Busque por temas

Em alta

Como fazer o RH e o financeiro falarem a mesma língua

Como fazer o RH e o financeiro falarem a mesma língua

Em evento, diretora de RH da Nokia no Brasil e CFO da Caju mostraram como a construção de parcerias pode auxiliar tanto o caixa quanto o impacto humano nas empresas; colaboração, métricas e criação de relações de confiança são chave, dizem executivos

O Brasil envelhecido precisa olhar pra grisalha Singapura

Enquanto Singapura investe em requalificar seus profissionais mais velhos, o Brasil ainda precisa decidir o que fazer com seu envelhecimento acelerado

Raul Juste Lores
14 de outubro de 2025
Leia emminutos
Voltar ao topo

Muito antes dos temores globais de que a Inteligência Artificial apagaria do mapa milhões de empregos, Singapura começou a patrocinar o treinamento de seus trabalhadores para profissões que são muito necessárias (e nada digitais).

O motivo não era a IA, mas, sim, o envelhecimento da população. Um país desenvolvido e tão tecnológico percebeu que muita gente com mais de 50 anos já tinha virado desempregado crônico. Com formação e currículo de ontem.

Cursos técnicos estão abertos e pululando na ilha. Já existe a Academia Nacional Prateada (eu prefiro “grisalha”, que é como chamamos quem está com o cabelo “silver”), que fornece cursos para cuidadores de idosos, enfermagem, meditação e saúde mental, reciclagem e para quem quiser preparar os melhores chás.Mas também há cursos de mobilidade, fisio e bem-estar para quem tem mais de 70 anos.

A Enterprise Singapore, misto de agência estatal de desenvolvimento e empreendedorismo com o Sebrae e Apex, quer que o país vire uma potência na economia grisalha. Que surjam no país as maiores empresas de telemedicina, suplementos para a terceira idade, moradia-sênior e uma longa lista.  Tem até startup com alimentação desenhada para quem tem dificuldade de engolir comidas sólidas.

Em 2030, Singapura terá um quarto de sua população acima dos 65 anos. Número bem próximo de Santos, no litoral de São Paulo, ou do bairro de Copacabana, no Rio. Mas eles também acham que essa população vai chegar facilmente aos 100. E cada vez com mais saúde.

Já o Ministério da Força de Trabalho de Singapura tem dado bolsas para cursos de especialização para quem tem mais de 40 anos e quer mudar de carreira. Seja porque a carreira está em vias de desaparecimento, ou porque nunca é tarde para alguém escolher uma profissão com mais paixão.

O programa Skills Future paga até 90% do custo de cursos com até dois anos de duração. No país de pouco mais de seis milhões de habitantes, muitas profissões estavam em falta: especialistas em hotelaria e chefs; mecânicos de aviões; profissionais de saúde. Várias empresas são mentoras e patrocinadoras desses programas governamentais. Não tem firma de headhunting que encontre tanta gente interessada em começar de novo.

Singapura deixou de ser um vilarejo portuário da Malásia para virar uma cidade-Estado independente, polo logístico e financeiro há algumas décadas. Mas neste século 21, também decidiu variar as cestas onde deposita os seus ovos. Virou potência turística e de entretenimento, virou hub aeroportuário e de serviços.

Permitiu cassinos, atraiu de Fórmula-1 a Abertos de Tênis, entrou no circuito de grandes shows e virou terra de pesquisa e desenvolvimento de biologia, de arquitetura verde, de purificação da água. O país que dependia de importar toda sua água da vizinha Malásia hoje consegue filtrar até seu esgoto e transformá-lo em água potável.

O Brasil não poderia ser mais diferente de Singapura, do tamanho à sua mistura étnica. Mas há dois pontos em comum. Singapura é tão quente quanto Cuiabá e tão úmida quanto Manaus. O calor não impediu que prosperasse. 

Mas o que mais nos aproxima deles é o envelhecimento acelerado. Quase 16% dos brasileiros já têm mais de 60 anos, segundo dados do Censo de 2022. São 32 milhões de brasileiros (eram apenas 20 milhões em 2010). Esse crescimento de 56% em uma década não deve ser alterado. 

A natalidade brasileira está em seu menor patamar histórico (1,55 por mulher). A de Singapura é menor ainda, de 1 filho por mulher. Mas lá eles recebem uma imigração bem maior proporcionalmente que o Brasil. Poderíamos aprender com o exemplo e nos adiantar aos futuros gargalos de um Brasil mais grisalho.

Raul Juste Lores é jornalista e escritor. É autor do livro “São Paulo nas Alturas”, colunista do UOL e criador do canal São Paulo nas Alturas, que já superou a marca de 20 milhões de visualizações no Youtube.