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A transição de uma liderança heroica para uma liderança facilitadora
A executiva e professora Izabela Mioto, da Fundação Dom Cabral, discorre sobre os vários papeis da liderança
Por Izabela Mioto*
Questione-se: você tem sido um líder facilitador ou ainda mantém a postura de um líder herói? Seja na sua vida pessoal ou mesmo na liderança que você exerce no seu trabalho, está leve ou está pesado? Márcia Lerinna, CEO da Human Code, tem uma citação que diz o seguinte: “Se está pesado, está errado.” E se para você, a resposta for a de que, atualmente, está pesado, a boa notícia é que você pode aprender sobre uma liderança facilitadora, capaz de construir uma rede de apoio para facilitar a gestão dos desafios que estão sob sua responsabilidade e fazer com que a ‘roda’ gire mais leve!
Os líderes atuais enfrentam desafios que demandam uma nova abordagem e uma compreensão mais profunda do ambiente em que atuam. Muitos dos paradigmas ficaram obsoletos e já não são mais suficientes para engajar equipes e manter resultados de alta performance. Os impactos da tecnologia, a pressão por resultados de alto nível, as dinâmicas nas mudanças da relação com o trabalho, trazem a necessidade de os líderes buscarem novas formas, adaptando-se no desenvolvendo de habilidades essenciais, tais como: um maior equilíbrio emocional, tomadas de decisão que consigam explorar mais a visão sistêmica e a abertura para uma liderança mais humanizada.
No filme “Vingadores – Ultimato” de 2019, obra que marca o final de uma saga de 22 filmes do estúdio Marvel, os diretores Anthony e Joe Russo ousaram ao trazer para alguns dos nossos heróis, como por exemplo, Thor e o Homem de Ferro. Eles passaram a demonstrar a vulnerabilidade que decorre da humanidade que habita cada um de nós. Sim, até os heróis dos quadrinhos e das telas engordam e são mortais!
Quantos líderes de gerações mais experientes cresceram com a perspectiva de que quando estão em posições de liderança precisam ter respostas para tudo, resolver todos os problemas e se responsabilizar pelas pessoas que lideram? Será que com a quantidade de informações que recebemos o tempo todo, as demandas do mundo atual, as distrações de uma sociedade em rede, a pressão por resultados cada vez melhores é sustentável manter a posição de herói?
Reflito aqui que essa postura traz o risco de adoecimento emocional e físico, pois já não é mais possível liderar sem a força de uma rede de pessoas que colaboram e são capazes contribuir com os processos de tomada de decisão e enfrentamento dos desafios que o contexto nos traz. Nem os heróis da ficção conseguiram sustentar as características de somente ter fortalezas.
Talvez o maior aprendizado seja: herói de verdade é aquele que compreende suas potencialidades, suas forças, mas que também tem clareza e demonstra com coragem em relação às vulnerabilidades. Liderança humanizada é quando se parte do pressuposto que seres humanos têm fortalezas e fragilidades e aprendemos a lidar bem com essas duas dimensões.
Liderança humanizada é quando se parte do pressuposto que seres humanos têm fortalezas e fragilidades e aprendemos a lidar bem com essas duas dimensões
O tema desse artigo foi inspirado na reflexão de Mariana Achutti, CEO da escola corporativa Sputnik, em uma matéria em que ela afirma que estamos vivendo uma transição da chamada liderança heroica para uma liderança facilitadora. “O líder herói era quem tinha as respostas, sabia o que fazer, e todos saíam correndo para executar o que ele pedia”, diz. Já́ o líder facilitador é aquele que vai garantir as condições para as pessoas trabalharem em conjunto de forma que cada uma possa dar o seu melhor. “Ele aprende junto e busca junto as soluções com o time.” Longe de ser inatingível, seu maior poder é a vulnerabilidade.
Ainda de acordo com a reportagem, existem vantagens que devem ser consideradas ao se demonstrar vulnerabilidade. É possível mobilizar conexões mais profundas e ampliar o vínculo entre as pessoas ao manifestarmos imperfeições e dúvidas. Quanto mais as pessoas compreendem melhor o que afeta o outro e do que ele precisa para se sentir bem, aumenta a colaboração e a facilidade de conduzir boas negociações de prazos. Os níveis de confiança aumentam, pois quando o líder divide erros, sentimentos e dúvidas com a equipe, isso abre espaço para que os outros também façam o mesmo.
A inovação também sofre uma melhora significativa, pois quando o líder aceita o erro, as pessoas não ficam com receio de julgamentos rígidos e expõem mais suas ideias. A segurança psicológica também melhora, pois quando não há medo de represálias, as pessoas têm mais facilidade para se abrirem, procurando ajuda mais rapidamente quando sentirem qualquer desconforto emocional.
Frente ao ritmo e pressão que nos são impostos, o equilíbrio emocional se tornou uma habilidade essencial para o exercício da liderança. Por isso, nunca se falou e se buscou tanto o autoconhecimento. Líderes que se conhecem melhor são capazes também de saber quais são os seus limites e de não irem além deles. Alertar sobre a sua vulnerabilidade pode também impulsionar que as pessoas lhe ofereçam mais suporte.
Mas se você está se questionando sobre como sinalizar vulnerabilidade em uma cultura que valoriza somente o herói, acho bem importante esse questionamento e volto com uma outra pergunta. Quantas vezes, nós acabamos por querer atender a demanda do mundo de fora e esquecemos das demandas do mundo de dentro? E os riscos não são pequenos, pois de uma hora para outra, podemos colapsar e já nem termos mais escolha. A vulnerabilidade vem à tona da pior maneira possível! Enfim, é impossível você construir e sustentar resultados excelentes e bons relacionamentos interpessoais no médio e longo prazo, caso você não esteja equilibrado(a) no mundo de dentro. A liderança mais eficaz é aquela que acontece de dentro para fora e não de fora para dentro. Ser humano é sobre se abraçar com todas as fortalezas e vulnerabilidades que você traz. Esse é o melhor caminho para você se autorregular e não perder de vista seus resultados e propósitos pessoais.
*Izabela Mioto é Sócia cofundadora da Arquitetura RH e Sócia da Caminhos Vida Integral. Professora dos cursos de Pós-graduação e MBA da Fundação Dom Cabral, FAAP, FIA, IPOG e Instituto Saint Paul. Coordenadora da Pós-Graduação em Gestão de Pessoas da FAAP. Professora do MBA em Gestão de Saúde do Hospital Israelita Albert Einstein. Coautora dos livros Ser mais com coaching e Ser mais com T&D, da Editora Ser Mais e do livro Soft Skills: competências essenciais para ovos tempos, da editora Literare. Interventora no mapeamento Human Code. Graduada e Mestre em Psicologia pela UNESP, Campus de Assis. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos pela FAAP, SP. MBA em Desenvolvimento do Potencial Humano pela Franklin Covey., SP. Coach pelo ICI (Integrated Coaching Institute), reconhecido pela ICF (Federação Internacional de Coaching).
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