Diante dos últimos acontecimentos envolvendo grandes e prestigiadas universidades dos EUA, surge o questionamento: qual o impacto de políticas anti-imigração para as instituições de ensino e as grandes empresas do mundo todo?

Por Filipe Ducas*
De onde veio esse tal de “Head”?
O uso do título “Head” tem raízes nas estruturas organizacionais anglo-saxãs, principalmente em empresas norte-americanas e britânicas. Em ambientes corporativos mais flexíveis, especialmente fora da burocracia tradicional, “Head of [área]” passou a ser uma forma de nomear quem liderava determinada frente — sem necessariamente usar o termo “Manager”, “Director” ou “VP”, que carregam implicações formais de hierarquia e escopo.
Nas universidades, por exemplo, “Head of Department” já era um título comum para o líder acadêmico de uma área. No mundo corporativo, especialmente em startups e empresas de tecnologia, o termo ganhou força por sua ambiguidade útil: indicava uma liderança, sem amarrar exatamente a estrutura formal que viria com cargos mais tradicionais.
A definição varia. Para algumas empresas, “Head” é sinônimo de liderança funcional: alguém que responde por uma área com responsabilidade estratégica e, normalmente, com um time sob sua gestão. Para outras, é um cargo de transição: acima de gerente, mas ainda fora da diretoria executiva.
Na prática, o título “Head” passou a carregar significados diversos — dependendo do estágio da empresa, da cultura organizacional e da clareza (ou não) em relação a trilhas de carreira.
Algumas hipóteses recorrentes:
Fizemos uma análise na base da Comp, com mais de 30 mil posições mapeadas com esse título, que mostrou alguns padrões relevantes:
Ou seja, o uso do “Head” tende a estar mais associado a um estágio específico de crescimento e estruturação organizacional — onde a empresa precisa de lideranças, mas ainda está construindo a clareza formal em torno de cargos, senioridade, escopo e remuneração.
Ele pode funcionar bem em alguns contextos:
O uso indiscriminado do título pode gerar efeitos colaterais:
A resposta depende do estágio da empresa — e da intencionalidade por trás do título. O que os dados sugerem é que o “Head” tem sido usado, muitas vezes, como uma solução temporária em ambientes de rápida expansão. E isso não é um problema em si — desde que o temporário não vire permanente.
O título “Head” nasceu da tentativa de nomear lideranças fora da rigidez hierárquica tradicional. Em muitos casos, cumpre esse papel com eficiência — especialmente em contextos fluidos, dinâmicos e em formação.
Mas, como mostram os dados, seu uso tende a cair conforme a empresa amadurece. Não porque o termo em si seja ruim, mas porque o que ele representa passa a exigir mais precisão: de escopo, de impacto, de remuneração.
Em outras palavras: o título pode continuar, desde que venha acompanhado de contexto. Quando falta estrutura, é o título que assume o peso da incerteza. E aí, o que era para sinalizar liderança vira fonte de ambiguidade.
Nem toda empresa precisa abandonar o “Head”. Mas toda empresa que quer crescer com coerência precisa, em algum momento, responder: o que esse título realmente quer dizer aqui?
*Filipe Ducas. Formado em Administração, com Especialização em Recursos Humanos e MBA Internacional em Liderança e Gestão, Ducas é uma das referências brasileiras no setor de Remuneração e Benefícios, com uma carreira global e robusta. Co-fundador e Executivo Sênior de Remuneração da Comp, possui mais de 20 anos de experiência em posições de liderança em Remuneração, Operações de RH e People Analytics em gigantes como IBM, Atento, Cognizant, XP Inc. e Grupo OLX. Sua expertise é desenhar políticas e liderar projetos transformadores, com foco em utilizar tecnologia para potencializar o capital humano. Pela Comp, já foi responsável por ajudar mais de 100 empresas a construírem estratégias de remuneração que conectam a estratégia de talentos com o negócio.
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