Paulo Almeida, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral, discute os tipos e dimensões da liderança no contexto atual dos negócios
Meu Feedback: Gabriela Onofre, CMO da Unico
Engenheira de formação, desde cedo Gabriela foi trabalhar no marketing, mas nem sempre isso lhe deixou segura para ocupar novos cargos; para Cajuína, ela conta como aprendeu a enxergar novas possibilidades
Quando surge uma oportunidade de promoção inesperada, como é que um profissional sabe se está pronto para ocupar aquele lugar? Gabriela Onofre, CMO da startup de identidade digital Unico, sabe bem o que é ter essa dúvida. Formada como Engenheira de Alimentos pela Unicamp, ela desde cedo trabalhou no marketing, ocupando diferentes posições na multinacional P&G. Em 2010, porém, ela foi convidada a assumir um cargo de diretora na área de comunicação – e achou que não tinha as habilidades certas para tal. Um feedback acabou mudando sua trajetória – e é essa conversa especial que a executiva relembra para Cajuína a seguir.
“O feedback que mais me abriu a cabeça foi um que eu recebi do presidente da P&G no Brasil, o Tarek Farahat. Na época, eu era gerente de marketing da área de operações e ele me convidou para ser diretora de Comunicação e Assuntos Corporativos da P&G. Ele disse que precisava de alguém para estruturar a área, fazer a P&G ser uma marca conhecida e aumentar a penetração dos nossos produtos. Era uma área que incluía Relações Governamentais, Sustentabilidade e Comunicação Corporativa, e eu cuidava de Comunicação e Mídia na época.
Eu achava que minha carreira era para ser na área que eu estava, mas ele disse que eu tinha que ir além do que eu imaginava e entender as habilidades que eu tinha. Ele me disse que eu conhecia estratégia, conhecia bem a empresa e iria aprender com as novas áreas. Ouvi tudo e saí da sala achando que não devia aceitar a proposta. Eu ia ser promovida, mas me deu medo.
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Talvez tenha um pouco de síndrome de impostora, mas eu saí da sala achando que não era capaz, que eu não ia conseguir ocupar uma cadeira de diretora em um assunto que eu não conhecia. O diferente põe muito medo na gente. Lembro que fui para casa e meu marido disse uma coisa importante: “se o seu chefe acha que você é capaz, por que você não acha?”. Olhei e percebi que quem tinha sentado naquela cadeira antes eram pessoas da área, e não havia funcionado. Talvez eu pudesse funcionar – e decidi confiar no Tarek, que era um líder que eu admirava. Acabei aceitando o cargo e foi uma das atribuições mais interessantes que eu tive na vida.
Ocupar aquela posição me tirou da zona de conforto e valorizou o que eu sabia fazer: olhar para estratégia e equity, montando um bom time. Conseguimos colocar a P&G no mapa, criamos processos de sustentabilidade consistentes e criamos um programa de comunicação que foi uma plataforma com grandes comunicadores, ajudando a P&G a dobrar nos 4-5 anos seguintes.
Talvez tenha um pouco de síndrome de impostora, mas eu saí da sala achando que não era capaz, que eu não ia conseguir ocupar uma cadeira de diretora em um assunto que eu não conhecia.
Mais que os resultados, foi um feedback importante porque foi a primeira vez que eu entendi que podia ocupar lugares que não fossem lógicos, caixinhas pré-determinadas. Foi algo que me ajudou a me arriscar em startups e tecnologia, saindo do mundo de bens consumo. Ao vir para a Unico, eu estava abraçando um mundo B2B e de tecnologia, depois de anos com o universo B2C e de bens de consumo. E no meu processo de entrevistas para a Unico, essa flexibilidade foi importante: eu era uma pessoa muito corporativa para os founders e advisors, mas a minha flexibilidade os atraiu. Foi importante ter passado por isso.
Hoje, eu acredito que a gente pode ter várias carreiras na vida, sem necessariamente ficar presa a uma coisa só.”
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