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Como o Grupo Heineken promove felicidade no dia a dia dos colaboradores 

Há um ano e meio Lívia Azevedo assumiu a inédita diretoria de felicidade, com base em ciência e psicologia positiva. Desde então, 1.300 colaboradores são embaixadores do tema e muitas ideias de melhorias surgem em uma pesquisa quinzenal

Marina Filippe
1 de outubro de 2024
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Em 12 anos de trabalho no Grupo Heineken, Livia Azevedo sempre acreditou na psicologia positiva como chave para a felicidade dos colaboradores e melhoria dos resultados. As práticas deram tão certo que foram reconhecidas pelo CEO ao ponto de Livia se tornar diretora de felicidade do Grupo, em 2023, logo após voltar de licença maternidade. 

Desde então, a diretoria já engajou mais de 1.300 funcionários em uma formação com 30 conceitos de felicidade e utiliza essa força para replicar as ideias e práticas em toda a organização. “Essas pessoas são embaixadoras da felicidade e têm como missão de vida o impacto positivo”, diz Livia. 

A executiva entende que as práticas dão certo por meio de uma pesquisa quinzenal, atualmente respondida por 82% dos 14.000 funcionários. Além disto, percebe benefícios como maior segurança psicológica para a troca de ideias, bem-estar das pessoas e sentimento de inclusão. 

Na entrevista a seguir, Livia faz um balanço dos cerca de um ano e meio da diretoria e detalha como as pessoas estão envolvidas, propondo ideias e soluções para a jornada de felicidade, que visa a aplicação do tema na cultura em cinco ano. 

Como o Grupo Heineken entendeu que fazia sentido ter uma diretoria de felicidade?

Estou há doze anos na Heineken e passei seis anos focada nas pessoas da área de vendas e distribuição, quando fizemos coisas incríveis. Sou psicóloga de formação e sempre apresentei resultados de psicologia positiva. 

Tudo o que fazemos é com base em ciência e metodologia a partir de estudos, por exemplo, da Universidade de Harvard e de Martin Seligman, o pai da psicologia positiva. Compartilhamos com os embaixadores da felicidade – colaboradores do Grupo — informações como a necessidade de encontrar três emoções positivas para neutralizar uma negativa; a importância das relações e da intencionalidade para a felicidade.

Além disso, eu tinha bastante contato com o Mauricio Giamellaro, na época vice-presidente de vendas e hoje CEO. Ele conhecia como eu trabalhava, então foi uma construção de longo prazo. Tanto que, no fim de 2022, quando recebi o convite para assumir a diretoria, eu havia acabado de voltar de licença maternidade. A intenção do Maurício, que estudou o tema em Stanford, foi mostrar que a felicidade é um caminho para os bons negócios. 

E, claro, é mais fácil trabalhar com a liderança comprada com a importância das práticas. Quando a inclusão, o bem-estar, e a segurança psicológica são estratégias para que as pessoas se sintam bem, elas compartilham ideias e reconhecem a companhia.

O que são os embaixadores da felicidade?

Os embaixadores da felicidade são essenciais para aprimorarmos as práticas e colocar a pauta na cultura da empresa. Quando assumi o cargo, me questionava em como chegar nas pessoas, pois conhecia bem a empresa e sabia como são diferentes os ambientes e as regiões de trabalho. Com esse contexto, tive a ideia dos embaixadores para que eles ajudassem a disseminar a mensagem de que essa não é uma agenda exclusiva do RH. Quando perguntamos quem quer ser feliz, todos querem, mas ninguém sabe o que fazer para se sentir feliz. Com essa premissa, fizemos um comunicado: “Venha conhecer mais sobre a essência da felicidade”. Assim, no início de 2023, tivemos 250 inscritos na formação, fechamos o ano com 1.000 e hoje são 1.300 embaixadores que, voluntariamente, tem a missão de influenciar pessoas na construção da jornada da felicidade. Em comum, eles têm como missão de vida o impacto positivo. 

O que é preciso para se tornar um embaixador da felicidade? 

