Entre o tédio e o esgotamento, há um tipo de desgaste que cresce em silêncio — e que o RH precisa aprender a reconhecer

Alice Erthal* e Douglas Wegner** – professores da Fundação Dom Cabral e organizadores do livro Strategy and Leadership for Grand Societal Challenges: Bridging Theory and Practice
Durante muito tempo, acreditamos que as grandes questões da sociedade, como clima, desigualdade, saúde, fome e confiança nas instituições pertenciam aos campos das políticas públicas, das ONGs, dos ativistas. As empresas, supostamente, cuidavam dos seus próprios objetivos de inovação, produtividade e lucro.
Esse pacto informal ruiu. Os chamados grandes desafios societais (grand challenges) deixaram de ser “pano de fundo” e passaram a integrar a estratégia e os objetivos organizacionais. Eles afetam cadeias de suprimento, reputações, modelos de negócio e a capacidade de atrair e reter talentos.
A emergência climática, por exemplo, redefine riscos e custos. A desigualdade mina mercados, confiança e condições de trabalho. O envelhecimento populacional pressiona sistemas e carreiras. A revolução digital amplifica oportunidades, mas também dilemas éticos.
Ignorar esses temas é um luxo que nenhum gestor pode mais se dar. A questão não é se sua empresa está sendo impactada, mas como ela escolhe enfrentar essa realidade e participar da solução. E isso muda tudo: a forma como se define sucesso, como se constrói propósito e, sobretudo, como se exerce uma liderança responsável.
As organizações que entenderam esse novo jogo já perceberam que sua legitimidade não se sustenta apenas em resultados financeiros. Sustenta-se também (ou principalmente) em relevância social. Empresas que prosperam são aquelas que conseguem alinhar desempenho e contribuição concreta para desafios que ultrapassam seus muros.
Frente a esses problemas complexos e interligados (também conhecidos como wicked problems), permanece a pergunta sobre o que isso significa, na prática, para quem lidera pessoas e decisões. Em vez de respostas prontas, esse novo contexto exige colaboração, mudança de mentalidade e de arquitetura organizacional. Nesse sentido, a liderança heróica, que vigorou por décadas como modelo a ser alcançado, cede espaço para uma liderança ética, colaborativa, que reconhece suas limitações e se abre para novo, para o diferente, para o outro. Essa liderança busca, prioritariamente:
Os grandes desafios da sociedade não pedem apenas inovação tecnológica; pedem evolução de consciência. E é isso que diferencia o gestor comum do líder do futuro – e do presente: a capacidade de compreender que desempenho organizacional e progresso social são, na verdade, duas faces da mesma moeda.

*Alice Erthal. Professora em tempo integral e Coordenadora dos programas de Mestrado Profissional, Doutorado Executivo e Pós-Doutorado Profissional da Fundação Dom Cabral (FDC). Doutora e Pós-Doutora em Administração de Empresas pelo COPPEAD/UFRJ, com período “sanduíche” na Florida International University (FIU-US), com apoio da CAPES. Alice tem experiência profissional como gestora e consultora em diferentes setores — público, privado e sem fins lucrativos. Seus trabalhos foram publicados em importantes periódicos internacionais (ABS4*) e apresentados em grandes conferências nacionais e internacionais na área de Gestão. Sua pesquisa busca aprofundar a compreensão sobre a interação entre indivíduos, organizações e seus ecossistemas, com destaque para o papel da liderança na promoção de práticas mais éticas e sustentáveis. Sua principal linha de pesquisa aborda o desafio contemporâneo de promover um trabalho decente e significativo, considerando as dimensões individual, organizacional e social.
*Douglas Wegner. Possui doutorado em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011). Ingressou na Fundação Dom Cabral em 2021 e atualmente é professor em tempo integral, envolvido em projetos de pesquisa e no ensino de estratégias colaborativas. Foi pesquisador visitante na TU Dortmund (2019), na Universidade de Sevilha (2016) e no College for Social Sciences and Humanities at the University Alliance Ruhr na Alemanha (2024). Douglas é pesquisador bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no Brasil. Supervisou quatro teses de doutorado e 22 dissertações de mestrado até agosto de 2025. Também coordenou projetos de pesquisa financiados por agências brasileiras em temas como governança colaborativa e estratégias. É membro do Collab4Good, grupo de pesquisa da FDC focado em grandes desafios, governança colaborativa, ecossistemas de inovação e estratégias colaborativas, e lidera a área “Ecossistemas, Plataformas, Redes e Clusters de Negócios” no EnAnpad.
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