Por: Luciana Faluba*

A sociedade vem evoluindo ao longo dos anos, e questões relacionadas à sustentabilidade, meio ambiente, diversidade e inclusão, entre outras, têm ganhado relevância no cenário social contemporâneo. No mundo corporativo, esses conceitos estão sendo experimentados e se desdobram de diversas formas. A importância dessa agenda é indiscutível e, para que ela evolua na perspectiva da gestão, precisa ser organizada. No bojo dessa discussão, estão outros dois conceitos importantes para a gestão dos negócios: propósito organizacional e legado do CEO.

A entrada dos nativos digitais na força de trabalho está impulsionando a organização dos princípios do negócio em torno de um propósito, uma vez que essa geração valoriza muito mais o propósito do que os seus colegas de gerações anteriores. Nesse sentido, o propósito organizacional tem ganhado relevância e surge com potencial para orientar essas pautas contemporâneas.

Uma das primeiras discussões sobre propósito foi iniciada por Jim Collins em seu livro “Feitas para Durar”, de 1994, onde ele concluiu que as empresas visionárias e longevas tinham outros objetivos para além do retorno financeiro. E que esse retorno financeiro não necessariamente era o objetivo principal. Daí para frente, o conceito evoluiu e se concretizou, na medida em que colaboradores começaram a valorizar o propósito organizacional e consumidores aumentaram suas expectativas em relação ao papel das marcas e das organizações, que supostamente devem contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Afinal, para quê mesmo servem as organizações privadas? Somente para gerar lucro para os seus acionistas?

O propósito é aspiracional, tem a ver com a razão de existir da organização, incorpora os seus valores e tem potencial para engajar consumidores e inspirar colaboradores. Ele deve funcionar como um orientador dos princípios e dos processos organizacionais e, portanto, estar refletido na operação, na marca e na reputação corporativa.

Quando o CEO incorpora o propósito organizacional em sua liderança, contribui para fortalecer e perpetuar esse propósito e constrói um legado consistente com a essência da organização. Nesse sentido, propósito organizacional e legado do CEO estão intrinsecamente ligados e se complementam. E como isso acontece? Um CEO que incorpora o propósito organizacional é capaz de articular uma visão clara e inspiradora que esteja alinhada com esse propósito e, ao liderar a realização dessa visão, contribui para o sucesso da organização e para a consolidação do seu legado.

Quando o CEO incorpora o propósito organizacional em sua liderança, contribui para fortalecer e perpetuar esse propósito e constrói um legado consistente com a essência da organização.

Para ser de fato inspirador, o propósito organizacional deve ir além da geração de lucro e incluir a missão de impactar positivamente a sociedade. O CEO, ao incorporar essa missão no direcionamento estratégico da organização, constrói um legado que contempla não apenas os resultados financeiros da organização, mas também o bem-estar da comunidade e do planeta.

Importante destacar que resultados financeiros e impacto positivo na sociedade não são abordagens mutuamente excludentes, mas sim complementares. No entanto, buscar esse equilíbrio é bastante desafiador para o CEO, uma vez que as estratégias que visam a lucratividade podem entrar em conflito com aquelas que buscam contribuir para o desenvolvimento da sociedade. 

Superar esses desafios requer liderança consistente, visão clara e compromisso com a transparência e a integridade, sem esquecer do desenvolvimento de uma cultura de inovação. Os CEOs que conseguem equilibrar lucratividade e impacto positivo na sociedade são capazes de criar valor de longo prazo para a organização, seus stakeholders e para a sociedade como um todo, além de deixar uma marca significativa na comunidade da organização em que atua.

Dessa forma, o propósito organizacional fornece a base e a inspiração para o trabalho do CEO, e o legado do CEO reflete como esse propósito foi traduzido em ações e resultados tangíveis ao longo de sua liderança. Ambos são essenciais para o sucesso sustentável da organização e para a construção de uma reputação positiva no mercado e na sociedade.

*Luciana Faluba é professora e pesquisadora na área de Estratégia e Marketing na Fundação Dom Cabral. Luciana tem PhD em Administração Estratégica e Mestrado em Administração de Marketing pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atua em programas de mestrado, pós-graduação, customizados, abertos e parcerias na FDC. Foi coordenadora técnica do Programa de Especialização em Gestão com ênfase em marketing e mercados. Atuou em empresas como a Embraer, Sicredi, Hospital Sírio Libanês, Algar, entre outras. Possui experiência de mais de 20 anos nas áreas de estratégia e planejamento de mercado como consultora e executiva. É autora do livro Desafios da Gestão Estratégica em Serviços de Saúde, pelo Campus Elsevier e autora de artigos em revistas especializadas e em anais de congressos sobre os temas: inteligência de mercado, marketing nas relações B2B, estratégias de marketing como diferencial competitivo, e gestão em saúde.