Quando a arquitetura deixa de ser só cenário e passa a impactar produtividade, saúde e bem-estar dos colaboradores, também vira assunto para o RH

A expressão do momento, aquela tendência que acabou de chegar ao mercado, uma notícia que tem chamado atenção, uma trend que viraliza nas redes ou até uma nova regulamentação. Se o tema está quente, é melhor não ficar para trás. Mas nem sempre conseguimos ir na esteira das novidades e entender tudo que tem acontecido no mundo do RH.
A roda gira, e às vezes bem rápido. Esta seção de Cajuína traz os assuntos mais frescos do universo de quem trabalha com gente.
Na pauta dessa semana, vamos falar sobre como o uso de Inteligência Artificial têm ajudado os trabalhadores nos EUA a serem mais produtivos, mas também como o tempo conquistado têm sido utilizado para mais trabalho – frustrando a expectativa das pessoas.
A cada inovação tecnológica, a humanidade tem sempre uma expectativa: trabalhar menos e produzir mais. Com o avanço da inteligência artificial (IA) no mundo corporativo, não é diferente. No entanto, a implementação de ferramentas dentro do trabalho têm mudado não só a forma como as tarefas são realizadas, mas também a própria experiência dos trabalhadores com relação ao tempo do trabalho.
Uma recente reportagem do Wall Street Journal traz dados e relatos que mostram um aspecto interessante dessa transformação: se por um lado a IA está sendo eficaz em automatizar atividades rotineiras, por outro o tempo dos profissionais não está se traduzindo em mais descanso ou uma melhor qualidade de vida.
De acordo com o texto, muitas empresas tem usado a eficiência das tecnologias para elevar a produtividade, esperando que os colaboradores façam mais com o mesmo tempo – ou até menos. É uma ideia que tem levado a uma espécie de “pressão invisível” para que o tempo extra sirva para as pessoas entregarem resultados mais relevantes ou expandirem suas responsabilidades.
Em outras palavras, o tempo livre gerado pela tecnologia está sendo capturado pela demanda por mais trabalho – o que têm gerado preocupações por parte dos colaboradores não só quanto ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, mas também com os riscos de saúde mental e de burnouts. Na reportagem, muitas pessoas expressam resistência e buscam formas de proteger seu tempo, defendendo que a eficiência deveria permitir mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional – e não apenas aumentar as metas e cobranças.
Para quem trabalha no RH, é importante prestar atenção na forma como a inteligência artificial vem sendo adotada nas organizações – e até mesmo dentro do próprio RH. Para entender o novo momento, a área de Pessoas precisa repensar politicas e práticas, indo além de uma simples implementação tecnológica. É fundamental entender como a automação impacta o tempo, a carga mental e a percepção de valor dos colaboradores.
Em um cenário onde a IA pode liberar horas de trabalho, mas ao mesmo tempo aumentar a pressão por resultados, o RH deve garantir que o “tempo poupado” seja realmente valorizado. Aqui, vale a pena equilibrar a busca por uma maior produtividade com oportunidades de desenvolvimento pessoal, flexibilização de jornadas ou momentos de descanso e desconexão.
Além disso, é essencial que a área acompanhe de perto os sinais de sobrecarga e desgaste emocional que podem surgir desse modelo, promovendo uma cultura de diálogo aberto e apoio psicológico. A implementação ética da IA passa também por respeitar os limites humanos e construir ambientes que priorizem o equilíbrio e o engajamento sustentável.
Por fim, o RH pode liderar a transformação cultural necessária para que a inteligência artificial seja um instrumento que potencialize o talento humano – e não uma fonte de ansiedade. Isso implica em capacitação, comunicação transparente e um olhar atento às diferenças individuais, para que as estratégias de uso da tecnologia sejam inclusivas e ajustadas às necessidades reais das equipes.
Em resumo, para o RH, o futuro do trabalho com IA não está apenas na inovação tecnológica, mas na capacidade de colocar as pessoas no centro dessa transformação — valorizando seu tempo, sua saúde e seu desenvolvimento integral.
As mais lidas