O embaixador recebe uma formação com 30 conceitos, com um consultor especialista em felicidade corporativa. A cada semana esse consultor apresenta dois conceitos para que o colaborador compreenda e tenha ideias de implementação prática na sua localidade. Nossa intenção é que cada embaixador impacte 1.000 pessoas com os conceitos aprendidos. 

Por exemplo, um deles criou a roleta da felicidade para ser usada pelos participantes de uma reunião e comentarem suas emoções positivas, pois a ciência já mostrou como reuniões que se iniciam com informações positivas têm melhores resultados e trocas mais efetivas. Hoje a roleta é um sucesso no Brasil todo. 

Outro exemplo é a Semana da Felicidade, que no ano passado foi muito mais informativa, para que os colaboradores conhecessem a intenção da nova diretoria. Já neste ano, os embaixadores aplicaram suas ideias, como rodas de conversa; entregas de latas personalizadas para reconhecimento dos colegas; atividades físicas para abordar vitalidade; entre outras ações, e o engajamento foi altíssimo. 

Como entendem que está dando certo?

De diferentes formas. Nas dinâmicas os embaixadores estimulam os colegas ao perguntar o que eles aprenderam até aquele momento e nos ajudam a entender como melhorar. Outro ponto é a nossa pesquisa da felicidade, realizada quinzenalmente. Quando começamos tínhamos 18% de respondentes entre os 14.000 colaboradores, hoje são 82%. O alto engajamento na participação já demonstra a importância do tema para eles. A maioria das empresas realiza a pesquisa de clima uma vez por ano, com foco em questões macro. Já a pesquisa da felicidade é algo focado na percepção do indivíduo, e o fato de ser quinzenal reforça como a companhia está dedicada em ouvi-los. E eles reconhecem isto positivamente. 

O que os colaboradores falam na pesquisa e nos momentos de prática?

Somente no último mês, já ouvi mais de dez pessoas afirmarem que estão aqui porque se identificam com a proposta de felicidade do Grupo Heineken. Tanto que alguns se inscrevem na jornada com apenas um mês de casa. 

Já no campo de sugestões da pesquisa recebemos comentários que levamos para o conselho e aplicamos quando possível. Por exemplo, uma pessoa pediu para adicionar um banco no fim da linha de produção para que ela pudesse se sentar ao longo do dia. No começo tentamos entender se isso era felicidade, mas para ela sim. A pesquisa nos permite olhar para questões simples que não conseguimos na de clima. 

Outra questão: com a integração da Brasil Kirin passamos a gerenciar 2 mil promotores de vendas, que ficam em supermercados – hoje são 3 mil – e não tinham nem assistência médica. Adicionamos o benefício e vamos incluir outro, em janeiro, que eles demonstraram ser importante. Também estamos revisitando horários, entre outros práticas. 

Já no Rock in Rio, que aconteceu em setembro, sorteamos 300 ingressos do pré-evento entre os 500 colaboradores da área de vendas, que passam o ano trabalhando para o evento, mas não tinham a oportunidade de estar lá pelo preço do ingresso. Foi muito legal ver que mesmo os que não foram ficaram felizes pelos outros. Foi uma forma de reconhecer o trabalho e envolvê-los no tema da felicidade. 

Considerando todo o trabalho, há um time dedicado à felicidade para além da posição de diretoria?

Há a minha posição de diretora e mais três pessoas, conectadas ao time de recursos humanos. A diretoria serve para dar tração ao tema e estar em contato com as pessoas de modo recorrente, mas toda a liderança está comprada com o tema, e há squads que ajudam a colocar as ações em prática. 

É importante dizer que temos uma estratégia de cinco anos para a construção da cultura da felicidade. Neste um ano e meio muita gente já reconhece isto, mas reforçaremos a ciência da felicidade e a segurança psicológica para que as pessoas possam ser elas mesmas. Isto traz engajamento, retenção e muitos outros benefícios.

Marina Filippe é Membro do Oxford Climate Journalism Network, mestre em Ciência da Comunicação pela USP e jornalista pela PUC-Campinas. Foi repórter ESG na EXAME por oito anos, reconhecida entre os Mais Admirados da Imprensa de Negócios e finalista dos prêmios de Jornalismo Inclusivo e Comunique-se.