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ESG: um papo com Toyota, Unilever e Ultragaz

Viviane Mansi, Suelma Rosa e Carolina Pecorari contam como essas três letras estão moldando o dia a dia de grandes empresas

Lidiane Faria
28 de julho de 2022
ESG na prática: um papo entre executivas da Toyota, Unilever e Ultragaz
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Se existem três letras que estão “na boca do povo” no universo corporativo, certamente elas são ESG. A sigla, que em inglês significa Environmental, Social e Governance, tem sido pauta de empresas de praticamente todos os ramos. Mas como implementar iniciativas voltadas a este universo nas companhias?

Foi para falar sobre isso – e mais – que convidamos para a nossa Sala três profissionais que atuam neste mercado em grandes empresas: Viviane Mansi, Presidente da Fundação Toyota e Diretora de Comunicação, Relações Públicas e Sustentabilidade Latam na Toyota; Suelma Rosa, Diretora Sênior de Relações Governamentais e Corporate Affairs na Unilever Brasil, Latam e Caribe; e Carolina Pecorari, Executiva de Sustentabilidade e ESG na Ultragaz.

-> Viviane Mansi (Toyota) pergunta para Carolina Pecorari (Ultragaz):

ESG na prática: um papo entre executivas da Toyota, Unilever e Ultragaz

Sei que recentemente vocês definiram uma nova jornada de ESG, a partir de uma nova matriz de materialidade. Como vocês trabalham o engajamento de dentro para fora, ou seja, como envolvem os colaboradores de forma que entendam, fomentem e coloquem em prática aquilo que se define para o futuro em termos de ESG?

Na Ultragaz trabalhamos bastante nossa comunicação interna para engajar os colaboradores. Sempre que publicamos novidades, conectamos com as 4 energias da Jornada ESG aqui da Ultragaz — Energia para Inovar, Energia Humana, Energia Cidadã e Energia Ética — para que o conhecimento se consolide no dia a dia e os colaboradores conectem as iniciativas à estratégia da companhia, tudo de forma natural e consistente.  

Promovemos também rodas de conversas de forma integrada com todas as lideranças, para demonstrar que muito daquilo que já é feito no cotidiano está inserido no contexto de ESG e, portanto, todos fazem parte dessa jornada. Esse ponto é extremamente relevante, a jornada ESG não pertence apenas à área de cada um, ela é de todos nós. Precisamos trabalhar juntos para avançar nesta agenda.

Estamos desenvolvendo programas de reconhecimento das melhores práticas para incentivar a revisão de processos por todos os colaboradores, e para que entendam que podemos ser cada vez mais sustentáveis. Autonomia concedida aos times e inserção de todos é fundamental para avançarmos juntos, com qualidade, consistência e rapidamente. 

Acho bacana destacar que conseguimos construir muita coisa juntos com as rodas de conversa e ainda ajudamos a alocar as pessoas em projetos e programas com os quais se identificam. Isso é possível inclusive em nosso programa voluntário, reformulado este ano para oferecer mais opções de iniciativas e impactar mais pessoas envolvidas nas atividades, entre voluntários e pessoas beneficiadas. 

Já em nossa cadeia de valor, entendemos que não faz sentido demandar uma virada de chave instantânea, do dia para a noite. Por isso, promovemos encontros e rodas de conversa, onde apresentamos nossa jornada e convidamos os parceiros a fazerem parte dessa construção e, por que não, evolução cultural e sustentável. Estamos desenhando um capítulo de reconhecimento das melhores práticas junto aos nossos revendedores, dentro do “Desafio Lapidar”, programa de qualificação dos parceiros que reconhecem a jornada de cada revenda, bem como outro modelo para o reconhecimento das iniciativas ESG de nossos fornecedores. 

Todas as interações têm se comprovado extremamente positivas e o retorno é de muito incentivo, integração, transformação e evolução de todos nós.

A jornada ESG não pertence apenas à área de cada um, ela é de todos nós. Precisamos trabalhar juntos para avançar nesta agenda.

-> Carolina Pecorari (Ultragaz) pergunta para Suelma Rosa (Unilever):

ESG na prática: um papo entre executivas da Toyota, Unilever e Ultragaz

Suelma, você vem de um histórico incrível na área de relações governamentais. Poderia compartilhar um pouco conosco sobre o aumento do escopo da sua área de atuação ao chegar na Unilever e qual foi o maior desafio relacionado à ESG que você já enfrentou na sua carreira até agora?

Em 2021, quando assumi a liderança da área de Comunicação e Relações Governamentais, tinha a clareza de todo o bom trabalho feito pelo time até então, mas também a certeza de que construiríamos coisas grandiosas. Minha certeza se concretizou. Se existe a ampliação do escopo da área, é fruto do trabalho de bastante gente e da relação de confiança e segurança que tenho com o meu time. Costumo brincar com eles que com os grandes poderes vêm junto as grandes responsabilidades. Ainda temos muitos desafios pela frente, mas também temos a oportunidade de contarmos uns com os outros.

Quanto ao meu maior desafio de carreira, posso dizer que tive alguns, muito a depender do momento e da necessidade. Mas acredito que o primeiro momento de pandemia foi o mais difícil enfrentado quando pensamos no S, do ESG. Muita incerteza, as pessoas com medo de faltarem necessidades primárias, como se alimentar. Essa aflição geral deixou o mundo todo bastante tenso, ao mesmo passo que pude acompanhar – e participar – de ações promovidas por empresas e sociedade civil, que se mobilizaram para apoiar pessoas em situações mais vulneráveis. Mas existem tantos outros desafios, alguns vários no E do ESG, como a neutralização das emissões de carbono, redução do uso do plástico, do desmatamento e outros temas que precisamos mirar os nossos olhos e esforços.

