ano.
Um estudo recente mostra que nem todas as certificações geram impacto direto na carreira ou na remuneração. Para o RH, é a chance de repensar estratégias e investir em formações que realmente impulsionem pessoas e negócios.
Uma recente pesquisa feita pela consultoria to.gather, em parceria com a revista MIT Sloan Management Review Brasil, mostra quais os impactos da onda anti-DEI dos EUA nas empresas brasileiras e o que isso significa para a área de RH
Chief People Officer da empresa de tecnologia acredita que o papel do RH vai mudar drasticamente nos próximos anos por conta da IA; executiva defende que líderes devem orquestrar como pessoas e tecnologia vão trabalhar juntas para moldar estratégias de talentos, construir cultura e gerar resultados
Segundo dados do Ministério do Trabalho, cerca de 4,8 milhões de trabalhadores brasileiros demitidos no regime CLT entre 2022 e 2024 retornaram ao mercado como pessoas jurídicas. Neste artigo, vamos falar sobre como a pejotização têm avançado no Brasil e como isso impacta o RH
Após passar por grandes multinacionais, executiva conta como encontrou na atual empresa uma organização preocupada com o cuidado e desenvolvimento de pessoas
Diversidade em Xeque: Como a Polarização Impacta o Caminho para a Inclusão
Na coluna da Fundação Dom Cabral para Cajuína, Elisângela Furtado, professora da instituição, propõe uma discussão sobre os últimos acontecimentos relacionados à políticas de Diversidade e Inclusão nas empresas
Convidado Fundação Dom Cabral
18 de fevereiro de 2025
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Por: Elisângela Furtado*
Se você nasceu até o início da década de 1990, há uma grande probabilidade de lembrar de alguém que se considerava apolítico, que significa aquele que tem aversão ou não tem interesse por política. A partir dos anos 2000, com o aumento do acesso ao ensino superior, a noção sobre o que é política tornou-se mais próxima da maior parte das pessoas. Essa mudança, associada a diversas outras, reconfiguraram a forma como as pessoas se posicionam e definem aquilo que consideram melhor para si mesmas. A visão de mundo que você possui, o que considera ser uma sociedade desenvolvida e como define bem-estar pode ser uma forma de identificar polos de opiniões.
Como nada é um evento simples em sociedade, se antes o problema associado ao comportamento apolítico era o da alienação, por ser um lugar de fácil manipulação, o aumento da consciência social trouxe um fato novo, que se tornou conhecido como polarização. Existem diversos tipos e um dos mais comentados se refere às opiniões e atitudes políticas.
A polarização é usada para justificar o posicionamento de muitas empresas diante de questões de interesse global, como meio ambiente, mudanças climáticas e questões sociais. Empresas estadunidenses lideram um movimento de desinvestimento em Diversidade e Inclusão, tais como a Microsoft, Google e Meta, feitos em 2024. Neste mesmo ano, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que o sistema de ensino não poderia se basear na diferença étnico-racial para criar acessos a grupos historicamente sub-representados. Somados, esses eventos desestabilizam o desenvolvimento de ações que vem sendo desenvolvidas há mais de 30 anos.
DiMaggio, Evans e Bryson (1996) perceberam que o posicionamento das pessoas podem divergir em grande medida sobre um mesmo tema e criaram um método para mensurar a distância das opiniões, usando série histórica. Desta forma, não é fato novo que haja pessoas com posições divergentes, inclusive isto é uma condição de um ambiente considerado democrático. Os autores sinalizam que a tomada de decisão é mais desafiadora em um cenário polarizado. Porém, se este aspecto se torna o único parâmetro, o preço a pagar é abrir mão da democracia.
As narrativas contrárias aos temas emergentes também não são um evento recente. Temos diversos estudos que demonstram práticas como o whashing (Baker et al. 2024) e tokenismo (Silva et al. 2024) e que revelam questões éticas questionáveis. Os dois casos nomeiam investimentos vinculados à sustentabilidade, ESGe Diversidade e Inclusão restritos às ações de marketing, visando atingir apenas o público externo da empresa, sem, contudo, promover mudança efetiva. A diferença talvez esteja no fato de que, atualmente, um número maior de organizações se sentem confortáveis para se posicionar, sem criar subterfúgios para atrair clientes e investidores. A ampliação dos mercados e da segmentação talvez tenha contribuído para encorajar a ideia de que as empresas têm mais liberdade para se posicionar e atrair os públicos que se conectam com elas.
Contudo, essa situação não representa o fim das preocupações com sustentabilidade. Quando ampliamos a ótica, é possível perceber que os debates e ações desenvolvidas hoje são fruto de mais de 200 anos de estudos e conquistas de movimentos sociais. Tensões contrárias sempre ocorreram, inclusive permanecem previstas no jogo democrático. A grande questão é a radicalização, situação que revela a intolerância a quem pensa de forma distinta e que está diretamente associada à ascensão da violência em ambientes nos quais a premissa é o debate.
Tudo isso indica a importância de ter cuidado na forma como abordamos determinados temas. Apelos como os de investir em sustentabilidade “é a coisa certa a se fazer” ou a promessa de retorno rápido e alto sobre o valor investido são exemplos de estratégias pouco responsáveis. Com a polarização, a importância de ações bem estruturadas e detalhadas aumentou, assim como do uso de informações com qualidade de evidências e perspectivas realistas. As pessoas precisam se sentir convidadas a refletir, para que possam decidir por si mesmas. O diálogo é nossa maior ferramenta para ter empresas e organizações cada vez mais inclusivas, ainda que em contexto polarizado.
Referências
BAKER, Andrew C. et al. Diversity washing. Journal of Accounting Research, v. 62, n. 5, p. 1661-1709, 2024.
DIMAGGIO, Paul; EVANS, John; BRYSON, Bethany. Have American’s social attitudes become more polarized?. American journal of Sociology, v. 102, n. 3, p. 690-755, 1996.SILVA, L. K. et al. Mulheres no Conselho de Administração e a divulgação de gênero à luz da Teoria do Tokenismo. Estudios Gerenciales, v. 40, n. 171, p. 230-244, 2024.
*Elisângela Furtado é professora de Graduação e Pós-graduação. Leciona disciplinas de Teorias da Administração, Administração Geral, Introdução à Administração, Administração e Organização de Empresas, Metodologia Científica e Estudos Organizacionais. Especializada em Organizações, Pessoas, ESG, Diversidade e Inclusão e Cultura Organizacional. Já prestou serviço para Petrobras, Transpetro, Globo, Carrefour, Wabtec, Aon e BS2 pela FDC, além de Nespresso, Caloi e BD pelo Instituto Diversidade. Cientista e Pesquisadora interessada em organizações sociais não hegemônicas, desigualdade sociais, segregação e pluralização da ciência. Publicou pesquisas, artigos e capítulos de livros sobre aspectos organizacionais de comunidades quilombolas, coletivos negros universitários, desigualdade e possibilidades de mudança social. É coordenadora adjunta da área temática Administração Pública, Governo, Estado e Sociedade e Terceiro setor da Encontro Nacional da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD), é líder da Divisão de Estudos Organizacionais no Tema Universidade, Sociedade e Estado na Contemporaneidade do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (ENANPAD). É filiada à Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), à Sociedade Brasileira de Estudos Organizacionais (SBEO) e à Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias (ESOCITE.BR). Possui experiência nas áreas de Saúde Pública, Organizações Não Governamentais, Movimentos Sociais e Estudos Organizacionais.