-> Suelma Rosa (Unilever) pergunta para Viviane Mansi (Toyota):

ESG na prática: um papo entre executivas da Toyota, Unilever e Ultragaz

Como o setor automotivo encara os desafios ESG para dentro e para fora da empresa? E quais os desafios enfrentados para se tornar uma marca empregadora forte e consistente?

Uma coisa que sempre acho importante dizer, é que ESG não é uma coisa que vem de fora para dentro. Como desejo da sociedade, sim, é uma demanda externa, mas como operação, ela é sempre de dentro pra fora porque se a gente não tiver a sensibilidade das nossas pessoas para buscar uma solução eficiente em qualquer etapa da cadeia de valor, é muito difícil que isso aconteça de forma consistente.

Então, como parte do nosso trabalho, tem sido uma discussão bem profunda na companhia sobre a temática, e a gente tem visto soluções nascendo na empresa inteira, em todas as áreas, porque elas estão cada vez mais sensíveis sobre a necessidade e o jeito de fazer desta forma e não de outra. 

Não tem volta, e nem queremos, porque a gente entende que esse é um bom jeito de fazer as coisas. Não é simples, entendemos a dificuldade de fazer isso no futuro, mas o tema está, claro, alinhado com a sustentabilidade do próprio negócio em cada um dos países em que a gente opera. É absolutamente necessário que a gente sempre pense no assunto.

Então é a decisão de como eu opero, a decisão de como eu vendo, de como será a minha fábrica, de qual tipo de motorização que eu terei, de que tipo de relação com fornecedores e com concessionários, e como vou olhar o ciclo de vida inteiro do meu produto no mercado.

Sobre os desafios de Employer Branding, são muitos. O primeiro deles é termos claro o que precisamos quando o assunto são pessoas. Qual é o tipo de abordagem, de olhar, de características e competências que queremos atrair? Fazer um bom processo de EB significa também dizer não, entender quais abordagens não ajudam. Não é um processo simples.

A segunda dificuldade está ligada em ser consistente ao longo de toda a jornada de pessoas dentro da empresa. Às vezes temos um olhar quase simplista de EB como se fosse somente a entrada das pessoas dentro da empresa, apenas esse funil para trazer boas pessoas. Na verdade, tem a ver com toda a história delas dentro de casa. É contínuo. 

Na Toyota, especificamente, esse é um tema que ganhou tração nos últimos anos, e refletimos bastante sobre. Colocamos no papel para ter certeza que todas as contratações são na mesma linha – mas de forma regionalizada. Esse formato nos permite, no futuro, criar oportunidades de carreira e desenvolvimento para as pessoas, já que América Latina e Caribe atuam como uma única região. Isso também exige de nós ainda mais alinhamentos sobre perfis e competências. 

Sendo uma indústria muito importante no Brasil, o setor automotivo tem encarado de frente os desafios de ESG.

Temos uma demanda bem estabelecida da sociedade para ter um novo olhar sobre produtos e serviços. E quando olhamos para o futuro, temos uma demanda importante sobre mobilidade, o que significa que na prática algumas pessoas vão continuar querendo comprar um carro, enquanto outras precisarão apenas utilizar um.

É uma indústria que sai do modelo tradicional de venda de veículos para venda também de serviços – especialmente em grandes cidades. Imagine que uma pessoa quando vai trabalhar utilize o veículo por volta de uma hora para ir ao local, fica com ele parado o dia todo, e volta com ele. Ao final, o bem fica mais parado do que em movimento. Então, requer um novo olhar sobre isso. A mobilidade tem um potencial de reduzir o número de veículos na rua, o que já é um efeito positivo.

Outro movimento muito importante na indústria ligado à sustentabilidade é a mudança da motorização. Não demonizo o motor a combustão, até porque, temos biocombustíveis que podem ser uma resposta atraente para o futuro, mas pensamos em veículos de forma que sejam cada vez mais limpos – e já existem diversas tecnologias no mercado. A Toyota, no Brasil, apostou no híbrido flex porque é uma solução de presente, e não apenas de futuro. É um veículo abastecido com etanol, com segundo motor elétrico, e polui 70% menos do que um carro de mesmo porte e a combustão.

Se pensar que nos últimos 3 anos vendemos 40 mil veículos no país, já entregamos uma solução para o presente. Esse é um exemplo de E.

Quando falamos de S, olhamos de forma cuidadosa para a diversidade, e não é um compromisso apenas da empresa, mas da indústria – cada uma na sua velocidade. Na Toyota, em 2018, tínhamos 37 mulheres na produção, e hoje somos mais de 400. Também estou no Conselho de Administração da Toyota, e acreditamos que maior diversidade contribui em melhores tomadas de decisão. E o G, claro, está focado em cumprimentos de normas, compliance, em ser exemplo nos países onde operamos. São nossos compromissos assumidos, claro, além de outras iniciativas que compartilhamos frequentemente em nossas redes sociais.

Lidiane Faria é graduada em Relações Públicas e pós-graduada em Jornalismo. Tem experiência em startups de tecnologia, consultorias e emissoras de TV e adora ouvir pessoas incríveis.